sábado, 10 de outubro de 2015

Preservando a Identidade da Igreja

Preservando a Identidade da Igreja


Um dos grandes desafios da Igreja, ao longo da sua história, foi o de preservar sua identidade. Em várias ocasiões, desde os primórdios, a Igreja sofreu ameaças que visavam comprometer seu real chamado. Nos dias atuais não tem sido diferente, a Igreja do Senhor Jesus, do mesmo modo que a igreja primitiva têm sofrido ameaças externas e internas com o proposito de desviar sua atenção do alvo, mas ela precisa se manter fiel aos princípios apostólicos.
I. O QUE É A IGREJA
A Igreja (o Corpo de Cristo) é formada por pessoas oriundas de todas as nacionalidades, culturas e etnias, que, pelo sangue de Cristo, passam a ter comunhão com Deus, um povo destinado a se reunir aos santos do passado para povoar a Nova Jerusalém, a Jerusalém Celeste, onde se reeditará a comunhão eterna e perfeita que havia entre Deus e a humanidade antes que o pecado entrasse no mundo (Ap 21.3).
1. Definição. A palavra igreja vem do grego “ekklesia”. O termo, literalmente, refere-se à reunião pública, ou assembleia regularmente convocada, cujo objetivo é congregar-se para deliberar sobre o bem comum (Mt 18.17; At 15.4). Portanto, a igreja, no sentido originário da palavra, é constituída por aqueles que foram chamados para não se moldar ao mundo (Rm 12.2) e caminhar para o alvo, que é Cristo (Fp 3.14). A igreja também é o povo de Deus, conforme expressa o apóstolo Pedro (I Pe 2.9,10), definindo-a como “geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”.
Notamos, pois, que a palavra “igreja” fala de uma “reunião”, ou seja, um grupo de pessoas.
A Igreja tem duas principais dimensões, Ela não é uma mera organização, mas um organismo vivo. O Novo Testamento mostra que ela é Divina e Terrena.
a)   Divina. Concebida ainda antes da fundação do mundo (Ef 1.10), a Igreja é um projeto exclusivamente divino, concebido, executado e sustentado por Deus. Ela foi revelada por Jesus na famosa “declaração de Jesus” em Mt 16.18: ‘Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela’. No entanto, somente teria existência própria a partir do instante em que Jesus subiu aos Céus, assentando-se à direita de Deus, visto que a igreja é “o Corpo de Cristo”. É por isso que podemos ter a certeza, e a história tem demonstrado isto, que nada pode destruir a Igreja. Durante estes quase dois mil anos em que a igreja tem participado da história da humanidade, muitos homens poderosos se levantaram contra a Igreja, tentaram destruí-la e não foram poucas as vezes em que se proclamou que a Igreja estava vencida. No entanto, todos estes homens passaram, mas a Igreja se manteve de pé, vencedora, demonstrando que não se trata de obra humana, mas de algo que é divino e contra o qual todos os poderes das trevas não têm podido prevalecer.
b)   Terrena. A partir do livro de Atos dos Apóstolos, nos deparamos com a chamada “igreja local”, ou seja, um conjunto de pessoas que dizem crer em Jesus Cristo e que professam a sua doutrina e que se encontram numa determinada localidade. É uma reunião de pessoas que, chamadas por Deus, passam a obedecer às Escrituras e aos ensinos do Senhor Jesus, e, por isso mesmo, pregam a Cristo e ensinam a Palavra de Deus a todos quantos vivem naquele determinado lugar. O significado de Igreja Local surge, pela vez primeira, em At 8.1, quando se fala na perseguição que se iniciou contra “a igreja que estava em Jerusalém”, para, logo em seguida, dizer que os membros desta igreja foram dispersos, com exceção dos apóstolos, passando a pregar a Cristo em todos os lugares, começando a narrativa por Samaria, para onde fora Filipe. Neste significado, encontramos a palavra “igreja” no plural, como se lê, por exemplo, em At 9.31, que fala das “igrejas em toda Judéia, e Galiléia, e Samaria”. A “igreja local”, portanto, é um grupo social, uma reunião de pessoas, uma partícula da “igreja universal”, do “corpo de Cristo”.
