domingo, 25 de março de 2018

A Bíblia e o princípio da ética Cristã

A Bíblia e o princípio da ética Cristã 

Á ética cristã é o sistema de valores morais associado ao Cristianismo histórico e que retira dele a sustentação teológica e filosófica de seus preceitos.

Como as demais éticas já mencionadas acima, a ética cristã opera a partir de diversos pressupostos e conceitos que acredita estão revelados nas Escrituras Sagradas pelo único Deus verdadeiro. São estes:

1. A existência de um único Deus verdadeiro, criador dos céus e da terra. A ética cristã parte do conceito de que o Deus que se revela nas Escrituras Sagradas é o único Deus verdadeiro e que, sendo o criador do mundo e da humanidade, deve ser reconhecido e crido como tal e a sua vontade respeitada e obedecida.

2. A humanidade está num estado decaído, diferente daquele em que foi criada. A ética cristã leva em conta, na sistematização e sinterização dos deveres morais e práticos das pessoas, que as mesmas são incapazes por si próprias de reconhecer a vontade de Deus e muito menos de obedecê-la. Isso se deve ao fato de que a humanidade vive hoje em estado de afastamento de Deus, provocado inicialmente pela desobediência do primeiro casal. A ética cristã não tem ilusões utópicas acerca da "bondade inerente" de cada pessoa ou da intuição moral positiva de cada uma para decidir por si próprio o que é certo e o que é errado. Cegada pelo pecado, a humanidade caminha sem rumo moral, cada um fazendo o que bem parece aos seus olhos. As normas propostas pela ética cristã pressupõem a regeneração espiritual do homem e a assistência do Espírito Santo, para que o mesmo venha a conduzir-se eticamente diante do Criador.

3. O homem não é moralmente neutro, mas inclinado a tomar decisões contrárias a Deus, ao próximo. Esse pressuposto é uma implicação inevitável do anterior. As pessoas, no estado natural em que se encontram (em contraste ao estado de regeneração) são movidas intuitivamente, acima de tudo, pela cobiça e pelo egoísmo, seguindo muito naturalmente (e inconscientemente) sistemas de valores descritos acima como humanísticos ou naturalísticos. Por si sós, as pessoas são incapazes de seguir até mesmo os padrões que escolhem para si, violando diariamente os próprios princípios de conduta que consideram corretos.

4. Deus revelou-se à humanidade. Essa pressuposição é fundamental para a ética cristã, pois é dessa revelação que ela tira seus conceitos acerca do mundo, da humanidade e especialmente do que é certo e do que é errado. A ética cristã reconhece que Deus se revela como Criador através da sua imagem em nós. Cada pessoa traz, como criatura de Deus, resquícios dessa imagem, agora deformada pelo egoísmo e desejos de autonomia e independência de Deus. A consciência das pessoas, embora freqüentemente ignorada e suprimida, reflete por vezes lampejos dos valores divinos. Deus também se revela através das coisas criadas. O mundo que nos cerca é um testemunho vivo da divindade, poder e sabedoria de Deus, muito mais do que o resultado de milhões de anos de evolução cega. Entretanto é através de sua revelação especial nas Escrituras que Deus nos faz saber acerca de si próprio, de nós mesmos (pois é nosso Criador), do mundo que nos cerca, dos seus planos a nosso respeito e da maneira como deveríamos nos portar no mundo que criou.

Assim, muito embora a ética cristã se utilize do bom senso comum às pessoas, depende primariamente das Escrituras na elaboração dos padrões morais e espirituais que devem reger nossa conduta neste mundo. Ela considera que a Bíblia traz todo o conhecimento de que precisamos para servir a Deus de forma agradável e para vivermos alegres e satisfeitos no mundo presente. Mesmo não sendo uma revelação exaustiva de Deus e do reino celestial, a Escritura, entretanto, é suficiente naquilo que nos informa a esse respeito. Evidentemente não encontraremos nas Escrituras indicações diretas sobre problemas tipicamente modernos como a eutanásia, a AIDS, clonagem de seres humanos ou questões relacionadas com a bioética. Entretanto, ali encontraremos os princípios teóricos que regem diferentes áreas da vida humana. É na interação com esses princípios e com os problemas de cada geração, que a ética cristã atualiza-se e contextualiza-se, sem jamais abandonar os valores permanentes e transcendentes revelados nas Escrituras.

