Adão e Eva — casamento, uma ideia divina
Texto básico: Gênesis 2.23
INTRODUÇÃO
O casamento não é obra da mente criativa do ser humano e sim uma instituição divina, um ato de compaixão de Deus para com o homem, pelo qual demonstra o seu propósito para a humanidade.
O pecado, no entanto, faz o homem não compreender dessa maneira. Então, quanto mais o tempo passa, mais o casamento sofre duros ataques, e assim os estragos são cada vez maiores. Basta considerarmos o crescente número de divórcios em nosso país – crescimento que ocorre, infelizmente, também entre os cristãos – para verificarmos como isso tem se tornado cada vez mais abrangente e devastador.
Como a família é extremante importante aos olhos de Deus e o casamento é uma instituição santa, iniciamos o estudo de alguns casais da Bíblia. Veremos princípios que foram evidenciados na vida de casais que temiam ao Senhor e que também devem fazer parte de nossa vida. Também consideraremos práticas que não devem ser seguidas. Comecemos com o primeiro casal: Adão e Eva.
I. HOMEM E MULHER
O relato da criação mostra a dedicação especial de Deus na formação do homem. De modo detalhado a Bíblia narra como Deus o formou, desde a matéria prima (o pó da terra) ao fôlego da vida (Gn 2.4-7) e o fim para qual foi criado – para cultivar e guardar o jardim do Éden (Gn 2.15).
Apreciando a sua criação, Deus viu que dentre todas as suas criaturas não havia uma que servisse como “auxiliadora idônea” para o homem. Por isso, Deus fez com que Adão dormisse e dele formou a mulher, sua auxiliadora idônea. Duas pessoas distintas, porém, com o único propósito – glorificar a Deus com suas vidas.
Em Gênesis 1.27 está definido o padrão da criação quanto aos relacionamentos e o desenvolvimento da humanidade: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” Observe que o ser humano foi criado à imagem e semelhança do seu Criador. A dignidade especial dos seres humanos está nessa característica essencial. Além disso, Deus estabeleceu uma distinção de gênero: masculino e feminino. Embora haja igualdade entre os seres humanos (imagem e semelhança de Deus), há também diferença (homem e mulher).
Isso significa que Deus estabeleceu uma regra clara para a sexualidade humana: a heterossexualidade. Essa diferenciação sexual envolve propósitos específicos que apontam para o casamento, a unidade sexual e a procriação.
O casamento foi divinamente instituído como uma monogamia heterossexual que deve ser publicamente reconhecida (deixar os pais), permanentemente selada (ele se unirá à sua esposa) e fisicamente consumada (uma só carne).
Apesar da igualdade essencial do homem e da mulher Deus os criou com deveres e papéis diferentes. O homem para assumir as responsabilidades de cuidar de toda obra da criação, zelando pelo seu bom desenvolvimento e manutenção; e como marido, tendo de cumprir com a sua responsabilidade de constituir família, amando sua esposa, educando seus filhos, conduzindo-os sempre a uma comunhão verdadeira com o Senhor. A mulher por sua vez, assume uma responsabilidade diferente, mas, não menos importante ou inferior à do homem: ser a auxiliadora idônea. Naquilo que um é deficiente, ou outro é eficiente gerando, assim, um caráter complementar.
João Calvino diz que este caráter de complementar se dá “porque Deus assim o ordenou no princípio, ou seja, que o homem sem esposa é apenas a metade de homem, por assim dizer, e se sente carente do apoio que pessoalmente necessita; e a esposa é, por assim dizer, o complemento do homem” (1Coríntios, Edições Parakletos, p. 199).
II. DEFININDO OS PAPÉIS
As Escrituras apontam papéis específicos para cada um no casamento. O marido deve assumir a liderança em casa. Essa liderança não deve ser ditatorial, condescendente ou paternalista, mas deve estar em conformidade com o exemplo de Cristo, Senhor da igreja (Ef 5.25-27). E Cristo amou a igreja (seu povo), com compaixão, misericórdia, perdão, respeito e altruísmo. É desta forma que os maridos devem amar suas esposas.
As esposas devem se submeter à autoridade de seus maridos (Ef 5.22-23). A submissão, neste caso, não deve ser entendida como um jugo, tampouco a autoridade deve ser entendida como ditadura e opressão. A submissão deve ser uma entrega incondicional que visa o preenchimento mútuo. Ela envolve sacrifício, visando que o relacionamento entre ambos seja saudável. Ao marido foi dada a responsabilidade de constituir e guiar a família a Deus, ainda que tenha que sacrificar a sua própria vida por isso. O papel da mulher é ajudar, apoiar e sustentar o marido no cumprimento dessa missão.
Percebe-se, portanto, que o papel de submissão da mulher vai além do que simplesmente aceitar renegadamente os valores comportamentais e morais do marido.
Embora o referencial para ambos seja imenso, ou seja, o marido deve amar a esposa como Cristo amou a igreja e, as esposas devem ser submissas aos maridos como a igreja o é a Cristo, este é o objetivo a ser alcançado. Quando estes papéis são desprezados os nossos relacionamentos não glorificam a Deus, não nos completamos e deixamos de alcançar a satisfação.
