domingo, 25 de junho de 2017

Isaque & Cristo

Isaque & Cristo 


Iniciamos aqui mais de um de nossos estudos. Que o Senhor Jesus possa nos iluminar e que a igreja possa ser edificada através dele.

Não temos a pretensão de esgotar aqui todo o assunto, que é muito vasto, mas tão somente destacar alguns pontos desta maravilhosa figura de Cristo que nos é transmitida através destes capítulos de Gênesis pela figura de Isaque. O nosso estudo abrangerá os capítulos 21 a 24 do livro de Gênesis.

No capítulo 12 de Gênesis Deus promete a Abraão uma descendência mui numerosa (Gênesis 12:2-3,7). Isaque é o filho da Promessa.

Também em Gênesis 3:15, Deus promete um descendente. Adão foi o primeiro homem, homem carnal, Cristo o segundo (o último), o homem espiritual (1 Coríntios 15:45-46).

Ismael foi o primeiro, foi o fruto da carne, o segundo foi Isaque, fruto do poder de Deus, da intervenção do Espírito Santo (Gênesis 16:1-4,15-16; 17:16-17). Sara era estéril e de idade avançada, bem como Abraão já não tinha o vigor de sua força, então Deus pode agir e trazer Isaque à existência. Podemos dizer, figuradamente que Isaque só veio a existir pela intervenção do Espírito Santo. Assim também como Jesus nasceu pela intervenção do Espírito Santo. (Mateus 1:18; Lucas 1:28-32).

Visitou o SENHOR a Sara, como lhe dissera, e o SENHOR cumpriu o que lhe havia prometido. Sara concebeu e deu à luz um filho a Abraão na sua velhice, no tempo determinado, de que Deus lhe falara. Ao filho que lhe nasceu, que Sara lhe dera à luz, pôs Abraão o nome de Isaque. Abraão circuncidou a seu filho Isaque, quando este era de oito dias, segundo Deus lhe havia ordenado. (Genesis 21:1-4 RA).

Assim como Isaque, Jesus foi circuncidado ao oitavo dia. Vendo Sara que o filho de Agar, a egípcia, o qual ela dera à luz a Abraão, caçoava de Isaque, disse a Abraão: Rejeita essa escrava e seu filho; porque o filho dessa escrava não será herdeiro com Isaque, meu filho. Pareceu isso mui penoso aos olhos de Abraão, por causa de seu filho. Disse, porém, Deus a Abraão: Não te pareça isso mal por causa do moço e por causa da tua serva; atende a Sara em tudo o que ela te disser; porque por Isaque será chamada a tua descendência. Mas também do filho da serva farei uma grande nação, por ser ele teu descendente. (Gênesis 21:9-13 RA) Isaque foi rejeitado por seu irmão e era motivo de escárnio para ele. Cristo também foi rejeitado pelos seus, sendo motivo de escárnio e zombaria (Lucas 4:24; 9:22; João 1:11; 8:39-48).

Entretanto, Deus não abandonou Ismael, assim como também não abandonou o Seu povo. Apesar de ter sido penoso para Abraão despedir Ismael, era necessário fazê-lo. Assim também como Deus, apesar do seu apreço pelo povo, deixou por algum tempo Seu povo, para cuidar da Igreja. Mas Ele não rejeitou definitivamente Seu povo. (Romanos 11:25-32).

Mas também do filho da serva farei uma grande nação, por ser ele teu descendente. (Genesis 21:13 RA). Vemos agora, em Gênesis 22 que Deus pede a Abraão que sacrifique seu único filho em holocausto.

Deus quer provar o amor de Abraão, pedindo-lhe o que lhe era mais precioso, seu filho.

Depois dessas coisas, pôs Deus Abraão à prova e lhe disse: Abraão! Este lhe respondeu: Eis-me aqui! Acrescentou Deus: Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece -o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei. Levantou-se, pois, Abraão de madrugada e, tendo preparado o seu jumento, tomou consigo dois dos seus servos e a Isaque, seu filho; rachou lenha para o holocausto e foi para o lugar que Deus lhe havia indicado. (Genesis 22:1-3 RA).