É precisamente por basear-se na revelação que o Criador nos deu que a ética cristã estende-se a todas as dimensões da realidade. Ela pronuncia-se sobre questões individuais, religiosas, sociais, políticas, ecológicas e econômicas. Desde que Deus exerce sua autoridade sobre todas as dimensões da existência humana, suas demandas nos alcançam onde nos acharmos – inclusive e principalmente no ambiente de trabalho, onde exercemos o mandato divino de explorarmos o mundo criado e ganharmos o nosso pão.

É nas Escrituras Sagradas, portanto, que encontramos o padrão moral revelado por Deus. Os Dez Mandamentos e o Sermão do Monte proferido por Jesus são os exemplos mais conhecidos. Entretanto, mais do que simplesmente um livro de regras morais, as Escrituras são para os cristãos a revelação do que Deus fez para que o homem pudesse vir a conhecê-lo, amá-lo e alegremente obedecê-lo. A mensagem das Escrituras é fundamentalmente de reconciliação com Deus mediante Jesus Cristo. A ética cristã fundamenta-se na obra realizada de Cristo e é uma expressão de gratidão, muito mais do que um esforço para merecer as benesses divinas.

A ética cristã, em resumo, é o conjunto de valores morais total e unicamente baseado nas Escrituras Sagradas, pelo qual o homem deve regular sua conduta neste mundo, diante de Deus, do próximo e de si mesmo. Não é um conjunto de regras pelas quais os homens poderão chegar a Deus – mas é a norma de conduta pela qual poderá agradar a Deus que já o redimiu. Por ser baseada na revelação divina, acredita em valores morais absolutos, que são à vontade de Deus para todos os homens, de todas as culturas e em todas as épocas.

A BÍBLIA FALA SOBRE ÉTICA?

Sim. O mais antigo código de ética que conhecemos é a listagem dos 10 mandamentos. Ali se encontram as diretrizes que deveriam fundamentar o relacionamento do povo com Deus, o relacionamento de hebreu com hebreu e o relacionamento com os estrangeiros. Esse código de ética é exposto em seu real sentido no NT.

O vocábulo grego ethos é a palavra comum para designar costumes, ritos, procedimentos e maneiras. É de onde deriva a nossa palavra ética. Os seus principais usos no NT são:

a. Costume, hábito (cf. Lc 1,9; 2,42; 22,39; Jo 19,40; At 25,16; 28,17; Heb 10,25)

b. Lei, norma (cf. At 6,14; 15,1; 16,21; 21,21)

Analisemos mais de perto o item b acima, a ética entendida como Lei, Norma. (1) Estêvão é acusado de quebrar a ética vigente, e por isso deveria ser punido: “Este homem não cessa de proferir palavras hostis contra o Lugar santo e contra a Lei; de fato nós o ouvimos dizer que esse Jesus, o Nazoreu, destruiria este lugar e mudaria as normas que Moisés nos transmitiu” (TEB – At 6,14-15); (2) A ética segundo a Lei de Moisés era o padrão requerido pelos judaizantes junto aos novos convertidos, razão de conflito com a mensagem de Paulo (At 15,1; 21,21); (3) Não apenas os judeus se sentiam ameaçados com a pregação da nova ética cristã. Os romanos assim também argumentavam: “Esses homens lançam a perturbação em nossa cidade: são judeus e preconizam normas de comportamento que não é permitido a nós, romanos, nem admitir nem seguir” (TEB – At 16,20b-21).

Portanto, o que se configura é que a mensagem neotestamentária estabelece normas comportamentais ideais, mais de acordo com o verdadeiro espírito da Lei de Moisés. A questão que se nos apresenta é como esse novo padrão cristão, que já desde o início provocara polêmica com os judeus e romanos, deve ser exercitado por nós cristão modernos.

1. A ÉTICA DO ANTIGO TESTAMENTO

1.1 O caráter ético de Deus
A religião dos judeus tem sido descrita como “monoteísmo ético”. O Velho Testamento fala da existência de um único DEUS, o criador e Senhor de todas as coisas. Esse Deus é pessoal e tem um caráter positivo, não negativo ou neutro. Esse caráter se revela em seus atributos morais. Deus é Santo (Lv 11, 45; Sl 99, 9), justo (Sl 11, 7; 145, 17), verdadeiro (Sl 119, 160; Is 45, 19), misericordioso (Sl 103, 8; Is 55, 7), fiel (Dt 7, 9; Sl 33, 4).

