quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Conversão – o que é e como acontece?

Conversão – o que é e como acontece?

Texto básico: Ezequiel 33.1-20

Introdução

Existe um jeito certo de se converter? É verda­de que uma conversão acompanhada de choro é mais forte que uma em que não há choro? Quantas conversões existem? É possível uma pessoa se converter mais de uma vez? Quem é o agente da conversão? É a pessoa que se converte ou é Deus quem converte a pessoa? Existe participação humana na conversão? Se existe, que participação é essa?

1. O que é conversão?

A conversão é a manifestação externa da regeneração. Não podemos ver a regeneração, mas podemos ver os efeitos que ela produz. O efeito mais notável produzido pela rege­neração é a conversão, na qual o regenerado expressa sua fé e seu arrependimento, com o consequente abandono do pecado. Em outras palavras, quando falamos em conversão esta­mos falando da vida cristã do ponto de vista de sua direção: um afastamento do pecado e uma aproximação de Deus.
A conversão pode ser definida como um ato consciente de uma pessoa regenerada, no qual ela se volta para Deus em arrependimento e fé. Observe que há dois movimentos presentes na conversão: um movimento de afastamento do pecado, caracterizado pelo arrependimento, e um movimento de aproximação de Deus, caracterizado pela fé. Podemos dizer que a conversão possui os seguintes elementos:
  1. Iluminação da mente. Por essa iluminação o pecado é conhecido como ele é na realidade: um comportamento que desagrada a Deus. Em geral, os pecados são avaliados, pela pessoa não redimida, conforme sua “malignidade social”. Pecados que causam grande dano social são considerados graves e pecados que causam pouco dano social ou que causam dano ape­nas a quem o pratica são considerados leves e, normalmente, tolerados. No entanto, essa conceituação do pecado como um mal social não se harmoniza com o ensino bíblico sobre o pecado. Mesmo quando o pecado só causa dano a quem o pratica (por exemplo, pecados ima­ginados que não chegaram a ser colocados em prática), ele continua sendo pecado e continua sendo grave, pois é uma ofensa contra Deus. Na conversão, a pessoa passa a perceber isso.
  2. Autêntica tristeza pelo pecado – não apenas remorso por causa dos seus resultados amargos. Tendo percebido a gravidade de cada um de seus pecados, a pessoa que se converte se arrepende verdadeiramente. Esse arrependi­mento diz respeito à tristeza que ela sente por ter desobedecido ao Senhor e à sua disposição de mudar sua atitude. Isso nada tem a ver com remorso. Remorso é a tristeza que sentimos quando temos que lidar com os efeitos prejudi­ciais causados por nossas ações erradas.
  3. Humilde confissão do pecado. Isso seria tanto para com Deus como em relação aos outros, que foram feridos pelo pecado. Tendo tomado consciência da gravidade de seus pecados, a pessoa que se converte logo se preocupa em pedir perdão a Deus por tê-los cometido e em pedir perdão também às pessoas que foram prejudicadas pelos seus pecados. Isso envolve a ideia de restituição pelos danos causados, sempre que isso for possível.
  4. Aversão ao pecado. Tendo percebido a gravidade do pecado, a pessoa que se converte passa a sentir aversão pelos pecados que anteriormente lhe traziam prazer e se esforça para fugir deles.
  5. Retorno a Deus como Pai gracioso. Ten­do se arrependido pelos seus pecados e procu­rado o perdão de Deus e do próximo, a pessoa que se converte busca ansiosamente refúgio em Deus, confiando que será recebida não por causa de algum suposto mérito humano, mas por causa da grandeza da graça de Deus, que em Cristo, perdoa nossos pecados.
  6. Alegria genuína pelo perdão de peca­dos. Encontrando perdão gracioso da parte de Deus, ela sente alegria plena e uma paz abundante, independente das circunstâncias que a rodeiem. 
  7. Amor genuíno a Deus e ao próximo. Como resultado do perdão de seus pecados e de sua reconciliação com Deus, a pessoa que se converte passa a amar a Deus intensamente e ao próximo como a si mesma, sentindo prazer genuíno em estar na casa do Pai e em servir a Deus e aos seus irmãos.