Deus, hoje quer o nosso amor e às vezes nos pede que Lhe sacrifiquemos aquilo que mais amamos. Ele permite que sejamos provados, mas conhece as nossas fraquezas e não permitirá que sejamos provados além do que podemos suportar. (1 Coríntios 10:13).

Mas Deus nos mostra Seu infinito amor, sacrificando Seu único Filho na cruz do Calvário.

Abraão não lhe negou o filho, assim como Deus também não poupou Seu próprio Filho, oferecendo-O por nós como sacrifício.(Romanos 8:32).

Mas Deus não deixou Seu Filho na morte e ao terceiro dia O ressuscitou (Lucas 9:22; 24:1-8) Abraão ofereceu a Isaque, colocando sobre ele a lenha para o holocausto.

Figurativamente a lenha representa os nossos pecados, os quais Cristo carregou sobre Si; representa também a própria cruz que o Senhor Jesus suportou por nós.

Figuradamente, Abraão também abandonou Isaque, por isso, Isaque vendo que tudo estava preparado para o holocausto e não vendo a oferta para o sacrifício, perguntou-lhe sobre a mesma a Abraão. Abraão, então, lhe respondeu que Deus proveria para si um cordeiro para o holocausto. “No terceiro dia”, Deus, em figura, recobrou Isaque dos mortos.

Nosso Deus é infinitamente misericordioso. Ele provê Seu Filho como sacrifício por nós. Para Isaque havia um cordeiro para o holocausto. Para nós Deus também providenciou um Cordeiro; mas para Seu Filho não houve um, pois Ele era o próprio Cordeiro. Que amor singular! Que amor incompreensível é o amor de Deus. Quem nos dera tivéssemos uma fagulha desse amor! Então, disse a seus servos: Esperai aqui, com o jumento; eu e o rapaz iremos até lá e, havendo adorado, voltaremos para junto de vós. Tomou Abraão a lenha do holocausto e a colocou sobre Isaque, seu filho; ele, porém, levava nas mãos o fogo e o cutelo. Assim, caminhavam ambos juntos. Quando Isaque disse a Abraão, seu pai: Meu pai! Respondeu Abraão: Eis-me aqui, meu filho! Perguntou-lhe Isaque: Eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?

Respondeu Abraão: Deus proverá para si, meu filho, o cordeiro para o holocausto; e seguiam ambos juntos. Chegaram ao lugar que Deus lhe havia designado; ali edificou Abraão um altar, sobre ele dispôs a lenha, amarrou Isaque, seu filho, e o deitou no altar, em cima da lenha; e, estendendo a mão, tomou o cutelo para imolar o filho. Mas do céu lhe bradou o Anjo do SENHOR: Abraão! Abraão! Ele respondeu: Eis-me aqui! Então, lhe disse: Não estendas a mão sobre o rapaz e nada lhe faças; pois agora sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu único filho. Tendo Abraão erguido os olhos, viu atrás de si um carneiro preso pelos chifres entre os arbustos; tomou Abraão o carneiro e o ofereceu em holocausto, em lugar de seu filho. E pôs Abraão por nome àquele lugar--O SENHOR Proverá. Daí dizer-se até ao dia de hoje: No monte do SENHOR se proverá. Então, do céu bradou pela segunda vez o Anjo do SENHOR a Abraão e disse: Jurei, por mim mesmo, diz o SENHOR, porquanto fizeste isso e não me negaste o teu único filho, que deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia na praia do mar; a tua descendência possuirá a cidade dos seus inimigos, nela serão benditas todas as nações da terra, porquanto obedeceste à minha voz. (Genesis 22:5-18 RA). Agora passemos a segunda parte de nosso estudo. O povo do qual Cristo descendia, Israel, é posto de lado. Isso é figurativamente representado em Gênesis 23 pela morte de Sara.