1.2 A natureza moral do homem
A Escritura afirma que Deus criou o ser humano à sua semelhança (Gn 1, 26-27). Isso significa que o homem partilha, ainda que de modo limitado, do caráter moral de seu Criador. Embora o pecado haja distorcido essa imagem divina no ser humano, não a destruiu totalmente. Deus requer uma conduta ética das suas criaturas: “Sede santos porque eu sou santo” (Lv 19, 2; 20, 26).

1.3 A Lei de Deus
A lei expressa o desejo que Deus tem de que as suas criaturas vivam vidas de integridade. Há três tipos de leis no Antigo Testamento: cerimoniais, civis e morais. Todas visavam disciplinar o relacionamento das pessoas com Deus e com o seu próximo. A lei inculca valores como a solidariedade, o altruísmo, a humildade, a veracidade, sempre visando o bem-estar do indivíduo, da família e da coletividade.

1.4 Os Dez Mandamentos
A grande síntese da moralidade bíblica está expressa nos Dez Mandamentos (Ex 20, 1-17; Dt 5, 6-21). As chamadas “duas tábuas da lei” mostram os deveres das pessoas para com Deus e para com o seu próximo. O Reformador João Calvino falava nos três usos da Lei: judicial, civil e santificador. Todas as confissões de fé reformadas dão grande destaque à exposição dos Dez Mandamentos.

1.5 A contribuição dos profetas
Alguns dos preceitos éticos mais nobres do Antigo Testamento são encontrados nos livros dos Profetas, especialmente Isaías, Oséias, Amós e Miquéias. Sua ênfase está não só na ética individual, mas social. Eles mostram a incoerência de cultuar a Deus e oferecer-lhe sacrifícios, sem, todavia ter um relacionamento de integridade com o semelhante. Ver Isaías 1, 10-17; 5, 7 e 20; 10 1-2; 33, 15; Oséias 4, 1-2; 6, 6; 10, 12; Amós 5, 12-15, 21-24; Miquéias 6, 6-8.

2. A ÉTICA DO NOVO TESTAMENTO

1. A ética do Novo Testamento não contrasta com a do Antigo, mas nele se fundamenta. Jesus e os Apóstolos desenvolvem e aprofundam princípios e temas que já estavam presentes nas Escrituras Hebraicas, dando também algumas ênfases novas.

2. A ética de Jesus: a ética de Jesus está contida nos seus ensinos e é ilustrada pela sua vida.O tema central da mensagem de Jesus é o conceito do “reino de Deus”. Esse reino expressa uma nova realidade em que a vontade de Deus é reconhecida e aceita em todas as áreas. Jesus não apenas ensinou os valores do reino, mas os exemplificou com a vida e o seu exemplo.

3. O Sermão da Montanha: uma das melhores sínteses da ética de Jesus está contida no Sermão da Montanha (Mateus Caps. 5 a 7). Os seus discípulos (os Filhos do Reino) devem caracterizar-se pela humildade, mansidão, misericórdia, integridade, busca da justiça e da paz, pelo perdão, pela veracidade, pela generosidade e acima de tudo pelo amor. A moralidade deve ser tanto externa como interna (sentimentos, intenções): Mt 5, 28. A fonte do mal está no coração: Mc 7, 21-23.

4. A vontade de Deus: Jesus acentua que a vontade ou o propósito de Deus é o valor supremo. Vemos isso, por exemplo, em Mt 19, 3-6. O maior pecado do ser humano é o amor próprio, o egocentrismo (Lc 12, 13-21; 17, 33). Daí a ênfase nos dois grandes mandamentos que sintetizam toda a lei: Mt 22, 37-40. Outro princípio importante é a famosa “regra de ouro”: Mt 7, 12.

5. A ética de Paulo: Paulo baseia toda a sua ética na realidade da redenção em Cristo. Sua expressão característica é “em Cristo” (II Co 5, 17; Gl 2, 20; 3, 28; Fp 4, 1). Somente por estar em Cristo e viver em Cristo, profundamente unido a Ele pela fé, o cristão pode agora viver uma nova vida, dinamizado pelo Espírito de Cristo. Todavia, o cristão não alcançou ainda a plenitude, que virá com a consumação de todas as coisas. Ele vive entre dois tempos: o “já” e o “ainda não”.