2. Uma obra realizada em conjunto

Pode parecer estranho a muitos cristãos a afir­mação de que a conversão é uma obra tanto de Deus quanto do ser humano. Estamos acostu­mados a ouvir que a salvação é uma obra divina. De fato, Deus é totalmente soberano em tudo, inclusive na obra de salvação. A Escritura diz que é Deus quem toma a iniciativa de salvar o pecador. Foi ele quem, na eternidade, escolheu os eleitos e, na história, entregou seu Filho para morrer na cruz em lugar dos eleitos, garantindo, assim, o perdão de pecados, a reconciliação em Cristo e a vida eterna a todos aqueles que creem em Jesus como seu Salvador. Até mesmo a fé é dada por Deus. No entanto, depois de receber a fé, é o pecador que deve crer e se apropriar pessoalmente da salvação em Cristo. Vejamos com isso acontece.
a) A conversão como obra de Deus. Em primeiro lugar, veremos a ação soberana de Deus na conversão do pecador. A conversão é a manifestação externa da regeneração, que é uma obra inteiramente realizada por Deus. É a vida espiritual concedida ao pecador na regeneração que permite que ele responda com fé à graça de Deus. Além disso, essa vida espiritual é preservada e guardada, por Deus em Cristo e só continua a existir e a produzir seus efeitos santos na vida do pecador redi­mido pela graça de Deus. Em uma palavra, é Deus quem nos dá vida espiritual e é ele quem nos sustenta. Uma vez concedida, a vida espiritual precisa ser sustentada e fortalecida pela ação do Espírito Santo. Paulo afirma: “Ponho-me de joelhos diante do Pai… para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior” Ef 3.14,16).
Como vimos na lição 3, a vida espiritual que recebemos na regeneração só pode ser pre­servada, fortalecida e desenvolvida mediante nossa comunhão com Cristo: “Eu sou a videi­ra, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5). Certamente esta ação soberana de Deus, concedendo e sustentando nossa salvação e nossa comunhão com Cristo, envolve nossa conversão. Tanto o arrependimento quanto a fé são dádivas santas recebidas do Senhor.
b) A conversão como obra humana. Ao contrário da regeneração, que é uma obra totalmente divina, a conversão é uma obra na qual a participação humana é importante. Tan­to no Antigo quanto no Novo Testamentos, a conversão é apresentada tanto como uma obra de Deus quanto como uma obra humana.
Observe, por exemplo, o texto de Isaías 45.22: “Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra; porque eu sou Deus e não há outro”. Quem deve olhar para que seja salvo? Sem dúvida, esse papel cabe ao ser humano. Observe também o que diz o profeta Ezequiel: “Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que havereis de morrer, ó casa de Israel?” (Ez 33.11). De acordo com este texto, quem devia se converter dos seus maus caminhos? A casa de Israel (os judeus). Portanto, esse texto coloca a responsabilidade da conversão sobre os ombros das pessoas a quem a profecia era dirigida.
No Novo Testamento, encontramos ocor­rências com conteúdo semelhante. Veja, por exemplo, o que disse o apóstolo Pedro no sermão pregado no dia de Pentecostes: “Arrependei-vos, e cada um seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espí­rito Santo” (At 2.38). Mensagem semelhante encontramos nas palavras do apóstolo Paulo ao carcereiro de Filipos: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa” (At 16.31).
Nessas e em muitas outras passagens, Deus nos chama à conversão, a nos voltarmos para ele, a nos arrependermos do pecado e a crermos em Jesus. Isto só pode significar uma coisa: embora a conversão seja uma obra de Deus, ela também é uma obra humana. A con­versão só acontece quando Deus nos concede vida espiritual e nos converte, mas também é preciso nos convertermos a ele. A soberania de Deus e a responsabilidade humana cami­nham lado a lado na conversão.

