Quem são os adoradores – uma ressonância bíblica
Texto básico: Hebreus 11.1-7
Introdução
As Escrituras apresentam algumas características daqueles que cultuam verdadeiramente a Deus. Neste estudo final, queremos analisar alguns aspectos dos cristãos que prestam culto a Deus conforme nos mostra a Palavra. Ou seja, nas Escrituras temos uma descrição de quem somos nós ou do que devemos procurar ser em Deus.
I. São pessoas de fé
O culto a Deus começa por Deus que nos conduz à fé que ele mesmo gera, por graça, em nós (Ef 2.8). Não podemos cultuar a Deus sem fé. Culto sem fé é uma contradição de termos. O escritor de Hebreus, considerando o sacrifício definitivo de Cristo, escreve: “aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura” (Hb 10.22). Como temos insistido, o culto cristão é um ato de fé resultante da graça de Deus que se revelou e nos capacitou a conhecê-lo. A adoração correta ao verdadeiro Deus, é uma atitude de fé e obediência na qual, o adorador se prostra diante do Deus que o atraiu com a sua graça irresistível (Hb 11.4-6,17). Sem a genuína fé, procedente da Palavra e direcionada para o Deus Trino, todos os nossos atos de culto são vazios e abomináveis a Deus.
II. São pessoas inteligentes
O culto não é puramente emocional; ele exige inteligência, raciocínio. O homem, no culto, manifesta a sua fé de forma compreensiva, usando as suas faculdades mentais. A transformação operada por Deus em nós envolve o homem todo; quando cultuamos a Deus nos apresentamos diante dele com a integridade de nosso ser (Rm 12.1-2; 1Co 14.15; Hb 8.10; 10.16; 13.15). “Quando ele [Deus] nos exorta a não sermos como os animais, sem inteligência [Sl 32.9], demonstra-nos que concedeu ao homem inteligência para louvar a Deus” (Agostinho).
III. Têm uma visão espiritual
Aqueles que adoram a Deus não estão pre¬sos apenas aos elementos perceptíveis pelos sentidos, mas têm uma sensibilidade espiritual. A verdadeira adoração vem do coração, sendo efetuada de forma consciente para Deus (Cl 3.23). Por isso, o culto não pode estar restrito apenas a um lugar (Jo 4.10-24).
IV. São pessoas que tiveram uma experiência espiritual
Os verdadeiros adoradores são homens que não apenas têm um conhecimento a respeito de Deus, mas o conhecem pessoalmente; já experimentaram de forma consciente o seu perdão, a sua salvação e graça (Sl 18.49-50; 108.1-4; Cl 1.9-14; Hb 9.11-14; 10.22). Como sabemos, os atributos de Deus são infinitos, ultrapassando em muito a nossa capacidade de percepção, no entanto o nosso testemunho de fé ampara-se no que Deus revelou em sua Palavra, e que tem sido experimentado pelo seu povo durante toda a história (Sl 36.5; Ef 3.17-19). O nosso louvor não pode consistir numa diminuição da glória de Deus. Devemos expressar aquilo que ele é, conforme revelado nas Escrituras, e que tem sido experimentado em nossa vida diária. Quem conhece a Deus não se abate tão facilmente: Davi, mesmo num momento de extrema “incerteza”, podia glorificar o nome de Deus; e isto ele fazia, não simplesmente com os seus lábios, mas com um coração confiante: “Em ti, pois, confiam os que conhecem o teu nome, porque tu, Senhor, não desamparas os que te buscam” (Sl 9.10). Este testemunho de louvor resultante do conhecimento de Deus é evidente em outros textos (Sl 42.5; 59.16; 61.3; 66.20).
É importante que se diga que conhecer a Deus não significa crer que ele vai fazer isso ou aquilo conforme desejamos, antes, ter a certeza de que ele cumprirá sempre a sua Palavra. Deus não tem compromissos com a nossa fé, mas sim com a sua Palavra e, consequentemente, com a fé que brota da Palavra. O que importa neste caso não é o que pensamos, mas sim o que Deus prometeu: o Senhor cumpre sempre a sua promessa, não necessariamente as nossas expectativas. Todavia é importante ressaltar que não conhecemos tudo a respeito de Deus e da sua Palavra; mas devemos ter por certo que o limite da fé está circunscrito pelos parâmetros das Escrituras (Dt 29.29). Ou seja: não podemos crer além do que Deus nos revelou na Bíblia; fazer isto não é ter fé, mas sim especular sobre os mistérios de Deus. Os discípulos no caminho de Emaús revelaram ao Senhor a sua frustração justamente porque eles se iludiram com as suas próprias expectativas, não com as promessas de Jesus; daí dizerem de forma patética: “Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas suce¬deram” (Lc 24.21). Jesus Cristo jamais havia lhes prometido isso, pelo contrário; o caminho descrito por Cristo, envolvia o sofrimento, a morte e a ressurreição (Mt 16.21). Há sempre o perigo de criarmos expectativas sobre Deus e tentar impingi-las a ele. Depois de certo tempo de confusão, já não distinguimos entre a promessa de Deus e o que esperamos que ele faça. É comum pessoas ficarem revoltadas com a não concretização de suas esperanças que brotaram de seus corações, não da Palavra. É fundamentalmente importante que não tente¬mos ser “teólogos” longe da Palavra. Tenhamos a humildade de aprender de Deus quem é ele e como deseja ser adorado.