É digno de nota que, alguns que pertencem à Igreja local, organização visível, nunca se tornem membros da igreja universal, organização invisível, por não possuírem uma fé genuína.
Sua identidade. A Igreja como instituição divina, tem o seu manual de regra e conduta: A Bíblia Sagrada. Portanto nela encontramos os elementos que identificam a identidade da Igreja de forma contundente, entre eles, o Amor e a Santidade.
a) O Amor. Deus nos amou (João 3.16), e nos deu, juntamente com a salvação, o dom de amar. Muito além do amor romântico, de um sentimento, o verdadeiro amor ultrapassa essas barreiras e é parte da personalidade do cristão. Ele deve amar:
1)      A Deus sobre todas as coisas (Mt 22.37); e
2)      Ao Próximo como a si mesmo (Mt 22.39).
b) A Santidade. A Santidade é a prioridade de Deus para os seus seguidores (Ef 4.21-24). Ser santo é ficar perto de Deus, e de todo o coração, buscar sua presença, sua justiça e a sua comunhão, é separa-se do pecado.
II. A PRESERVAÇÃO DA IDENTIDADE DA IGREJA
1. Na pregação e no ensino do Evangelho. As duas principais missões da Igreja no mundo são a evangelização e o ensino da Palavra de Deus. Elas representam, respectivamente, o relacionamento horizontal: igreja e o mundo; e o relacionamento central: igreja e seus membros. Quando os cristãos têm consciência dessas missões, passam a entender que sua existência gira em torno delas.
Na igreja cristã, a autoridade central é a Palavra de Deus, diferentemente da Igreja Romana, que elegeu a tradição como fundamento; e do liberalismo teológico, que submete a fé à razão.
A preservação da identidade da igreja é estabelecida a partir da perseverança na doutrina dos apóstolos, na comunhão, na oração e no partir do pão (At. 2.42-44) e na prática do amor, como característica marcante dos seguidores de Jesus (Jo. 13.35).
2. No amor cristão. Outro fator determinante de uma Igreja forte é sem dúvida a demonstração de amor que os membros manifestam uns pelos outros. Mesmo que haja atritos entre os irmãos, esse sentimento funcionará como o adesivo, unindo as partes conflitantes sem causar feridas. Jesus ensinou aos seus seguidores que o amor evidencia a comunhão com Ele e com o Pai: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (João 13:35). O amor cristão é mais do que um sentimento de afeto, é uma atitude que se expressa através do serviço desinteressado. O amor cristão tem no amor sacrificial de Cristo o seu modelo e a comunidade de crentes como o primeiro lugar onde esse amor se expressa (Gl 6.10; Ef 5.25).
3. Na defesa da fé. Cada crente deve preservar a doutrina de Cristo, lutando contra as várias distorções e heresias que surgem a cada dia (2João vv.9,10; 1Tm 6.3-5). Somente poderemos defender a santíssima fé se nos dedicarmos com afinco ao estudo da doutrina bíblica. A doutrina bíblica não pode ser modificada, substituída ou anulada por supostas revelações, visões e profecias (At 20.27-30; 1Tm 6.20). Aqueles que conhecem os fundamentos básicos da fé cristã podem defender suas convicções à luz da Palavra de Deus, como também aplicar as verdades à sua vida.
Saibamos que nossa fé é atacada por inimigos e questionada por pessoas sinceras e desejosas de respostas. Conhecendo bem a doutrina, podemos “responder, com mansidão e temor, a razão da esperança” que há em nós (1Pe 3.15).