Essa separação era necessária para que se buscasse uma noiva para Isaque. Era necessário que Cristo morresse para que a igreja, Sua Noiva, fosse gerada.

Tendo Sara vivido cento e vinte e sete anos, morreu em Quiriate-Arba, que é Hebrom, na terra de Canaã; veio Abraão lamentar Sara e chorar por ela. (Genesis 23:1-2 RA). Abraão manda seu servo (Eliezer) buscar uma mulher para Isaque.

O Servo (figura do Espírito Santo) busca uma Esposa para Isaque.

No capítulo 22 Isaque é oferecido, no capítulo 23 Sara é posta de lado e no capítulo 24 o servo é enviado em busca da noiva aquele que foi, com efeito, em figura, recobrado dos mortos.

Este acontecimento coincide com os que deram origem à Igreja.

O chamado da Igreja.

Quando nos voltamos para o Novo Testamento os grandes acontecimentos que chamam a nossa atenção são, em primeiro lugar, a rejeição e morte de Cristo; em segundo lugar, Israel é posto de lado; e, por último, dá-se a chamada da igreja para ocupar a elevada posição de noiva do Cordeiro.

Ora tudo isto corresponde exatamente com este e os dois capítulos precedentes. A morte de Cristo necessitava ser um fato consumado, antes que a igreja, propriamente dita, pudesse ser chamada.

Pode perguntar-se se devemos encarar esta parte interessante da Escritura Sagrada como figura da chamada da igreja pelo Espírito Santo. Quanto a mim, sinto-me feliz por tratar apenas como ilustração gloriosa dessa obra. Não podemos supor que o Espírito de Deus ocupasse um capítulo todo simplesmente com os pormenores de uma família, se essa família não fosse uma exemplificação de alguma grande verdade.

“Porque tudo o que dantes foi escrito para o nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança”. (Romanos 15:4). Isto é enfático. Portanto, o que devemos aprender com esse capítulo? Creio que nos dá uma linda ilustração do grande mistério da igreja. É importante vermos que, ao mesmo tempo em que não há revelação direta deste mistério no Antigo Testamento, há, todavia, cenas e circunstâncias as quais manifestam de maneira notável. Como, por exemplo, este capítulo.

Como já foi observado, tendo o filho sido oferecido, em figura, e recobrado de entre os mortos, e o tronco do qual havia saído este filho posto de lado, Sara, o mensageiro é enviado pelo pai para procurar uma noiva para o filho. Uma esposa para o Filho.

Para compreensão de todo o capítulo, devemos considerar os seguintes pontos: 1 – o pacto; 2 – o testemunho; 3 – os resultados. É maravilhoso notarmos como a chamada e exaltação de Rebeca foram fundadas sobre o pacto entre Abraão e seu servo. Ela não sabia nada a esse respeito, embora fosse, nos desígnios de Deus, o objetivo de tudo isso. Assim é com a igreja de Deus como um todo, e cada parte constituinte: “... no teu livro todas coisas foram escritas, as quais iam sendo dia a dia formuladas, quando nem ainda uma delas havia”. (Salmo 139:16) Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo, como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fossemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor. (Efésios 1:3, 4) “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também justificou, e aos que justificou, a esses também glorificou”. (Romanos 8:29-30) Estas passagens estão todas em harmonia com o assunto que passamos imediatamente a considerar. A chamada, a justificação, e a glória da igreja são fundadas no propósito eterno de Deus – a Sua Palavra e juramento retificados pela morte, ressurreição e exaltação de Seu Filho. Muito antes, antes do raiar do tempo, nos profundos recessos da mente eterna de Deus, acha-se este maravilhoso propósito a respeito da igreja, a qual não pode, de nenhum modo, ser separado do pensamento divino quanto a glória do Filho.

