segunda-feira, 6 de junho de 2016

Aptos para ensinar

Aptos para ensinar 
 
Aptos para ensinar

“Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém pois que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar” (2 Timóteo 3:1-2)

Ao fazermos uma detalhada análise das cartas de Paulo, observamos que há uma preocupação muito grande no que diz respeito ao ensino das Sagradas Escrituras. Notamos que Paulo procura ensinar a Palavra e a revelação que lhe foi dada, de modo que ao mesmo tempo exorta e incentiva outros a serem multiplicadores no meio do povo, ou seja, a ensinar a sã doutrina na sua essência e simplicidade.

Embora Paulo tenha sido criado entre os “doutores da lei”, e embora seu conhecimento teológico a respeito das Escrituras fosse vasto e extenso, para que ele fosse considerado e “constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios na fé e na verdade” (1 Timóteo 2:7), foi necessário que ele se despojasse de toda persuasão humana que possuía até então, abrir mão de seus diplomas teológicos, e render-se por completo à uma total dependência e unção do Espírito Santo em sua vida.

“Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu; Segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo.” (Filipenses 3:5-7)

Fazendo um paralelo com a vida secular, pude observar durante o período em que estava na universidade, que muitos professores, os quais, embora dominem a teoria, não têm o domínio da prática, não conseguem trazer para sua vida profissional as experiências vivenciadas no seu cotidiano e acabam tornando o ensino algo muito complexo e difícil de ser assimilado por aqueles que o ouvem. Um exemplo muito coerente, são daqueles que passaram por diversas formações acadêmicas de mestrado, doutorado e até mesmo pós-doutorado e em sua profissão não conseguem exercer a docência. Estes preferem trancar-se em seus gabinetes ou mesmo ficar a disposição das universidades servindo apenas de pesquisadores. Isso porque, ainda que possua um vasto e riquíssimo conhecimento em sua área, são inaptos para o ensino, apesar de possuírem um elevado nível de conhecimento teórico não desenvolveram a arte de se expressar.

Um outro exemplo bem clássico é o que observamos em nossas igrejas: homens que possuem um vasto conhecimento teológico, conhecem muito de exegese, hermenêutica, homilética, escatologia, apologética, dentre outras ciências cristãs, no entanto, se expressam de forma tão acadêmica e científica, (imaginando talvez que estejam falando a mestres e doutores), não conseguindo atingir o alvo da pregação do evangelho, exatamente por buscar honras para si mesmo, tentando persuadir o povo com “palavras bonitas” e discursos “bem elaborados”, esquecendo-se da essência e simplicidade do evangelho que Jesus pregava e fazendo do púlpito um ambiente de realização e promoção pessoal. São estes conhecedores da teoria? Certamente sim. No entanto, nota-se que nunca renderam-se verdadeiramente ao domínio do Espírito Santo, deixando as teorias humanas falarem mais alto do que o próprio Deus! Com isso, não estou afirmando que não é necessário o conhecimento teológico para um bom desenvolvimento do ensino, porém temos uma declaração da própria teologia renunciando sua glória em relação a pregação do evangelho.

Certa vez um teólogo norte-americano, presidente de seminário, mestre em teologia, declarou:

“Em nossos seminários teológicos somos desmascarados ao estudar que muitos dos avivamentos que já aconteceram foram feitos através de homens que nunca se formaram num seminário.”

A partir dessa afirmação, notamos que embora a teologia seja uma ferramenta muito importante para os pregadores da Palavra, esta não se constitui em condição sine qua non para o ensino do Evangelho de Jesus Cristo. Isso significa dizer, que o Espírito Santo usa quem Ele quer e não escolhe homens capacitados, mas capacita a todo aquele que Ele escolhe e se coloca em sua total dispensação. Um grande exemplo bíblico é do Apóstolo Pedro que mesmo indouto e iletrado (sem conhecimento acadêmico e teológico), porém totalmente entregue a dependência do Espírito Santo, ficou conhecido como um grande pregador na história da humanidade, o qual em seu primeiro sermão após o pentecostes (descida do Espírito Santo) levou mais de cinco mil almas aos pés do Senhor Jesus. Ainda que Pedro não possuísse um conhecimento sistematizado e teórico exigido pelos doutores da época, ele tinha o mais importante: a experiência de ter andado lado a lado com o maior de todos os mestres.

Nota-se porém, que para ensinar, precisamos conhecer; e não somente conhecer, faz-se necessário que tenhamos domínio daquilo que ensinamos. É preciso ter um conhecimento profundo e apurado se quisermos ser reconhecidos como mestres no ensino.

