quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

A religiosidade humana

A religiosidade humana

Texto Básico: Salmo 95.1-11
Muitas pessoas acham que o medo do desconhecido e a necessidade de dar sentido à vida são fatores que levaram o homem a criar diversas crenças, cerimônias e cultos. Daí surgirem tantos mitos, superstições e ritos para manter contato com o mundo sobrenatural. Entretanto, ao ser criado à imagem de Deus, o homem trouxe consigo a propensão e a necessidade de cultuar o Criador. Necessidade porque é o próprio Deus Quem pede que os homens O adorem. O Senhor Jesus Cristo confirmou esse fato ao declarar: “Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele darás culto” (Lc 4.8). Então, não foi o ser humano quem “inventou” a religião para buscar a Deus, mas, sim, o Criador Quem deu ao homem a capacidade de adorá-Lo.

I. Por que o homem é um ser religioso?

A resposta da Bíblia é simples e clara: porque o homem foi criado à imagem de Deus. O que significa ter sido criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26)?
1. Conceitos
A palavra “imagem” (hebraico tsélem) significa a expressão da realidade. Podemos afirmar que significa “sombra”; a sombra tem semelhança com a pessoa, mas não é exatamente uma cópia da pessoa. E “semelhança” (hebraico demut) significa principalmente “aparência, correspondência, cópia”. Precisamos lembrar que não pode existir sombra se não houver uma realidade. Em Gênesis 5.3, a palavra “semelhança“ aparece antes de “imagem”; em Gênesis 9.6, aparece somente a palavra “imagem”, e em Gênesis 1.27 também. Podemos concluir desses textos que a palavra fundamental para a apresentação da ideia da semelhança de Deus é imagem de Deus.
 2. Significado
A expressão “à imagem de Deus” se refere ao homem como um ser espiritual, racional, moral e social.
a) Espiritual: O homem tem a capacidade de conhecer a Deus, de manter comunhão e de se relacionar com Ele. Em Gênesis 3.10, o homem afirma que ouviu a voz de Deus. Então, a conclusão é simples e lógica: Deus falava com o homem, e este conseguia ouvi-Lo, sabendo Quem estava falando.
b) Racional: O homem foi criado com capacidade para adquirir, descobrir, compreender, interpretar e avaliar fatos. Para exercer o domínio sobre a terra (Gn 1.26-28; Sl 8.4-9), ele precisava de capacidade intelectual.
c) Moral: O homem tem o senso da obrigação moral, o tremendo senso do dever. Gênesis 2.16-17 deixa claro que o homem entendeu a ordem e tinha condições de obedecer a ela. E o fato de Adão e Eva se sentirem culpados após a desobediência confirma nossa afirmação (Gn 3.7).
d) Social: O ser humano foi criado para viver em grupos, em sociedade; significa que é um ser sociável, com instinto gregário. É algo que vem da própria Trindade, porque Deus nunca existiu sozinho, mas sempre em três Pessoas (1Jo 5.7). A afirmação do Senhor Deus “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18) significa não somente o primeiro casamento na história humana, mas também a confirmação de que Deus quer que a humanidade viva em comunhão, que tenha relacionamentos.
Os termos imagem e semelhança de Deus têm dois importantes significados:
  • O homem é uma criação de Deus, dada a ênfase da palavra criar, em Gênesis 1.26-27
  • Dentre todas as criaturas, somente o homem foi criado e destinado para ser a imagem de Deus no mundo. O homem não tem a imagem de Deus, ele é a imagem de Deus. Mesmo depois da queda, essa imagem que ficou está distorcida, mas ainda está presente.
3. Implicações
O que a imagem de Deus no homem tem a ver com a religiosidade humana? A resposta é que fomos criados não somente com corpo físico, mas Deus nos deu a alma, que nos possibilita ter relacionamento pessoal com Ele: podemos orar, louvar e ouvir as palavras que Deus quer nos falar. “Ouve, povo meu, quero exortar-te. Ó Israel, se me escutasses!” (Sl 81.8). Esse versículo nos ensina duas verdades. Primeira, Deus fala; segunda, as pessoas podem entender o que Deus fala.
Aplicação
A imagem de Deus no homem é o principal sinal de que a religiosidade humana não é uma invenção, mas existe um Ser superior que precisa ser adorado.