O juramento entre Abraão e o servo tinha como seu objetivo a procura de uma noiva para o filho. Foi o desejo do pai acerca do filho que levou toda a dignidade posterior a Rebeca.

É agradável vermos isto. A segurança e a benção da igreja estão inseparavelmente ligadas com Cristo e a Sua glória. “Porque o varão não provém da mulher, mas a mulher do varão. Porque também o varão não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do varão”. (1 Coríntios 11:8-9). O mesmo acontece com a parábola das bodas: “o reino dos céus é semelhante a um certo rei que celebrou as bodas de seu filho”. (Mateus 22:2). O filho é o grande objeto de todos os desígnios de Deus, e se alguém é trazido para a benção, ou glória, ou dignidade, só pode ser por ligação com Ele. O direito a estas coisas, e até mesmo à própria vida, foi perdido pelo pecado; porém Cristo cumpriu a pena do pecado; Ele responsabilizou-Se por tudo a favor do Seu Corpo, a igreja: foi pregado na cruz como nosso substituto, levou os nossos pecados no Seu corpo sobre a cruz, e baixou à sepultura sob o peso deles. Por isso, nada pode ser mais completo que a libertação da igreja de tudo que era contra ela. Ela é vivificada da sepultura de Cristo, onde todos os seus pecados foram deixados. A vida que ela tem é uma vida tomada do outro lado da morte, depois de todas as exigências possíveis terem sido satisfeitas. Por isso, esta vida é ligada e fundada sobre a justiça divina, tanto mais que o direito de Cristo à vida é baseado sobre o fato de ter esgotado inteiramente o poder da morte; e Ele é a vida da igreja. Desta maneira a igreja goza da vida divina; ela encontra-se em justiça divina; e a esperança que anima é a esperança da justiça. Ver: João 3:16, 36; 5:39, 40; 6:27, 40, 47,68; 11:25; 17:2; Romanos 5:21; 6:23; 1 Timóteo 1:16; 1 João 2:25; 5:20; Judas 21; Efésios 2:1-6, 14-15; Colossenses 1:12-22; 2:10-15; Romanos 1:17; 3:21-26; 4:5, 23,25; 2 Coríntios 5:21; Gálatas 5:5.

A Igreja, o complemento de Cristo.

Estas passagens estabelecem plenamente os três pontos seguintes: a vida, a justiça e a esperança da igreja, todos os quais emanam do fato de ele ser um com Aquele que ressuscitou dentre os mortos. Ora nada pode dar tanta segurança ao coração como a convicção que a existência da igreja é essencial para a glória de Cristo “... a mulher é a glória do varão” (1 Coríntios 11:7). Outro tanto, a igreja é chamada “a plenitude daquele que cumpre tudo em todos”. (Efésios 1:23).

Esta última expressão é notável. A palavra traduzida “plenitude” quer dizer o complemento, aquilo que, sendo acrescentado alguma coisa mais, faz um todo. É assim que Cristo, a Cabeça, e a igreja, o corpo, formam “um novo homem” (Efésios 2:15). Encarando o assunto sob o ponto de vista não é de admirar que a igreja tivesse sido o objeto dos pensamentos eternos de Deus. Quando a contemplamos como o corpo, a noiva, a companheira, a outra metade do Seu Filho unigênito, vemos que houve, pela graça, uma razão maravilhosa para Deus ter pensado assim nela antes da fundação do mundo.

Rebeca era necessária para Isaque e, portanto, ela era o assunto do conselho secreto, enquanto estava ainda em absoluta ignorância quanto ao seu destino.

