quinta-feira, 7 de abril de 2016

Romanos 4

Romanos 4 
 

Paulo dedicou todo o quarto capítulo de Romanos para explicar o significado da justificação, que é por meio da fé em Jesus Cristo.
É importante que seja destacado que aqui neste capítulo, o apóstolo não está explicando o que é a santificação, mas somente a justificação, ou seja, o ato judicial declarativo de Deus pelo qual somos considerados justos por Ele.
Paulo demonstrou como é que a nossa justificação, que nos traz a salvação, promovendo a nossa conversão e união eternas a Cristo, é realizada somente pela graça, mediante a fé.
É importante observar como ele ordenou os argumentos nesta epístola aos Romanos, uma vez que primeiro apresentou a condição decaída no pecado e sujeita à condenação (cap 1 e 2); depois a forma como se é livrado da condenação pela justificação, que é o ato declarativo de Deus que nos torna seus filhos para sempre (cap 3 a 5); depois o significado da expiação e a consequente consagração pelo processo da nossa santificação (cap 6); depois apresentou a posição firme na qual todo crente se encontra diante de Deus por causa da sua união com Jesus, a par da sua luta interior (cap 7), e das provações externas (cap 8), e em tudo isto, sempre mostrando como somente é possível ser vitorioso sobre a carne, o diabo e o mundo, por causa da nossa união espiritual com Cristo, por meio da fé.
No capítulo 9º Paulo discorre sobre a predestinação e eleição; no 10º sobre o dever e o modo de se proclamar o evangelho; no 11º sobre a condição do povo de Israel perante Deus; do 12º ao 16º discorre principalmente sobre qual deve ser a conduta dos que foram salvos pelo evangelho.   
Na verdade, nem na justificação, nem na santificação, temos motivo para nos gloriar em nós mesmos, tal como Abraão não tinha motivos para se gloriar no fato ter sido justificado pela fé.
Não somente por causa do argumento de que esta justificação é por pura graça e misericórdia de Deus, excluindo qualquer mérito do homem, como também pela verdade que toda a glória é devida ao Senhor, porque somente Ele é o Criador e o Salvador.
Sem Ele nada existiria. Sem Ele não haveria nenhuma salvação, nenhuma eleição, nenhuma justificação, nenhuma santificação, nenhuma glorificação, nenhuma cura do espírito, nenhum livramento da condenação, nenhuma herança para o cristão no céu.
Então, ao afirmar que se Abraão tivesse sido justificado por obras, teria motivo de se gloriar, mas não diante de Deus, Paulo queria dizer que ele teria realmente motivo de se gloriar em si mesmo, caso fosse possível alguém ser justificado por suas obras.
Mas, como isto é impossível, então ninguém deve se gloriar em si mesmo na Sua presença, senão somente no próprio Deus, que tudo opera em todos, e por meio de quem são todas as coisas.  
Deste modo, não está sendo enfocado por Paulo que haja alguma obrigação de Deus em dar a salvação a qualquer pessoa como uma espécie de salário, de pagamento de uma dívida, por alguma boa obra que tenha sido praticada por aquele a quem Ele salvou.
Como Deus sabia que não haveria no homem nenhum modo de salvar a si mesmo do pecado, Ele deliberou, desde a eternidade, salvar pela graça mediante a fé.
Então se uma pessoa insiste em ser salva por obras, ela permanecerá sob a condenação de Deus, porque está sendo desobediente à Sua ordenação, de que aquele que for salvo, o será pela Sua graça, e mediante a fé. Tentar fazer valer a própria justiça sempre nos deixará desprovidos daquela Justiça que nos vem da parte de Deus pelo evangelho. 
Cabe destacar que a causa da condenação não será a desobediência propriamente dita, mas o fato de que é por meio desta que ficamos alijados da graça de Cristo, porque Deus determinou que salvaria o pecador somente por fé, pela fé do pecador na Pessoa e obra do Seu Filho amado Jesus Cristo.
