“Ainda este ano”
“…deixa-a ainda este ano” Lucas13:8 (ARA)
No inicio de outro ano, e no começo de outro volume de sermões, desejamos com toda sinceridade expressar uma palavra de exortação: mas, ah, nesse momento, o pregador é um prisioneiro, e deve falar da sua cama em vez de fazer-lo desde seu púlpito. Não permitam que as poucas palavras que um homem enfermo possa expressar lhes cheguem com um diminuto poder, pois o fuzil disparado por um soldado ferido dispara a bala com a mesma força. Nosso desejo é falar com palavras vivas, ou não falar nada. Suplicamos ao Senhor que nos habilite para sentarmos e compor essas trêmulas frases, que as vistas com Seu Espírito, para que sejam frases que vão de acordo com Sua própria mente.
O vinhateiro intercessor suplicou pela figueira estéril: “deixa-a ainda este ano,” pedindo o prazo de um ano, por assim dizer, a partir do momento em que falou isso. As árvores e as plantas que dão fruto têm uma medida natural para suas vidas – evidentemente, um ano tinha transcorrido quando chegou o tempo de buscar fruto na figueira, e outro ano começava quando o vinhateiro começou de novo sua obra de cavar e podar.
Os homens são seres tão estéreis, que sua produção de frutos não marca épocas certas, e se faz necessário estabelecer para eles divisões artificiais de tempo – não parece que havia tido um período definido para colheita ou para a vindima espirituais, ou se tivesse, os feixes e os cachos não brotam na sua estação, e por isso, temos que dizer uns dos outros: “esse será o começo de um novo ano.”
Então, que assim seja. Congratulemos-nos uns aos outros por ver a alvorada de “ainda esse ano”, e oremos juntos para que possamos entrar nele, e continuar nele, e chegar a sua conclusão, debaixo da perene benção do Senhor a quem pertence todos os anos.
I. O começo de um ano novo SUGERE UMA RETROSPECTIVA. Olhemos resoluta e honestamente. “Ainda este ano” – então houve anos anteriores de graça. O vinhador não estava consciente pela primeira vez da falha da figueira, nem o dono da figueira tinha vindo pela primeira vez buscando figos em vão.
Deus, que nos dá “ainda esse ano”, nos tem dado outros anos previamente. Sua paciente misericórdia não é uma novidade. Sua paciência já foi posta a aprova por nossas provocações. Primeiro, vieram nossos anos juvenis, quando, inclusive, um pequeno fruto para Deus é peculiarmente agradável a Ele. Como o passamos? Acumulou-se toda nossa força na casca silvestre e no cacho deixado como resto? Se for assim, bem podemos deplorar esse vigor desperdiçado, essa vida mal gasta, esse assombroso pecado multiplicado. Quem nos viu usar indevidamente daqueles meses de ouro da juventude, nos proporciona “ainda esse ano”, e temos de entra nele com um santo zelo, para que a força e o ardor que nos sobraram não corram os mesmos caminhos de desperdício como em anos anteriores.
Seguindo os calcanhares de nossos anos juvenis, vieram os anos correspondentes a maturidade, quando começamos a forma um lar, e nos convertemos como uma árvore plantada em seu lugar – também ai o fruto teria sido precioso. Produzimos algum fruto? Presenteamos o Senhor com um cesta de frutos de verão: Oferecemos a Ele as primícias de nossa força? Se o fizemos assim, bem podemos adorar a graça que nos salvou, tão cedo – mas, se não foi assim, o passado nos repreende, e, levantando um dedo acusador, nos adverte que não permitamos que “ainda esse ano” siga o caminho do resto de nossas vidas.
Aquele que tiver desperdiçado a juventude e a manha da madures, dedicou tempo suficiente à insensatez – o tempo passado deveria lhe bastar para ter cumprido a vontade da carne: seria um excesso de iniquidade permitir que ” ainda esse ano” seja espezinhado no serviço do pecado.
Muitos de nós nos encontramos na flor da idade, e os anos que já vivemos não são poucos. Ainda necessitamos confessar que nossos anos são comidos pelo gafanhoto e pelo pulgão? Acaso já tivemos que recorrer a algum centro de reabilitação, e ainda não sabemos aonde vamos? Somos ainda néscios a idade de quarenta anos? Temos cinquenta, de acordo ao calendário, no entanto, nos encontramos a grande distância do critério? Ai, grandioso Deus, que haja homens que passem essa idade e que ainda não tenham conhecimento! Não são salvos aos sessenta, não são regenerados aos setenta, não foram despertados aos oitenta, não são renovados aos noventas! Todas e cada uma dessas considerações são muito alarmantes. No entanto, porventura, cada uma cairá em ouvidos que não poderão deixar de formigar, ainda que as ouçam como se não as tivessem escutado. A continuidade no mal gera dureza de coração, e quando a alma esteve dormindo por largo tempo na indiferença, é difícil desperta-la do estupor mortal.