Se a Palavra for o fundamento de nossa esperança, podemos descansar confiantes: Deus cumpre a sua Palavra. Ela deve ser sempre o guia da nossa fé. Por isso, devemos estar atentos à Palavra de Deus, para entendê-la e praticá-la (Js 1.8; Sl 119.97; Fp 3.15-16; Tg 1.22-25). Calvino, estudando o salmo 42, quando o salmista, em meio às aflições, demonstra a sua fé no livramento de Deus, comenta que essa certeza não é “uma expectativa imaginária produzida por uma mente fantasiosa; mas, confiando nas promessas de Deus, ele não só se anima a nutrir sólida esperança, mas também se assegura de que receberia infalível livramento. Não podemos ser competentes testemunhas da graça de Deus perante nossos irmãos quando, antes de tudo, não testifica¬mos dela a nossos próprios corações”.
V. Buscam a Deus com integridade
“O principal altar, no qual Deus é adorado, deve estar situado dentro de nós, pois Deus é adorado espiritualmente através da fé, de orações e de outros ofícios de piedade” (João Calvino).
“Firme está o meu coração, ó Deus!”, escreve Davi (Sl 108.1). O salmista está declarando que mesmo numa situação adversa o seu coração está firme no seu propósito; não vacila; está adequadamente preparado (retidão) (cf. Sl 51.10). O seu coração não fica vagando ao sabor das circunstâncias. Isto porque ele está firmado em Deus (cf. Sl 112.7). Por outro lado, o povo de Israel no Êxodo, não tinha um coração firme para com Deus, por isso não foi fiel à aliança (Sl 78.36-37). Davi continua: “Cantarei e entoarei louvores de toda a minha alma” (Sl 108.1). A expressão “minha alma”, que literalmente significa glória, é aqui usada de forma poética indicando aquilo que o homem tem de mais nobre, sendo empregada de modo figurado para a sua “alma” ou “coração”. Seja qual for a tradução, a ideia é de que o homem cultua a Deus com aquilo que ele tem de mais precioso; o que ele tem de mais íntimo. A ideia do texto é de cantar a Deus com a integridade do nosso ser (cf. Rm 12.1-2). A integridade aqui descrita implica uma firmeza de propósito que envolve todo o homem: ele não se abala facilmente em seu propósito de louvar a Deus de toda a sua alma. Os seus lábios são a expressão de sua alma agradecida. Não há dubiedade no coração do salmista; ele não vacila; apesar das adversidades, continua confiante. A instabilidade é um mal sinal. Não podemos condicionar o nosso louvor a situações aparentemente boas. Paulo e Silas na prisão de Filipos “oravam e cantavam louvores a Deus” (At 16.25).
Espírito semelhante encontramos no salmista: “Não se atemoriza de más notícias: o seu coração é firme, confiante no Senhor” (Sl 112.7). Essa firmeza de propósito era conscientemente dependente de Deus. Devemos estar atentos para o fato de que só poderemos prestar um louvor verdadeiro, com integridade de alma, se Deus mesmo nos preservar. criando em nós esta disposição. Somos inteiramente dependentes de Deus. Não há aqui, lugar para arrogância e autossuficiência. Sem a misericórdia de Deus, jamais prestaremos um culto digno. Por mais elaborada que seja a nossa adoração, deve haver em nós a consciência de que somos aceitos por Deus por sua misericórdia. Por isso, esta firmeza de propósito deve ser pedida ao Deus Todo-Poderoso. A oração de Davi revela essa consciência: “Cria em mim, ó Deus, um cora¬ção puro, e renova dentro em mim um espírito inabalável” (Sl 51.10). O consolo do salmista era: “O Senhor firma os passos do homem bom, e no seu caminho se compraz” (Sl 37.23).
VI. Aproximam-se realmente de Deus
Quando adoramos a Deus em Cristo, nos aproximamos verdadeiramente de Deus. “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração” (Tg 4.8). “Aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura” (Hb 10.22).
Pela fé, temos livre acesso a Deus com confiança (Hb 10.19). Paulo escrevera aos efésios: “Pelo qual temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé nele” (Ef 3.12). Portanto, “aproximemo-nos” (Hb 10.22). O caminho percorrido por Cristo continua aberto a todos os que creem: “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hb 4.16). No governo de Cristo, a graça reina: “Trono da graça” (Hb 4.16).