6. Tipicamente em suas cartas, depois de expor a obra redentora de Deus por meio de Cristo, Paulo apresenta uma série de implicações dessa redenção para a vida diária do crente em todos os aspectos (Rm 12, 1-2; Ef 4, 1)

7. Entre os motivos que devem impulsionar as pessoas em sua conduta está a imitação de Cristo (Rm 15, 5; Gl 2, 20; Ef 5, 1-2; Fp 2, 5). Outro motivo fundamental é o amor (Rm 12, 9-10; I Co 13, 1-13; 16, 14; Gl 5, 6). O viver ético é sempre o fruto do Espírito (Gl 5, 22-23).

8. Na sua argumentação ética, Paulo dá ênfase ao bem-estar da comunidade, o corpo de Cristo (Rm 12, 5; I Co 10, 17; 12, 13 e 27; Ef 4, 25; Gl 3, 28). Ao mesmo tempo, ele valoriza o indivíduo, o irmão por quem Cristo morreu (Rm 14, 15; I Co 8, 11; I Ts 4, 6; Fm 16)

9. Acima de tudo, o crente deve viver para Deus, de modo digno dele, para o seu inteiro agrado: Rm 14, 8; II Co 5, 15; Fp 1, 27; Cl 1, 10; I Ts 2, 12; Tt 2, 12.

CERTO OU ERRADO?

A ética da sociedade é extremamente relativista, em termos de moral e costumes, o terreno é como um pântano, lodoso e escorregadio, do qual não se sabe onde estão os limites a serem observados. Cumpre-se o versículo em que Deus condena os relativistas do tempo do profeta Isaias, que diziam que o amargo era doce, e que o doce era amargo; que o escuro era claro, e que o claro era escuro – Is. 5.20.

"Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória. Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, a afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria; Pelas quais coisas vêm a ira de Deus sobre os filhos da desobediência" (Cl 3.1-6).

Mais do que uma simples lista de “faça” ou “não faça”, a Bíblia nos dá instruções detalhadas de como um Cristão deve viver. A Bíblia é tudo que precisamos para saber como viver a vida Cristã. No entanto, a Bíblia não se dirige diretamente a exatamente todas as situações que vamos ter que encarar em nossas vidas. Como então ela é suficiente? Em situações assim é que temos que aplicar a Ética Cristã.
O Cristão, como sal da terra e luz do mundo, tem dificuldade em se movimentar num mundo em que os valores morais estão invertidos. Entretanto, tem a vantagem de não adotar como referencial ético a sociedade sem Deus.

Enquanto os referenciais do mundo são movediços, instáveis e mutantes, ao sabor do tempo e do lugar, o guia infalível do crente em Jesus é a Palavra de Deus, que é Lâmpada para os pés e luz para o caminho - Sl. 119.105.

Assim, um crente fiel não só deve fazer diferença, mas seu comportamento deve ser um exemplo para a sociedade. É grande responsabilidade, perante Deus, a Igreja e o mundo. Para o crente em Jesus a Palavra de Deus é lâmpada e luz para o seu viver.

VISÃO GERAL DAS ABORDAGENS ÉTICAS

Todas as abordagens éticas partem da necessidade de se responder a questões que envolvem o que é certo e o que é errado. Por exemplo: Mentir é sempre errado? Há situações em que deixar de falar a verdade é justificável para o cristão? O aborto é certo, se uma jovem crente foi vitima de um estupro?

O posicionamento do cristão, neste inicio de século, não é fácil de ser tomado, face as abordagens e questões éticas contemporâneas. É que, em termos de moral, de conduta, de costumes, que formam as culturas dos povos, o que se vê é um verdadeiro terreno escorregadio e pantanoso, em que não se sabe onde o certo termina, e começa o errado. Os limites da moral estão cada vez mais sendo elastecidos e abolidos. O que era certo há apenas 10 anos, hoje é visto como errado; o que era errado, agora é visto como certo.