As boas obras devem ser praticadas, mas não com o fim de sermos salvos por Cristo, porque isto ocorre somente pela graça e por meio da fé. E é importante que se frise que estas boas obras se referem em primeiro lugar à transformação progressiva e gradual do cristão à imagem de Jesus, e depois se manifestam em atos de justiça, amor e bondade em relação ao próximo, porque esta é a consequência imediata daquele que tem caminhado com Deus, por ter sido reconciliado com Ele por meio da fé em Jesus.
Quando não se conhece esta verdade, ou mesmo quando a esquecemos, é possível que nos entreguemos com todo afinco à obra de evangelização, até mesmo convencendo a muitos a se tornarem cristãos... todavia, a questão essencial permanece de pé: como fruto do nosso trabalho, houve uma conversão real destas pessoas que se agregaram à Igreja? Houve uma transformação real em novas criaturas em Cristo? Houve a evidência das obras e fruto do Espírito Santo em suas vidas através da santificação?
Assim, não podemos dizer que o evangelho, que a fé, é meramente algo pró-ativo, ou seja, que demanda de nós apenas esforços para evangelizar o mundo. Se não tivermos uma santificação verdadeira operada pelo evangelho em nossas próprias vidas, é bem certo que ficaremos longe do alvo proposto por Deus para a pregação do evangelho, que é o de operar, antes de tudo, justificação, regeneração e santificação de pecadores.   
É pela fé no sangue que Jesus derramou na cruz que somos lavados e perdoados dos nossos pecados.
Deus revelou esta verdade pelo Espírito ao rei Davi, a qual lemos no Sl 32.1,2, cujas palavras Paulo usou em Rom 4.7 e 8: 
“7 Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos. 
8 Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado.”
Então a justificação é uma declaração da parte de Deus em relação a quem se converte, de que esta pessoa é agora justa diante dEle, ou seja, está justificada do pecado, por causa da obra realizada por Jesus em seu favor. 
Esta justiça que é atribuída ao homem é decorrente da justiça do próprio Cristo. É a veste de Cristo com a qual ele agora está vestido. 
Uma vez justificado, ele é chamado a ser justo em todo o seu procedimento, e assim há uma justiça procedente de Deus que deve ser nele implantada pelo Espírito, de maneira que seja aperfeiçoado na justiça evangélica, mas isto não faz parte do ato da justificação, que como vimos antes, é uma declaração feita por Deus de que somos agora justos aos Seus olhos por causa de Cristo, e não uma implantação da Sua justiça em nós.
Esta implantação da justiça é feita pela regeneração (novo nascimento) e santificação do Espírito Santo, sendo que a santificação é um processo progressivo, e não instantâneo tal como se dá com a justificação e a regeneração, quando do nosso encontro pessoal com Jesus na nossa conversão.   
E esta bênção da justificação, que nos dá a salvação, não é somente para os judeus, uma vez que Abraão foi justificado pela fé, quando ainda era um gentio em Ur dos caldeus; e foi circuncidado em seu prepúcio somente depois de ter crido em Deus e ter sido justificado, de maneira que não é a circuncisão do prepúcio que justifica uma pessoa conforme os judeus costumavam ensinar, porque não foi por ter sido circuncidado que Abraão foi justificado.
Aconteceu justamente o contrário: ele foi circuncidado porque foi justificado, isto é, ele recebeu a circuncisão como um sinal comprobatório da justificação que é pela fé, que Deus lhe havia concedido.
De maneira que os cristãos que são justificados devem trazer em si este sinal comprobatório que também foram circuncidados por terem crido, já não mais no prepúcio, mas no coração.
A circuncisão dos judeus era um ato de despojamento da carne do prepúcio.       
Então a circuncisão do cristão na Nova Aliança com Cristo consiste no despojamento da carne, não do prepúcio, mas do princípio operativo do pecado, que a Bíblia chama de carne; e que consiste em tudo aquilo que nos impeça de ter uma vida de comunhão no espírito com Deus.
Lembremos que o motivo alegado por Deus de que não permaneceria mais atuando nos homens nos dias de Noé, porque estes eram carnais, significava que eles haviam se tornado insensíveis, e completamente endurecidos à ação do Espírito Santo, que procurava conduzi-los ao arrependimento, conforme lemos em Gên 6.3.