Todo o pensamento de Abraão era acerca de Isaque. “Põe agora tua mão debaixo da minha coxa para que eu te faça jurar pelo SENHOR, Deus dos céus e Deus da terra, que não tomarás para meu filho mulher das filhas dos cananeus, no meio das quais habito”. Aqui vemos que o ponto importante era: mulher para meu filho. “Não é bom que o homem esteja só”. Isto revela uma profunda e bem-aventurança da visão da igreja. Nos desígnios de Deus ela é necessária para Cristo; e na obra consumadora de Cristo foi feita provisão divina para sua chamada à sua existência. A ocupação com esta verdade de lado a questão de saber se Deus pode salvar pobres pecadores; Deus quer “realizar as bodas de Seu Filho”; e a igreja é a noiva escolhida – ela é o objeto do propósito do Pai, o objeto do amor do Filho e do testemunho do Espírito Santo. Ela vai ser participante de toda a dignidade e glória do Filho, assim como é participante de todo amor que Ele tem sido objeto eterno. Escutai Suas Palavras: “E Eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim e que tens amado a eles como me tens amado a mim” (João 17:22-23).

Isso resolve toda a questão. As palavras que acabo de reproduzir dão-nos os pensamentos do coração de Cristo a respeito da igreja. Ela está destinada a ser como Ele é, e não somente isto, mas ela o é agora; como diz o apóstolo João:

“Nisto é perfeito o amor para conosco, para que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual Ele é, somos também neste mundo” (1 João 4:17). Isto dá plena confiança á alma “... no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo” (1 João 5:20).
Não existe aqui fundamento para incerteza. Tudo está seguro para a noiva no Noivo. Tudo o que pertencia a Isaque ficou sendo de Rebeca, porque Isaque era dela; e do mesmo modo tudo que é de Cristo é facultado à igreja: “... tudo é vosso; seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro, tudo é vosso, e vós, de Cristo, e Cristo de Deus” (1 Coríntios 3:21-23).

Cristo é o Cabeça da igreja sobre todas as coisas (Efésios 1:22). Será Seu gozo, em toda a eternidade, exibir a igreja na glória e beleza será apenas o Seu reflexo. Os anjos e os principados verão na igreja a manifestação maravilhosa da sabedoria, do poder e da graça de Deus em Cristo. O Testemunho do Espírito Santo.

Mas consideremos agora o segundo ponto, a saber, o testemunho. O Servo de Abraão levou consigo um grande testemunho: “Então disse: Eu sou o servo de Abraão. O SENHOR abençoou muito meu senhor, de maneira que foi engrandecido, e deu-lhe ovelhas e vacas, e prata e ouro, e servos e servas, e camelos e jumentos. E Sara, a mulher de meu senhor, gerou um filho a meu senhor depois de sua velhice; e ele deu-lhe tudo o quanto tem”. (vs. 34 a 36). O servo revela o pai e o filho.

Tal é o seu testemunho: fala da abundância de meios do pai, e de o filho ter sido dotado com todos estes bens em virtude de ser “unigênito” e objeto do amor do pai. Com este testemunho ele procura conseguir uma noiva para o filho.

Tudo isto, desnecessário se torna acentuá-lo, é elucidativo do testemunho com que o Espírito Santo foi enviado do céu no dia de Pentecostes. “Mas, quando vier o Consolador, que Eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito da verdade, que procede do Pai, testificará de mim” (João 15:26). E “Mas, quando vier aquele Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade, porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso, vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (João 16:13-15). A coincidência destas palavras com o testemunho do servo de Abraão é instrutiva e interessante. Foi falando de Isaque que o servo procurou atrair o coração de Rebeca, e é, como sabemos, falando de Jesus que o Espírito Santo procura afastar os pobres pecadores do mundo e do pecado e loucura para a bem-aventurada e santa unidade do Corpo de Cristo. “Ele... há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar”. O Espírito de Deus nunca guiará alguém para olhar para si ou para o seu trabalho, mas só e sempre para Cristo. Por isso, quanto mais espiritual se é, mais se estará ocupado com Cristo.