II. A religião e a Bíblia

Toda religião tem seu livro sagrado, seu lugar sagrado, seu templo sagrado, seu líder maior, suas crenças inegociáveis e seus extremismos. Russell Champlin classificou oito tipos de religião: animista, legalista, ritualista, sacramentalista, natural, racional, revelatória e mística. Se quiser conhecer os detalhes, procure na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, Editora Hagnos, vol.5. p.639.
1. Que é religião?
O termo tem sua origem no verbo latino religare, que significa “religar”, “ligar de novo”. Também definida como o conjunto de crenças, dogmas e práticas próprias de uma confissão religiosa.
A história da humanidade e a história das religiões se confundem. Isso se deve ao fato de que não houve, no passado, comunidade ou cultura sem religião. Está claro que, do mesmo modo como fomos fisicamente preparados para respirar, falar determinada língua, gostar de música e comer, também fomos preparados para a vida espiritual. As religiões egípcia, grega, romana, nórdica, celta, chinesa, japonesa e outras comprovam a diversidade religiosa entre os homens.
2. Que significa ser religioso?
Vamos encontrar tantas respostas quantas religiões existem. Pode significar crer que Deus é a fonte e a finalidade da vida; ou crer que amar o próximo é tão importante quanto amar a Deus; enquanto outros acham que as duas coisas são completamente diferentes, que se pode matar o próximo em nome de Deus, quando Deus nunca pediu tal coisa! Alguns acham que ser religioso é consultar bruxas, enquanto outros preferem queimá-las vivas. Há quem entenda que obedecer aos mandamentos, fazer votos, cumprir promessas, recolher-se num mosteiro e no silêncio, fazer opção pelo celibato e pelos pobres, sacrificar-se até à morte, signifique ser religioso; assim como raspar o cabelo ou nunca cortar um fio de cabelo, ir à mesquita na sexta-feira, à sinagoga no sábado, ou ao templo no domingo. Ser religioso pode significar construir um luxuoso templo ou adorar numa simples igrejinha. Finalmente, outros acham que a religiosidade se manifesta quando pintam quadros e tetos de capelas ou fazem a imagem de um santo.
3. A palavra “religião” na Bíblia
Na versão Almeida Revista e Atualizada, o termo “religião” aparece em Atos 25.19; 26.5; Tiago 1.26 e 27, mas nem todas traduzem a mesma palavra grega. E o termo religioso” só aparece em Atos 17.22 e Tiago 1.26.
a) Atos 25.19: A palavra grega traduzida por “religião” aqui é deisidaimonia, cujo sentido literal é “temer uma divindade”. Nesse texto, Festo estava explicando a Agripa e Berenice que os judeus tinham certas disputas acerca da sua “religião” e a respeito de um certo Jesus.
b) Atos 26.5: Nesse e nos próximos dois versículos, o termo grego traduzido por “religião” é threskeia, que significa “serviço a Deus”. Aqui Paulo está se referindo ao farisaísmo como uma religião.
c) Tiago 1.26 e 27: O texto ensina quais são as três características do exercício prático da religião: controlar a língua, cuidar dos órfãos e das viúvas, e não se deixar contaminar pelo mundo.
Fica muito evidente que a palavra “religião” é pouquíssimo usada na Bíblia, pois a ênfase das Escrituras não está na religiosidade, mas sim, nos deveres do homem para com Deus, que estão resumidos no próximo tópico.

III. A busca pelo sagrado (Sl 42.2)

Os textos e os comentários feitos até aqui são suficientes para comprovar que fomos criados para ter comunhão e paz com Deus. Todavia ainda precisamos considerar um texto bíblico: Eclesiastes 3.11.
A eternidade no coração do homem. Ao afirmar que Deus colocou a eternidade no coração do homem (Ec 3.11), o autor bíblico está revelando tanto a glória quanto a miséria do homem. A.W.Tozer nos lembra que “ter sido criada para a eternidade e forçada a viver no tempo é para a humanidade uma tragédia de enormes proporções. Tudo dentro de nós clama pela vida e pela permanência; no entanto tudo que nos cerca nos faz lembrar da mortalidade e da mutação”.
O homem foi criado para algo mais do que a roda-viva da vida. Deus pôs dentro de nós o conhecimento de que este mundo não é suficiente. Mas, ao mesmo tempo, não podemos saber como tudo se encaixa. Deus sabe, e por isso confiamos Nele. Um historiador russo declarou: “Dê ao homem tudo o que ele quer, e logo ele verá que o tudo não é tudo”. E Agostinho escreveu: “Tu nos criaste para Ti, e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousar em Ti” (Confissões, p. 23).
“A eternidade de Deus e a mortalidade do homem se unem a fim de nos convencer que a fé em Cristo Jesus não é uma opção.” (A.W Tozer)
Aplicação
Somente Jesus Cristo, que é o Pai da Eternidade (Is 9.6), pode preencher essa eternidade que Deus colocou no coração do homem.

IV. Cinco deveres do homem perante Deus

Não temos dificuldade em acreditar que muitas pessoas querem sinceramente agradar a Deus. Entretanto é o próprio Deus quem nos ensina como agradar a Ele. Os cinco verbos a seguir nos indicam o caminho.
1. Crer – “De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam” (Hb 11.6).
2. Amar – “A isto ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento” (Lc 10.27).
3. Temer – “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem” (Ec 12.13).
4. Adorar – “Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto” (Mt 4.10).
5. Servir – “Servi ao Senhor com alegria, apresentai-vos diante dele com cântico” (Sl 100.2).
Aplicação
A ênfase bíblica não é religiosa, mas a comunhão com Deus, que não poderá ser obtida sem Jesus Cristo, como veremos em outras lições. Sendo assim, esses verbos servem para dar uma direção segura do que Deus pede de cada homem que O busca.

Conclusão

Será que existe a verdadeira religião? Será que Deus não considera o que o homem faz para agradar-Lhe? E se o caminho em que você estiver não for o verdadeiro?

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