3. Tipos de conversão

A Escritura menciona alguns tipos diferen­tes de conversão. É oportuno examinarmos cada um deles.
a) Conversão verdadeira. Esse é o primeiro tipo. Trata-se da conversão resultante da ação regeneradora do Espírito Santo no coração do pecador. Esta conversão só pode acontecer uma vez na vida da pessoa pois, depois que acontece, o redimido é guardado por Jesus e, por isso, embora continue sendo um pecador e esteja sujeito a cometer graves pecados, jamais será afastado definitivamente da graça divina. O que foi implantado em seu coração é a divina semente e, por isso, no devido tempo, ele será conduzido novamente à comunhão com o Senhor.
Há muitos exemplos desse tipo de conver­são na Bíblia. Temos, por exemplo, o caso de Zaqueu (Lc 19.8-9), dos três mil convertidos no dia de Pentecostes (At 2.41), de Saulo (At 9.1-19), de Cornélio (At 10.44-48) e do carcereiro de Filipos (At 16.29-34)
b) Conversão nacional. A Bíblia menciona a conversão nacional como sendo uma oca­sião em que uma nação inteira se volta para o Senhor. Na maioria das vezes, o sujeito desta conversão nacional é o povo de Israel. Houve uma ocorrência dessa natureza, por exemplo, quando a liderança de Josué estava chegando ao fim e o povo prometeu abandonar os ído­los e servir ao Senhor (Js 24.14-25). Outra conversão nacional ocorreu no governo do rei Ezequias, quando o templo foi reaberto, purificado, o culto a Deus foi restabelecido e a aliança foi restaurada (2Cr 29.1-36). Um acon­tecimento semelhante ocorreu no governo do rei Josias, quando o livro da lei foi encontrado e lido perante todo o povo e a aliança com Deus foi renovada (2Rs 22.1–23.14). Entretanto, a Escritura menciona a ocorrência de conversões nacionais também fora do território de Israel. Lembre-se, por exemplo, da reação do povo de Nínive à pregação de Jonas: “Os ninivitas creram em Deus e proclamaram um jejum e vestiram-se de panos de saco, desde o maior até o menor” (Jn 3.5). Normalmente essas “conversões nacionais” têm vida curta e não promovem a conversão verdadeira de cada ha­bitante ao Senhor. O caráter passageiro destas conversões nacionais é visto com facilidade na história do próprio povo de Israel. Logo que um juiz morria, o povo se desviava; logo que um rei piedoso era substituído por um rei ímpio, o povo se desviava.
c) Conversões temporárias. A Bíblia tam­bém menciona conversões temporárias. Essas conversões não são genuínas, são apenas aparentes. É sobre este tipo de conversão que Jesus fala na parábola do semeador: “O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe com alegria; mas, como não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de pouca duração, em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza” (Mt 13.20-21). O Novo Tes­tamento menciona algumas pessoas que eram apenas aparentemente convertidas: Himeneu e Alexandre blasfemaram (1Tm 1.20). Esse mesmo Himeneu é mencionado outra vez, juntamente com Fileto, como tendo se des­viado da verdade e começado a perverter a fé de alguns cristãos (2Tm 2.17-18). Ele também é mencionado mais uma vez como tendo causado muitos males ao apóstolo Paulo (2Tm 4.14). Demas era um companheiro de Paulo que, por ter amado o mundo, resolveu abandoná-lo (2Tm 4.10). João fala sobre aque­les que “saíram do nosso meio, entretanto não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos” (1Jo 2.19).
d) Novas conversões. Não é possível que conversões verdadeiras se repitam, mas é possível que um crente se afaste de Deus e fique envolvido pelo pecado de tal modo que precise se voltar novamente para Deus. Davi era um homem de Deus, uma pessoa salva e piedosa. No entanto, cometeu os graves peca­dos – adulterou com Bate-Seba e ordenou que Urias fosse exposto ao perigo e abandonado para morrer. Os Salmos 32 e 51 relatam a angústia vivida por Davi, seu arrependimento e sua aproximação a Deus em fé, isto é, uma “nova conversão”.
Em Apocalipse, a carta à igreja de Éfeso faz menção da necessidade desta segunda conver­são: “Lembra-te de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras” (Ap 2.5). Os membros dessa igreja tinham se convertido, mas, depois disso, caíram nos pecados de imoralidade, idolatria e mornidão espiritual. Era fundamental que elas se convertessem desses pecados. Este tipo de segunda conversão ou de nova conversão é sempre necessário na vida dos crentes no sentido de fazê-los abandonar um pecado específico ou um grupo de pecados específicos e se voltarem para Deus com fé renovada.
Quanto ao mais, observa-se que a conversão pode ser uma experiência repentina, como aconteceu com o apóstolo Paulo e com Lídia, por exemplo, ou pode acontecer em um processo gradual, no qual a pessoa vai sendo gradualmente instruída na Escritura, convencida do pecado e da sua necessidade de salvação até que, um dia, ela recebe Jesus como seu Senhor e Salvador pessoal.
A Escritura não nos permite estabelecer um padrão para a ação do Espírito. Não podemos afirmar que a conversão sempre tem que ser deste ou daquele jeito. O que é fundamental a respeito da conversão é que ela seja genuína. Quando se está indo pelo caminho errado, não importa se você vai fazer meia-volta ou se vai dar a volta no quarteirão para seguir na direção oposta. O que importa é que você vá na direção certa: o caminho da real e duradoura mudança, não só de atitudes, mas de caráter. Não existe experiência mais poderosa do que essa. A conversão é a mais genuína experiência espiritual que existe.

Conclusão

A conversão é uma obra divina e, ao mesmo tempo, humana. Na conversão, a soberania de Deus caminha de mãos dadas com a responsabilidade humana. Embora Deus seja completamente soberano na salvação é o pecador que precisa crer e se arrepender de seus pecados. Sempre há, na vida cristã necessidade de arrependimento e fé, especialmente quando o redimido se afasta temporariamente de Deus e é envolvido pelo pecado.

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