Há algo importante a ser dito ainda com relação a esta analogia interrelacional entre marido e mulher, Cristo e a igreja. Ao dizer que Cristo é o cabeça da igreja, Paulo tem em mente três aspectos importantes: “Primeiro, Cristo tem autoridade sobre a igreja e a governa; segundo, a igreja é o complemento de Cristo neste mundo; e terceiro, Cristo preserva e cuida de seu povo.” (A Bíblia e sua família, Augustus Nicodemus e Minka Schalkwijk, Cultura Cristã, p. 53.).
Desse entendimento, poderíamos dizer que como ordem de Deus, o homem exerce autoridade sobre sua esposa assim como Cristo exerce autoridade sobre a igreja; que a esposa é o complemento do seu marido assim como a igreja é o complemento de Cristo neste mundo; e que o marido deve preservar e cuidar de sua esposa assim como Cristo preserva e cuida de seu povo.
Diante disso: “Esposas, sede submissas ao próprio marido, como convém no Senhor. Maridos, amai vossa esposa e não a trateis com amargura” (Cl 3.18-19). “Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento;
e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações” (1Pe 3.7). A partir destes versos, vemos que o amor e o respeito caracterizam os papéis de ambos. Se estes estiverem presentes, então a autoridade, liderança, amor e submissão não serão problemas para os cônjuges.
III. OS DOIS SENDO UM
Quando o homem vê a dádiva que Deus havia lhe concedido – a mulher – declara: “Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada” (Gn 2.23). O termo “uma só carne” aponta para uma união indissolúvel, solidária e complementar. Um estado de inteira codependência.
Deus mesmo disse que não era bom que o homem estivesse só. Disso entendemos que não estava em jogo simplesmente a questão da solidão do homem, mas também a impossibilidade de o homem cumprir suas responsabilidades pactuais. A Confissão de Fé de Westminster (XXIV.2) afirma: “O matrimonio foi ordenado para o mútuo auxílio de marido e mulher, para a propagação da raça humana por sucessão legítima, e da igreja por uma semente santa, e para evitar-se a impureza”.
Além disso, ser uma só carne implica também compartilhar sentimentos, atos e suas consequências. Adão e Eva compartilhavam tudo o que estava em sua volta e, certamente, tudo o que compartilhavam produzia um sentimento bom, pelo menos até que viesse o pecado. Eles desfrutavam da mesma paisagem, do mesmo cantar dos pássaros, das mesmas belas cores das flores do campo, da mesma água, dos mesmos frutos e, principalmente, do mesmo Deus. Tudo o que um fazia afetava e/ou influenciava o outro. Um claro exemplo disso é o evento da queda (Gn 3.6). Ambos sofreram as consequências de sua escolha errada (Gn. 3.7-8).
Além disso, por terem desobedecido a Deus, receberam cada qual a sua punição. À mulher, Deus disse: “Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz…” (Gn 3.16). Ao homem, por sua vez, Deus disse: “…maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes a terra…” (Gn 3.17-19). E, por fim, ambos foram expulsos do jardim do Éden (Gn 3.23-24).
Esses relatos demonstram o quanto ser “uma só carne” implica na união plena de duas pessoas. Todas as nossas escolhas e decisões devem levar em consideração nosso marido ou nossa esposa, seu temperamento, seus sentimentos, suas limitações e suas preferências. Pois tudo o que fazemos, de algum modo, atingirá, direta ou indiretamente, o nosso cônjuge.
CONCLUSÃO
Adão e Eva nos mostram como o casamento é uma ideia divina. Embora fossem duas pessoas essencialmente idênticas, natural e propositalmente eram diferentes no gênero que define a sexualidade e nos papéis que deveriam desempenhar no plano de Deus para eles e sua posteridade.
Com eles aprendemos também que o casamento é o modo divino para que o homem se complete e encontre satisfação. Contudo, isso só é possível quando o homem e a mulher cumprem seus respectivos papéis no matrimônio. Nessa união não há espaço para uma individualidade egoísta, pois, um pertence ao outro para a glória de Deus.
APLICAÇÃO
Se for casado, agradeça a Deus pelo seu casamento. Dedique tempo orando pelo e com seu cônjuge. Converse mais com ele. Identifique e corrija suas falhas no cumprimento das suas responsabilidades nessa relação. Busque complementar seu cônjuge e o considere em todas as situações de sua vida. Faça uma lista com ações que você deve adotar e abandonar para que seu casamento glorifique a Deus, complete seu cônjuge e traga satisfação a vocês.
Se você é solteiro, conscientize-se bem da seriedade e responsabilidade presentes no casamento. Isso fará toda a diferença. Direcione sua escolha pelos princípios estabelecidos por Deus. Mulheres, não se casem com um homem que não teme ao Senhor e ao qual não possam prometer submissão voluntária. Homens, não se casem com uma mulher que não teme o Senhor e que você não esteja disposto a amá-la. Isso traria terríveis consequências para vocês e os privaria de inúmeras bênçãos que o matrimônio nos concede.
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