O som das palavras “ainda esse ano”, nos faz lembrar, a alguns de nós, dos anos de grande misericórdia, brilhantes e resplandecentes de deleite. Esses anos foram colocados aos pés do Senhor? Foram comparáveis às campainhas de prata dos cavalos: foram de “Santidade a Jeová”? Se não foram, como responderemos por eles se “ainda esse ano” deveriam ser musicais com jubilosa misericórdia, e, no entanto, os desperdiçamos nos caminhos do abandono?
As mesmas palavras nos recordam, a alguns de nós, nossos anos de severa aflição, quando, verdadeiramente cavavam em nossa volta e nos adubavam. Como passaram esses anos? Deus estava fazendo grandes coisas para conosco, exercendo uma lavoura cuidadosa e custosa, cuidando de nós com um cuidado sumamente grande e sábio. Produzimos de acordo com o benefício recebido? Levantamos-nos da cama sendo mais pacientes e mansos, odiados do mundo, e unicamente unidos a Cristo? Produzimos cachos de fruto para recompensar o vinhador da vinha?
Não recosemos essas perguntas de auto-exame, pois poderá ser que isso resulte ser outro desses anos de cativeiro, outra estação de forno e de crisol. Que o Senhor nos conceda que a tribulação futura nos livre de mais palha que qualquer doutro desses anos anteriores, e deixe o trigo mais limpo e em melhores condições.
O novo ano também nos lembra das oportunidades de utilidade, que chegaram e se foram, e de resoluções não cumpridas, que floresceram só para murcharem – será “ainda esse ano” como esses que transcorreram antes? Não poderíamos esperar que a graça avançasse sobre a graça já ganha, e não deveríamos buscar poder para transformar nossas enfermas promessas em robusta ação?
Olhando o passado, lamentamos as sandices pela quais não queríamos ser mantidos voluntariamente cativos “ainda esse ano”, e adoramos a misericórdia perdoadora, a providencia preservadora, a liberalidade ilimitada e o amor divino, dos quais esperamos ser participantes “ainda esse ano”.
II. Se o pregador pudesse pensar com liberdade, poderia navegar no texto com prazer em muitas direções, porem, ele está debilitado, e por isso deve deixar-se ir com a corrente que leva a segunda consideração: o texto MENCIONA UMA MISERICORDIA. Foi devido a uma grande benignidade, que fosse permitido à arvore que inutilizava a terra, permanecer ainda outro ano, e a vida prolongada sempre há de ser considerada uma benção da misericórdia Veremos “ainda esse ano” como uma dádiva da graça infinita. É mal falar como se a vida não nos importasse, e considerar nossa estada aqui como um mal ou um castigo – estamos aqui “ainda esse ano” como resultado das intercessões do amor, e em cumprimento dos desígnios do amor.
O homem malvado deveria considerar que a paciência do Senhor aponta para sua salvação, e deveria permitir que as cordas de amor o atassem a ela. Oh, que o Espirito Santo fizera que o blasfemo, o quebrantador do dia do senhor, e o viciado ostentador sentissem que coisa admirável é que suas vidas sejam prolongadas “ainda esse ano”! Por acaso lhes é concedida vida para que amaldiçoem, e corram desenfreados e desafiem seu Criador? Esse deveria ser o único fruto da paciente misericórdia? Aquele que deixa as coisas para mais tarde e que tem deixado o mensageiro do céu com suas demoras e meias promessas, não deveria maravilhar-se de que lhe seja permitido ver “ainda esse ano”? Como é que o Senhor foi indulgente com ele, e há tolerado suas vaciladas e titubeios? Esse ano de graça será mal gasto da mesma forma? As impressões passageiras, as precipitadas resoluções e as prontas apostasias, terão de ser isso a mesma história trilhada que se repete uma e outra vez? A consciência assustada, a tirana paixão, a emoção reprimida! Serão esses aos sinais de “ainda esse ano”? Que Deus não queria que nenhum de nós duvide ou procrastine ao longo de “ainda esse ano”.
A piedade infinita detém a lança da justiça – será ela insultada pela repetição dos pecados que provocaram que se levantasse o instrumento da ira? O que poderia ser mais atemorizante para o coração da bondade que a indecisão? Bem faz o profeta do Senhor se colocar impaciente e clamar: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? (1Reis 18:21) Deus pode muito bem exigir uma decisão e exigir uma resposta imediata.