“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus.” (2 Timóteo 3:14-15)

Paulo falava daquilo que conhecia na teoria e na prática, mediante o que o Espírito Santo lhe ensinava e o fazia lembrar. Assim foi com os profetas, com os apóstolos e com todos os demais homens inspirados por Deus para escrever o mais completo de todos os livros, a Bíblia.

Você pode estar se perguntando: - Mas para ensinar sobre as coisas espirituais é necessária também tanta exigência? Será que é preciso conhecer a Bíblia de Gênesis a Apocalipse para poder transmitir a outros os seus ensinamentos?

Imagine um médico que recém saiu da universidade, o qual não possui experiência alguma na prática e resolve montar uma escola de medicina, na qual ele será o professor. Você teria coragem e segurança em estudar com ele? Estaria ele apto para o ensino? Ainda que ele tenha toda boa vontade e desejo de compartilhar seus conhecimentos, mesmo assim não é suficiente, pois ele precisa da prática, da vivência, da referência, para então ter domínio e segurança daquilo que fala.

“Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos, e testificamos o que vimos;” (João 3:11)

Quando nos referimos a Palavra de Deus, assim como o médico, estamos lidando com vidas, e muito mais, estamos adentrando na seara do reino espiritual, e um ensinamento mal elaborado e deturpado cheio de falácias pode levar muitas vidas para o inferno. É bem verdade que o Espírito Santo nos ensina tudo aquilo que havemos de falar, como está escrito,

“Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” (João 14:26)

“Quando, pois, vos conduzirem e vos entregarem, não estejais solícitos de antemão pelo que haveis de dizer, nem premediteis; mas, o que vos for dado naquela hora, isso falai, porque não sois vós os que falais, mas o Espírito Santo.” (Marcos 13:11)

No entanto, para que Ele possa falar tudo o que convém e como convém, é necessário que façamos primeiro a nossa parte. E para ensinar é preciso conhecer, e não um conhecimento superficial, mas um conhecimento profundo e detalhado, conseqüente de uma comunhão íntima e meditação com a Palavra.. Conhecer a Escritura é tão importante e poderosa, que foi exatamente com ela e por meio dela que Jesus venceu as tentações do diabo (Mateus 4:1-11). E se não conhecermos da Palavra não teremos argumentos para destruí-lo. (1 João 2:14b)

Estar apto para ensinar, não é simplesmente ter o desejo de ensinar, (ainda que ter o desejo é muito importante e não pode ser desprezado). Estar apto para ensinar não significa também ter uma formação acadêmica exemplar, isso porque, nem todo bom aluno é um bom professor. É preciso mais que saber, é preciso ter o dom de expressar o conhecimento. E o que é então ser apto? Ser apto para ensinar é primeiramente um chamado e uma vocação (Efésios 4:11-12).

“De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; Se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; Ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria.” (Romanos 12:6-8)

É também ser capaz, ser hábil, ser idôneo. Se você deseja ensinar, é necessário que se ache em condições para desempenhar tal função.

Um dos requisitos essenciais para ensinar a Palavra é manejá-la bem, ou seja, é conhecê-la com profundidade na sua essência, a fim de que não venha a ser envergonhado quando for argüido a respeito do que ensina. Ainda escrevendo a Timóteo, em sua segunda carta, Paulo diz o seguinte:

“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” (2 Timóteo 2:15)

O próprio Jesus nos adverte quando diz:

“Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras [Teoria], nem o poder de Deus [Prática].” (Mateus 22:29 – acréscimo da autora)

“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam;” (João 5:39)

Como servos do Senhor, como filhos do Deus Altíssimo, o qual em sua essência é amor e sabedoria, precisamos estar aptos para o ensino e preparados para toda a boa obra. Não fomos escolhidos por Deus para nos acomodarmos em sermos apenas salvos da sua ira vindoura, fomos escolhidos para frutificar,

“Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça;” (João 15:16a)

Todos nós fomos criados para um propósito e fomos chamados por Deus para agregarmos, para acrescentarmos no Seu Reino. E para que isso aconteça, cada cristão precisa conhecer o seu chamado, precisa buscar na revelação das Escrituras inspiração para “manejar bem a palavra da verdade”.

Todos que ensinam estão aptos para ensinar? Podemos afirmar que não. Mas todos que desejam ensinar podem se tornar aptos para tal atividade? Partindo do pressuposto de que todos nós fomos feitos com o mesmo potencial e que o mesmo Espírito habita em nós, podemos afirmar que sim. Porém, é necessário ter comunhão com Deus para saber discernir seu chamado e dons que lhes fora outorgado para edificação do Corpo de Cristo, que é a Igreja. É necessário também se aprofundar no conhecimento da Palavra de Deus, dessa forma Deus nos dará inspiração e aptidão para o ensino de Sua Palavra.


Deus os abençoe,

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