III. ALGUNS PERIGOS QUE AMEAÇAM A IGREJA
1. A perda e o esfriamento do amor. “Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras“ (Ap 2.4,5). Estas palavras foram dirigidas a Igreja de Éfeso, aquela que representou os cristãos até o ano 100 depois de Cristo. Quando estas palavras foram proferidas muitos dos seus fundadores já haviam morrido e a maioria dos crentes da segunda geração havia perdido seu zelo por Deus. Era uma igreja muito ocupada. Seus membros faziam muito em beneficio próprio e da comunidade, mas estavam agindo de acordo com motivos errados. A obra de Deus deve ser motivada pelo amor a Deus; caso contrário, não durará.
O crente deve manter vividamente o amor sincero a Jesus Cristo e sua Palavra como um todo. Veja que na advertência à Igreja de Éfeso, o termo ‘deixaste o teu primeiro amor’, caracteriza um ‘abandono’ da fé.
2. A perda do temor a Deus. Num mundo onde impera o relativismo moral e ético, corremos o perigo de perder o temor e a reverência ao Altíssimo. Ser temente a Deus não é ter medo de Deus, mas, muito pelo contrário, é ter respeito a Deus, comportar-se de modo que se reconheça que Deus é o Senhor e que nós somos apenas Seus servos.
Ser temente a Deus é ser dependente de Deus, é negar o convite feito pelo inimigo de sermos auto-suficientes e de querermos ser “pequenos deuses”, dizendo, para nós mesmos, o que é certo ou o que é errado. Jó era temente a Deus(Jó 1.1), reconhecia em Deus o senhorio sobre o universo e sobre a sua vida e, por isso, aborrecia o mal (Pv 8.13). A Bíblia diz que o temor do Senhor é o princípio do conhecimento (Pv 1.7), é o princípio da sabedoria (Sl 111.10).
3. A perda da humildade. “Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, com toda humildade…”(Ef 4.1,2). Humildade é uma condição necessária para todo aquele que quer viver como salvo. Pelo que se pode observar, entre os crentes da Igreja primitiva não havia sentimentos de grandeza, orgulho, soberba, superioridade – “E era um o coração e a alma da multidão dos que criam…” (Atos 4.32). Aqueles cristãos primitivos sabiam que o orgulho, a altivez, a soberba eram coisas do mundo e que “… Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes…”(Tiago 4.6).
Entretanto, é bom ressaltar que:
* Humildade não é pobreza. Normalmente quando alguém quer se referir a um irmão muito pobre costuma-se dizer “é um irmão muito humildezinho”. Porém, nem todo pobre é humilde, bem como nem todo rico é soberbo, ou orgulhoso. Existem pobres revoltados pelo simples fato de serem pobres. Não se conformam, têm inveja dos ricos. Humildade e inveja são dois sentimentos que não podem habitar juntos. A presença de um elimina o outro.
* Humildade também não é Ignorância. Costuma-se dizer: “aquele irmão é muito humilde, nem ler ele sabe”. Todavia, para ser orgulhoso, altivo, soberbo, não precisa saber ler. Nem todo analfabeto é humilde e nem todo letrado e sábio tem que ser altivo e soberbo.
CONCLUSÃOAtualmente as igrejas evangélicas brasileiras estão vivendo uma Crise de identidade. O crescimento do número de adeptos ao movimento evangélico resultou na existência de um fenômeno sociológico: os evangélicos nominais, ou seja, de pessoas que se dizem evangélicas, mas que não se comprometem, ou na verdade, desconhecem os princípios do evangelho de Cristo. Cristãos nominais geram igrejas nominais, com identidades líquidas, diluídas pelo mundanismo, distanciadas da Palavra de Deus.
Tenhamos cuidado para não perdermos a identidade de verdadeiros cristãos. Conservemos a sã doutrina, pois o Inimigo tenta macular a Igreja de Cristo mediante as heresias, modismos e costumes mundanos, através de influencias externas e, principalmente internas. Sigamos o conselho de Paulo a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1Tm 4.16).

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