O profeta Isaias bem traduziu esse fenômeno, há quase mil anos antes de Cristo, quando bradou: “AI DOS QUE AO MAL CHAMAM BEM E AO BEM, MAL! QUE FAZEM DA ESCURIDADE LUZ, E DA LUZ, ESCURIDADE, E FAZEM DO AMARGO DOCE, E DO DOCE, AMARGO!” – Is. 5.20.

Isso prova que a humanidade, não obstante o perpassar dos séculos, continua a mesma, em termos de ética e moral, sob o domínio avassalador dos formadores de opinião; principalmente nos tempos pós-modernos, com a influência dos meios de comunicação, notadamente da TV e da Internet, a rede mundial de computadores, que colocam dentro dos lares uma gama imensa de informações, as quais, na maioria dos casos, não permitem ao expectador uma filtragem daquilo que é certo ou errado.

Admitindo que tudo isso seja verdade, como deve o cristão posicionar-se, face às questões éticas e suas abordagens mais comuns?

A resposta não pode ser tão simples, mas o cristão tem a vantagem de possuir um código de ética extraordinário, que é a Bíblia Sagrada, por ele aceita como inspirada a revelada por Deus, através do Espírito Santo. Ele pode dizer com ousadia, como fez o salmista: “LÂMPADA PARA OS MEUS PÉS É A TUA PALAVRA E LUZ, PARA O MEU CAMINH0” – Sl. 119.105.

Pode confiar no que disse Jesus em relação a sua Palavra: “O CÉU E A TERRA PASSARÃO, MAS AS MINHAS PALAVRAS NÃO HÃO DE PASSAR” – Mt. 24.34. - Essa afirmação é fundamental, é alicerce inabalável para o crente em Jesus. Ele sabe que tudo pode passar neste mundo, os homens, as idéias, as coisas, a moral, os usos e costumes, mas as palavras de Jesus não passarão.

O PRINCIPIO DA LICITUDE E DA CONVENIÊNCIA

Na primeira Carta aos Coríntios, vemos Paulo ensinar: “TODAS AS COISAS ME SÃO LÍCITAS, MAS NEM TODAS AS COISAS CONVÊM; TODAS AS COISAS ME SÃO LÍCITAS, MAS EU NÃO ME DEIXAREI DOMINAR POR NENHUMA” – I Co. 6.16 - “TODAS AS COISAS ME SÃO LICITAS, MAS NEM TODAS AS COISAS CONVEÊM” – I Co. 10.23a.

Esse critério orienta o cristão a que não faça as coisas apenas porque são licitas, mas porque são licitas e convêm, à luz do referencial ético que é a Palavra de Deus. Há quem entenda esse principio, argumentando que se podemos fazer algo, é porque é licito. À luz da ética cristã, não é bem assim que se deve argumentar.

Primeiro, diante de uma atitude ou decisão a tomar, é preciso indagar se tal comportamento está de acordo com a Palavra de Deus, se tem apoio nas Escrituras.

Segundo, mesmo que seja lícito, se convém. Por exemplo: é lícito o crente tomar conhecimento de uma falta cometida por um irmão, e dizê-la a algumas pessoas? Dependendo do caso, podemos responder que sim. Mas há outra indagação: Convém dizer? Essa conveniência envolve não só a licitude em si, mas também a oportunidade de se dizer ou não. Conveniência e oportunidade devem juntar-se à licitude na aprovação ou não de uma atitude cristã.

Testemunhei o caso de um irmão que vendeu um automóvel usado a outro, recebendo a devida importância do comprado, membro da mesma Igreja local. Uma semana depois, o veiculo apresentou grave defeito, “Batendo motor”, como se diz na linguagem dos mecânicos. O comprador diante do prejuízo, procurou o vendedor e reclamou do fato. Este lhe disse que nada tinha a ver com o caso, pois já houvera vendido o veiculo, e que o comprador deveria assumir o dano, pois ocorrera em sua mão.

Acontece que, o vendedor sabia que o carro esta preste a apresentar o problema, segundo um mecânico que examinara o carro. Mas silenciou quanto a isso, e passou o carro “para frente”, para um irmão seu em Cristo. Com isso, ele não se pautou pela ética da Palavra de Deus, e causou grande mal-estar entre as respectivas famílias.