Alguns consideram uma prova de espiritualidade estarem sempre ocupados com seus corações e ocupando-se com o que neles encontram, embora isso seja obra do Espírito. Mas isto é um grande erro. Longe de ser uma prova de espiritualidade, é uma prova do contrário, pois está dito expressamente do Espírito Santo que “Ele há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar”. Portanto, sempre que alguém está olhando no intimo e edificando sobre a evidencia da operação do Espírito nele, pode estar certo de que não é guiado pelo Espírito de Deus nisso. É apegando-se a Cristo que o Espírito atrai almas a Deus. Isto é muito importante. O conhecimento de Cristo é vida eterna; e é a revelação que o Pai faz de Cristo, por intermédio do Espírito Santo, que constitui a base da igreja. Quando Pedro confessou Cristo como Filho de Deus vivo, a resposta de Cristo foi: “Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16:17-18).

Que pedra? Pedro? Longe disso. “Esta pedra” quer dizer simplesmente a revelação do Pai acerca de Cristo, como o Filho de Deus vivo – o único meio mediante o qual alguém é agregado a Assembléia de Cristo. Ora isto abre-nos o verdadeiro caráter do evangelho. É uma revelação por excelência – uma revelação não apenas de uma doutrina, mas de uma Pessoa, - a Pessoa do Filho.

Esta revelação, sendo recebida pela fé, atrai o coração para Cristo, e torna-se a origem de vida e poder – o terreno de confraternidade; o poder de comunhão, “Quando aprouve Deus... revelar seu Filho em mim”. (Gálatas 1:15-16). Aqui temos o verdadeiro princípio da “pedra”, a saber, Deus revelando Seu Filho. É desta maneira que a superestrutura é levantada; e repousa sobre este fundamento sólido, segundo o propósito eterno de Deus.

O Servo fala de Isaque.

É, portanto, especialmente instrutivo encontrar neste capítulo 24 de Gênesis uma tão notável figura da missão e do testemunho especial do Espírito Santo. O servo de Abraão, buscando uma noiva para Isaque, mostra toda a dignidade e riqueza com que o pai o havia dotado; o amor de que ele era alvo; e, em suma, tudo que era calculado para enternecer o coração e afastá-lo das coisas temporais. Ele mostrou a Rebeca um objetivo a distancia, e pôs diante dela a bem-aventurança de ser tornada em um com aquele ente amado e altamente favorecido. Tudo o que pertencia a Isaque viria também a pertencer a Rebeca, quando ela se tornasse parte dele. Este foi o testemunho. Este é, também, o testemunho do Espírito Santo. Ele fala de Cristo, da glória de Cristo, da beleza de Cristo, da plenitude de Cristo, da graça de Cristo, ”das riquezas incomensuráveis de Cristo”, da dignidade de Sua Pessoa e da perfeição de Sua obra. Além disso, Ele enfoca a bem-aventurança espantosa de sermos um com Cristo, “membros de Seu corpo, da Sua carne, e dos Seus ossos”. Tal é o testemunho do Espírito; e nele temos a pedra de toque por meio da qual podemos provar todas as espécies de ensino e pregação.

O ensino mais espiritual será sempre caracterizado por completa e constante apresentação de Cristo: Ele será sempre o motivo de tal ensino. O Espírito não pode fixar a atenção em coisa alguma senão Jesus. Deleita-Se em falar d’Ele. Compraz-Se em mostrar Seus atrativos e Suas perfeições. Por isso, quando alguém fala do poder do Espírito de Deus haverá sempre mais de Cristo do que qualquer outra coisa no seu ministério. Numa tal pregação haverá pouco lugar para lógica ou razão. Estas coisas podem ser muito boas quando alguém deseja mostrar-se; porém o único objetivo do Espírito – note bem os que exercem ministério – será sempre o de revelar Cristo. Rebeca vai ao encontro do Esposo.

Pensemos, agora, por último, nos resultados de tudo isto. A verdade e a aplicação prática da verdade são duas coisas muito diferentes.