Deve ser levado em conta também que a promessa da Nova Aliança foi feita a Abraão, mais de quatrocentos anos antes da Lei ter sido dada a Moisés no Sinai.
Isto significa que ao dizer que no Descendente de Abraão, que é Cristo, seriam benditas, todas as nações da terra, Deus estava mostrando que o modo de alguém ser salvo não seria por causa da Lei, mas pela promessa que fez a Abraão, de salvar também a muitos do mesmo modo como fizera com Abraão, a saber, somente pela fé. 
Se a herança prometida a Abraão, de uma pátria celestial, para ele e aqueles que seriam considerados seus descendentes, tivesse sido feita pela Lei, a promessa de Deus teria sido aniquilada, mas isto é impossível, porque não foi pela Lei, mas pela justiça que é pela fé, que os homens são salvos, como Paulo afirma nos versos 13 e 14 deste quarto capítulo de Romanos.        
Se a promessa fosse pelas obras da Lei todos continuariam debaixo da ira e da maldição de Deus, porque não há quem guarde perfeitamente todos os mandamentos, durante todos os dias da sua vida. E mais do que guardar os mandamentos de Deus, isto se refere sobretudo a se ter uma vida que seja à exata imagem e semelhança da santidade e caráter divinos.
Algum descendente de Adão, tanto quanto ele, poderia atender a tal exigência, sem a graça de Cristo? Por isso Deus não nos deu uma árvore de conhecimento divino para sermos salvos, mas uma Árvore de Vida, uma Videira Verdadeira, pela qual podemos participar da Sua própria vida celestial e inteiramente santa.  
Mas o apóstolo argumenta num nível mais fácil, ainda que também impossível para o pecador, a saber, o da obediência à Lei para a salvação, uma vez que os judeus ensinavam e criam nisto. Ele os tem em mira quando argumenta sobre a justificação, de modo a lhes convencer que se alguém pretendesse ser salvo pela Lei e não pela fé, esta seria a única maneira de ser salvo, a saber, pela guarda perfeita da Lei. 
Ainda que a Lei não deva ser desconsiderada e descumprida, mas amada e obedecida, não há quem possa cumpri-la perfeitamente, porque o princípio do pecado permanece operando na carne e exigindo que seja mortificado diariamente pela operação da cruz. 
Então, todos os homens, de todas as épocas, quer antes da Lei, como foi o caso de Abraão, quer depois da Lei, depois de Moisés, encontram-se numa condição miserável diante da justiça de Deus, mas este determinou ser gracioso e misericordioso para com os pecadores, ao justificá-los somente pela fé, de maneira que sendo por fé, a justificação será pela graça do Senhor, conforme Ele estabeleceu, para que ninguém se glorie diante dEle por suas próprias obras, como Paulo afirma no verso 16.
Assim o registro da justificação de Abraão pela fé, não se encontra em Gên 12, somente por causa dele, mas também por nós que temos sido justificados pela mesma fé com a qual ele foi justificado, para que estejamos convictos sobre o modo pelo qual Deus salva, como também para que possamos ser efetivamente salvos da mesma maneira como Ele salvou Abraão, como se vê em Gên 15.6:
“E creu Abrão no Senhor, e o Senhor imputou-lhe isto como justiça.”.
A grande prova que a justificação que dá vida eterna é pela fé no Filho de Deus reside na ressurreição de Jesus.
Portanto, pela Sua ressurreição Ele comprovou que possui o poder de dar vida eterna aos que estão  mortos em seus pecados, a saber todos os homens, e dentre os quais se encontrava o próprio Abraão.
E a ressurreição de Jesus foi também o sinal confirmatório de que a justiça divina havia sido plenamente satisfeita.
É importante saber que não há nenhum resto mortal de Jesus na terra; assim como também não há de Elias e Enoque, porque foram arrebatados.
Mas nenhum dos dois ressuscitou dos mortos como Jesus havia ressuscitado antes dEle ter subido ao céu, num corpo glorificado, depois de ter experimentado a morte por todos os homens, para dar vida aos que creem no Seu nome, de modo que somente o Senhor Jesus é Primícia dos que dormem, quanto à promessa da ressurreição futura de seus corpos no dia do Arrebatamento.

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