Oh alma indecisa, oscilará muito tempo ainda entre o céu e o inferno, e atuará como se fosse difícil decidir entre a escravidão de Satanás e a liberdade do lar de amor do Grandioso Pai? “Ainda esse ano” se divertirá no desafio da justiça e perverterá a generosidade da misericórdia, convertendo ela em uma licença para uma maior rebelião? “Ainda esse ano” será o amor divino convertido em uma ocasião para um continuo pecado? Oh, não atue dessa forma vil, de maneira tão adversa a todo instinto nobre, de maneira tão injuriosa para seus próprios e melhores interesses.
O crente é conservado fora do céu “ainda esse ano” em amor, e não na ira. Existem alguns por cuja causa é necessário que habite na carne, alguns que serão ajudados por ele em seu caminho até o céu, e outros que serão conduzidos aos pés do Redentor por sua instrução. O céu de muitos santos ainda não está preparado para eles, porque seus companheiros mais próximos não chegaram ainda, e seus filhos espirituais não se reuniram na glória em número suficiente, pata dar-lhes uma completa bem-vinda celestial: terão de esperar “ainda esse ano” para que seu repouso seja mais glorioso, e para que os feixes que eles levarão com eles possam proporcionar-lhes um gozo maior.
Verdadeiramente, por causa das almas, pelo deleite de glorificar nosso Senhor, e pelo incremento de jóias de nossa coroa, podemos estar contentes de esperar aqui embaixo “ainda esse ano”. Esse é um campo muito vasto, porem não pode demoramos nele, pois nosso espaço é reduzido, e nossa força é ainda menor.
III. Nossas últimas palavras frágeis lhes recordarão que a expressão “ainda esse ano” IMPLICA EM UM LÍMITE. O vinhador não pediu uma suspensão da sentença maior que um ano. Se labor de cavar e adubar não mostrassem então ser eficazes, não intercederia mais, e a arvore deveria cair.
Mesmo quando Jesus é o intercessor, a solicitação de misericórdia tem seus limites e seus tempos. Não é para sempre que seremos deixados sós, e que nos seja permitido inutilizar a terra – se não nos arrependermos, devemos perecer – se não queremos ser beneficiados pela enxada,d devemos cair pelo golpe do machado.
Virá um último ano a cada um de nós: portanto, que cada um diga a si mesmo: esse é meu último ano? Se fosse o último ano para o pregador, cingiria seus lombos para entregar a mensagem do Senhor com toda sua alma e pedir a seus semelhantes que sejam reconciliados com Deus.
Querido amigo, “ainda esse ano” será seu último ano? Está preparado para ver que a cortina se levantar revelando a eternidade? Está preparado para ouvir o grito da meia noite, e entrar na ceia das Bodas? O juízo e tudo o que se seguir são, de forma certíssima, a herança de todo homem. Benditos aqueles que pela fé em Jesus são capazes de enfrentar o tribunal de Deus sem pensamento de terror.
Se vivêssemos para ser contatos entre os habitantes mais velhos, ainda assim ao fim devemos partir: tem que haver um fim, e a voz deve ser ouvida: “Assim diz o Senhor, morreras esse não” Tantos se foram antes que nós, e cada hora estão voando, que ninguém deveria de nenhum outro memento mori (recorda que há de morrer), e , no entanto, o homem está tão interessado em esquecer sua própria mortalidade, e mediante isso, perder suas esperanças da bem aventurança, que não podemos colocar ela muito longe dos olhos de nossa mente. Oh homem mortal, reflita! Prepare-se para vir ao encontro de teu Deus – pois deves encontrar-se com Ele. Busque ao Salvador, sim, busque-lhe antes que outro sol se oculte para seu descanso.
Mais uma vez, “ainda esse ano” – e poderá ser só por esse ano – a cruz é levantada como um farol do mundo, a única luz à que nenhum olho mira em vão. Oh, que milhões de pessoas olhassem para esse local e vivessem. O Senhor pronto virá uma segunda vez, e então o resplendor de Seu trono ocupará o lugar do ligeiro esplendor de Sua cruz: o Juiz será visto no lugar do Redentor. Agora Ele salva, porem naquele momento Ele destruirá. Ouçamos Sua voz nesse momento. Ele tem posto um limite de graça. Creiamos em Jesus nesse dia, vendo que poderia ser nosso último dia. Essas são as súplicas de alguém que agora encosta-se a seu travesseiro, absorto na debilidade. Ouça-as por causa de suas próprias almas e vivam.