Fosse o vendedor um verdadeiro cristão, indagaria: “É lícito fazer isso?, e acrescentaria: “Convém a mim, como cristão, agir dessa forma?”. Decerto, se tais perguntas fossem feitas em oração, diante de Deus jamais teriam respostas positivas”.

Interessante é dizer que, tempos depois, o vendedor desonesto sofreu grave acidente em outro veiculo, sofrendo danos materiais e humanos. Não terá sido uma cobrança do Juiz de toda terra?

Não se deve brincar de ser crente, pois a diz a Bíblia: “NÃO ERREIS: DEUS NÃO SE DEIXA ESCARNECER; PORQUE TUDO O QUE O HOMEM SEMEAR, ISSO TAMBÉM CEIFARÁ”- Gl. 6.7.

Conforme este principio o cristão deve indagar: “O que desejo fazer é licito?Convém fazer, segundo a Palavra de Deus?”. Se a resposta for positiva, diante da Bíblia, pode ser feito. Se não, deve ser rejeitado. O que é licito e conveniente não fere outros princípios bíblicos.

1. A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA CRISTÃ COMO CARACTERÍSTICA PESSOAL

O caráter cristão só pode ser formado e desenvolvido se tivermos a mente de Cristo (1Cor 2,16). Paulo é enfático ao afirmar que o crente não tem o espírito do mundo, mas o Espírito que vem de Deus (1Cor 6,12).

Há dois vocábulos para a palavra mente: (1) nous, conforme 1Cor 2,16 (cf. também, dentre outros, Lc 24,45; Rm 7,23.25; 11,34; 12,2; Ef 4,23). Trata-se do entendimento, da compreensão. O ensino de Paulo é que tal entendimento humano deve ser na perspectiva de Cristo – e não dos homens! (2) nóema, conforme 2Cor 3,14; 4,4; 10,5; 11,3 e Fl 4,7. Trata-se dos sentidos, das percepções ou intenções que temos. Por exemplo, Paulo afirma que o deus deste século cegou os entendimentos (nóema) dos incrédulos (2 Co 4,4), razão pela qual eles não tinham condições de ver a luz do evangelho da glória de Cristo.

Um texto bem conhecido, mas pouco compreendido, fala exatamente da necessidade de termos uma mente transformada. Transformação implica necessariamente em movimento. Quando Paulo falou “… e não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente” (Rm 12,2), o apelo é que a nossa mente, o nosso entendimento, não deve mais ficar nem a mercê do mundo, nem à nossa mercê, mas segundo a mente de Cristo.

APLICANDO: Para desenvolvermos essa “mente” de Cristo é necessário que conheçamos o que Cristo fez, como fez e por que fez. Imagine-se aprendendo um novo idioma: (1) é necessário ouvir, (2) ouvir bem e repetir de forma audível, (3) falar para alguém para testar a clareza daquilo que você aprendeu. De forma análoga, para se ter a mente de Cristo é necessário, (1) ter sensibilidade para sentir como Cristo sentiu, (2) repetir para si mesmo quais são os padrões que Cristo deseja que tenhamos, (3) agir com o próximo de acordo com os padrões aprendidos (passar do teórico para o prático). O Sermão do Monte (Mt 5-7) é um manancial de instruções para o desenvolvimento de posturas éticas segunda a mente de Cristo.

2. A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA CRISTÃ NOS RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS

Este tópico se refere à parte prática da ética cristã. Quando nos relacionamos com o próximo, que postura a mente de Cristo exige que tenhamos?

Paulo foi enfático ao afirmar que, nos relacionamentos interpessoais, o cristão não deve pensar a respeito de si mesmo além do que convém (Rm 12,3). Este é o primeiro passo: eu devo me relacionar com o próximo sem que haja em mim qualquer sentimento de superioridade. Assim sendo, a minha sensibilidade de julgamento sobre o que é certo ou errado no próximo estará submissa à consideração sobre a minha própria pessoa.

O segundo passo é que há uma imperiosa necessidade de associarmos opinião pessoal com opinião alheia. Os fortes devem respeitar os fracos (Rm 15,1), com o devido cuidado de não pormos tropeço ou escândalo aos nossos irmãos (Rm 14,13). Ou seja, ainda que o nosso “eu acho” seja aceitável, nem sempre ele convém (1Cor 6,12; 10,23).