O escritor fala (Hb 10.22) sobre como devemos nos aproximar de Deus – qual deve ser a nossa postura:
a) “Sincero coração”: sem hipocrisia e fingimento.
b) “Em plena certeza de fé”: fé em Deus e na consumação de sua obra (Hb 11.6). “Por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriemo-nos na esperança da glória de Deus” (Rm 5.2).
c) “Tendo o coração purificado de má consciência”: A palavra “purificado”, significa “aspergido”. Os utensílios do Lugar Santo eram purificados mediante a aspersão do sangue dos animais sacrificados. Nós somos purificados pelo sangue de Jesus que nos purifica de todo o pecado. Devemos nos aproximar de Deus por intermédio de Cristo, limpos interior e espiritualmente.
d) “Lavado com água pura”: Esta expressão pode se referir à lavagem espiritual feita pelo Espírito Santo ou ao batismo, que é o sinal externo desta purificação.
b) “Em plena certeza de fé”: fé em Deus e na consumação de sua obra (Hb 11.6). “Por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriemo-nos na esperança da glória de Deus” (Rm 5.2).
c) “Tendo o coração purificado de má consciência”: A palavra “purificado”, significa “aspergido”. Os utensílios do Lugar Santo eram purificados mediante a aspersão do sangue dos animais sacrificados. Nós somos purificados pelo sangue de Jesus que nos purifica de todo o pecado. Devemos nos aproximar de Deus por intermédio de Cristo, limpos interior e espiritualmente.
d) “Lavado com água pura”: Esta expressão pode se referir à lavagem espiritual feita pelo Espírito Santo ou ao batismo, que é o sinal externo desta purificação.
VII. Não são orgulhosos senão confiantes
O cristão aproxima-se de Deus baseando-se não nos seus supostos “méritos”, mas nos de Cristo Jesus, sabendo que nele já não há mais condenação (Rm 8.1). Por isso, pode apresentar-se diante de Deus com santo temor e alegre confiança (2Co 1.20; Ef 3.12; Hb 4.15-16; 12.28).
VIII. Demonstram unanimidade no culto
A adoração é prestada por homens que, chamados por Deus, constituem um povo santo, unido pela mesma fé. O culto não é “departamental”, é da igreja, prestado unanimemente a Deus (At 4.24,32). Dentro de outra perspectiva, comenta Lloyd-Jones: “Louvor cristão é isso, e nos envolve a todos. Portanto, Paulo não pode estar falando sobre a congregação ficar sentada e ouvindo o belo cântico de um coral. Isso é quase diretamente o oposto do que ele está dizendo. Todavia, é a isso que chegamos. É pior quando o canto é executado por um coral pago, e pior ainda quando os membros do coral pago ou do quarteto especial nem cristãos são, mas são introduzidos na igreja porque têm boa voz. Às vezes, neste país, e mais frequentemente noutros, eles chegam ao culto justo na hora de cantar, e logo depois se retiram!”.
IX. Conscientes de sua carência de Deus
Na realidade todos carecemos de Deus. No entanto, quantas vezes nos damos conta disso? É necessário que entendamos que somos nós que precisamos de Deus não Deus de nós: Deus é totalmente independente; tudo lhe pertence: o culto é na realidade algo que nos beneficia, é essencial à nossa existência. Portanto, o culto a Deus não é descompromissado; é vital (Sl 50.15). Não existe verdadeiro culto a Deus como meramente uma prática de agenda social.
Deus mostra ao povo que tudo pertence a ele; ele não precisa de nada; nada lhe falta; nada a ser suprido (Sl 50.9-13). O povo não estava pecando no aspecto ritual ou na siste¬maticidade das ofertas (Sl 50.8). O que aconte¬cia era uma compreensão errada de Deus e do seu culto. Deus desejava um culto prestado por aqueles que sentiam em seu íntimo a profunda necessidade de Deus e, portanto, de cultuá-lo. Ainda que não exclusivamente, o fato é que no livramento da angústia, o homem não oferece apenas um culto formal, antes glorifica sinceramente a Deus (Sl 50.15).
Conclusão
O estudo sobre o culto de nada adianta se não nos conduzir ao desejo de oferecer a Deus um culto conforme as prescrições do próprio Deus.
O culto a Deus é um tributo de louvor e gratidão. Quando nos reunimos para cultuar o fazemos agradecidamente tendo os nossos olhos fitos em Deus e em seus atos salvadores e abençoadores. Necessitamos, portanto, desenvolver a nossa percepção espiritual; ver, ainda que apenas parcialmente, os feitos de Deus. Nessa disposição, publicamos os seus atos como o salmista o fez, dizendo: “Vinde e vede as obras de Deus: tremendos feitos para com os filhos dos homens!” (Sl 66.5 – cf. Sl 46.8). “… a desconsideração quase universal leva os homens a negligenciarem os louvores a Deus. Por que é que tão cegamente olvidam as operações de sua mão, senão justamente porque nunca dirigem seriamente sua atenção para elas? Precisamos ser despertados para este tema” (João Calvino). A desconsideração dos feitos de Deus é um ato de ingratidão. Por outro lado, a contemplação dos feitos de Deus é pedagógica no sentido de nos conduzir a Deus em gratidão e louvor. Louvemos ao Senhor!
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