Uma coisa é falar das glórias da igreja, e outra inteiramente diferente é ser praticamente influenciado por essas glórias. No caso de Rebeca o efeito foi notável e decisivo. O testemunho do servo de Abraão ecoou aos seus ouvidos e penetrou fundo no seu coração e desligou inteiramente as afeições de seu coração das coisas que a rodeavam. Estava pronta a deixar tudo e abalar, a fim de conhecer tudo que lhe havia sido contado. Era normalmente impossível que ela pudesse ser o alvo de um tão elevado destino e continuasse, todavia, no meio das circunstâncias da natureza. Se aquilo que lhe era dito quanto ao futuro era verdadeiro, prender-se com o presente seria a pior de todas as loucuras. Se a esperança de ser a esposa de Isaque, co-herdeira com ele de toda a sua dignidade e glória, era uma realidade, continuar a apascentar as ovelhas de Labão equivaleria a desprezar tudo quanto Deus, em graça, havia posto diante de si. Mas não, as perspectivas eram brilhantes demais para serem desprezadas – verdade é que ela ainda não havia visto Isaque, nem a herança, mas acreditou no testemunho dado a seu respeito, e recebeu, com efeito, o penhor desse testemunho; e estas duas coisas eram suficientes para o seu coração; e por isso ela levantou-se sem hesitação e mostrou o seu desembaraço em partir na sua decisão memorável: “irei”. Ela estava inteiramente pronta a fazer uma jornada desconhecida na companhia de um que lhe havia falado de um objeto distante e de glória ligada com ele, a qual ela estava prestes a ser elevada. “Irei”, disse ela, e, esquecendo as coisas que para trás ficavam, e avançando para as que estavam adiante dela, prosseguiu... pelo prêmio da vocação de Deus (Filipenses 3:13-14). Exemplificação bela e tocante esta da igreja sob a condução do Espírito Santo de viagem para ir de encontro do Noivo celestial. Isto é o que a igreja deveria ser; mas, infelizmente, existe um triste fracasso nisto. Há muito pouco daquela alegria santa em pôr de lado todo o peso e embaraço no poder da comunhão com o Guia Santo e Companheiro do nosso caminho, cuja missão e deleite é receber do que é e de trazer-nos saber, precisamente como o servo de Abraão recebeu as coisas de Isaque e deu-as a Rebeca. Sem dúvida, ele achou gozo em lhe dar mais pormenores acerca do filho de seu senhor, à medida que avançavam para o cumprimento de toda sua alegria e glória. É assim, pelo menos, com o nosso guia e companheiro celestial. Ele deleita-Se em falar de Jesus, “Ele... há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” e, “vos anunciará o que há de vir”. (João 16:13-14).

É isto precisamente que nós necessitamos, este ministério do Espírito Santo de Deus, mostrando Cristo às nossas almas, produzindo em nós o desejo ardente de O ver como Ele é, e sermos semelhante a Ele para sempre. Nada senão isto jamais desligará os nossos corações da terra e da natureza. O quê, a não ser a esperança de se ligar a Isaque, poderia ter levado Rebeca a dizer “irei”, quando seu irmão e mãe disseram “fique a donzela conosco alguns dias, ou pelo menos dez dias?”. Assim é conosco: nada, senão a esperança de vermos Jesus como Ele é, e de sermos semelhante a Ele, nos poderá habilitar ou levar a purificarmo-nos a nós próprios, assim como Ele é puro (1 João 3:3). A nome Rebeca quer dizer “laços de corda”, e a corda serve para amarrar o jumentinho a videira.

Ele amarrará o seu jumentinho à vide e o filho da sua jumenta, à videira mais excelente; lavará as suas vestes no vinho e a sua capa, em sangue de uvas. (Genesis 49:11 RA). A igreja é a corda que nos prende a Cristo. Deixemo-nos amarrar nessa videira, deixemos que nossas vestes sejam lavadas no sangue do Cordeiro.

É tempo de nos ataviarmos para as bodas do Cordeiro. Maranata! Ora vem Senhor Jesus!

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