APLICANDO. Temos opiniões diferentes sobre muitos temas. Ao contrário do que muitos pensam, essa pluralidade tende a ser mais benéfica do que negativa. Porém, quando há impasse, quem deve prevalecer? A solução proposta por Paulo é simples: seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração (ARA – Col 3,15). Literalmente, o verso afirma a paz de Cristo arbitre em vossos corações. O verbo arbitrar (gr. brabéuo) é raro no NT (somente essa ocorrência). É de onde provém a nossa palavra brabo/bravo. O juiz era encarado como uma pessoa austera, brava. Talvez Paulo estivesse fazendo um jogo de palavras, pois ele reivindica a paz de Cristo – alguns textos trazem a paz de Deus (e não a ira de Deus) como a responsável por dominar os sentimentos. O bravo dá lugar ao pacífico. Muitas das nossas opiniões antagônicas (muito de nossa ética) seriam resolvidas simplesmente pela observação e promoção da paz de Cristo.

3. A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA CRISTÃ NOS RELACIONAMENTOS SECULARES

É freqüente nos depararmos com situações sociais onde a consciência cristã (a mente de Cristo) nos inquire se aquilo está correto ou não e, naturalmente, qual devem ser a nossa opinião e atitude diante de situações controversas. Opinião. Entendemos que o cristão deve coletar o máximo possível de informações a respeito de um tema e passá-las pelo crivo do segredo, da universalidade e da oração (vide acima). Por exemplo, para respondermos sobre “o que você acha sobre o aborto?”, um bom procedimento é conferirmos um conjunto de informações sobre o tema que nos permita uma opinião mais adequada. Há muitos “eu acho” no nosso meio, oriundo de informações precárias sobre o tema em pauta e, especialmente, sem que uma mentalidade cristã os norteie. A opinião pessoal é bem enfatizada por Paulo: “Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente… assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” (Rm 14,5.12).

Atitude. Uma opinião deve levar a ação. Não importa quão razoável possa ser uma idéia – se ela não implicar em ação torna-se idéia morta, inútil. Observemos dois exemplos: (1) Uma rápida análise no que a imprensa fala, escreve e mostra, nos daria a certeza: é a imprensa quem possui a solução e os mecanismos para um bom governo. Na inquirição de Rubem Amorese, um apanhado das observações do Boris Casoy, uma amostra apenas dos últimos seis meses, seriam suficientes para canonizá-lo. Será que ele é tão bom quanto suas opiniões? (2) O segundo exemplo pode ser visto no âmbito do discurso político partidário. A rigor, não há idéias anti-éticas. Na análise enquanto discurso, as idéias são na verdade um primor de ética. O contra-senso se evidencia é na descontinuidade opinião e atitude.

Pois o que se requer da Igreja não é somente uma apresentação de um manual de ética para os seus membros e para a sociedade. A postura da Igreja deve revelar opinião e atitude. Não é porque o Estado, a TV, as personalidades formadoras de opinião acham algo sobre um tema que os cristãos assim também devam achar. A pregação, o ensino e a atitude da Igreja devem ser reflexos de sua cristounous (mente de Cristo).

Enquanto é verdade que a Palavra de Deus não se refere diretamente a toda situação que teremos que encarar em nossas vidas, ela ainda é completamente suficiente para vivermos a vida Cristã. Na maioria das situações, podemos ver claramente o que a Bíblia diz e seguir o percurso apropriado baseado nisso. Nos casos onde as Escrituras não nos dão instruções explícitas, precisamos procurar por princípios bíblicos que se aplicam a tal situação. Novamente, na maioria dos casos isso vai ser fácil de fazer. A maioria dos princípios que os Cristãos seguem é suficiente para a maioria das situações. No raro caso onde não há uma passagem bíblica nem um princípio aparentemente claro, precisamos depender de Deus. Precisamos orar meditar em Sua Palavra e abrir-nos ao Espírito Santo. O Espírito vai usar a Bíblia para nos ensinar e guiar ao princípio que precisamos honrar para que possamos andar e viver como um Cristão deve.

Que Deus nos ajude a viver bem com todos numa sociedade pluricultural machista e preconceituosa, de diversas formas; para isso devemos nos pautar pelos princípios da Palavra do Senhor; e que Ele nos abençoe e nos guarde em nome de Jesus, amém!

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