domingo, 25 de março de 2018

Educação Cristã

Educação Cristã
 
INTRODUÇÃO

A Humanidade conseguiu inúmeros avanços. Chegamos ao século XXI, podendo, através dos progressos da cibernética, conversar em tempo real com alguém do outro lado do planeta. Chegamos ao controle do átomo, realização de transplantes, clonagem, conquistas espaciais com satélites e naves, fibra ótica, robótica, etc. Em contrapartida, não temos respostas para questões relacionadas à fome, à violência, à corrupção, à degradação e exploração do meio-ambiente, à falta de respeito com outras formas de vida e para com outros semelhantes.

A libertação do homem em decorrência    do progresso técnico-científico não ocorreu, como se esperava. Acirram-se, continuamente, conflitos entre os povos; o alto poder destrutivo das armas transformou guerras em genocídios; cresceu assustadoramente a poluição dos mares e da atmosfera do planeta, enquanto os recursos energéticos vão se exaurindo e o homem conseguiu até alterar a ordem climática da Terra. “Estamos mais próximos de um suicídio coletivo do que de uma libertação”, afirma sabiamente Fernando Guedes de Mello, em seu ensaio Ética, Cultura & Organização (in: www.espirito.org.br/portal/artigos). E cita Peter Drucker: “o caráter e a integridade, por si só, nada realizam. Mas sua ausência aniquila tudo o mais” (grifos nossos).

Ética vem do grego “ethico”, que se origina em “ethos”, que significa caráter, forma de ser. Ética significa, pois, as coisas referentes ao caráter. Ensina-nos Maria Aparecida Ferreira de Aguiar (A ética nas organizações é possível?, in Revista UNICSUL, nº7, p.46):

“A palavra moral, originalmente em latim moralist, como adjetivo, e mos, morés, substantivo, nos leva à moralidade, que tem a ver com a ação de seu ego, self ou sujeito que relaciona a sua ação com a ação dos outros. A moral é individual, enquanto a ética é a moral pensada, mas na prática” (grifo nosso).

Já diziam os sábios pensadores da Antiguidade que o homem é um ser social e político. Aristóteles afirmava que o homem é um ser feito para a convivência social. O filósofo viveu entre 384 a.C. e 322 a.C. e já se preocupava com a Ética, a ciência dos costumes. Para ele, o homem é ser racional e seu sumo bem não se realiza na vida individual; todos concordam que o fim último é a felicidade, mas discordam quanto à sua essência. Muitos colocam a felicidade ou no prazer ou na honra ou na virtude. Em um ponto, porém, temos que concordar, ainda em nossos dias, com a premissa aristotélica de que conquistamos a virtude com o exercitar-nos em atos virtuosos.

Certa vez, uma mãe levou seu filho pequeno até Ghandi, dizendo: “Ghandi, meu filho come açúcar demais e isso é ruim para os dentes dele. Por favor, diga-lhe que pare”. Ghandi pediu gentilmente que a mulher voltasse dali a duas semanas com o menino e quando ela o fez, Ghandi olhou o menino nos olhos e disse: “você não deve comer tanto açúcar, faz mal para os seus dentes”. A mãe, muito feliz, agradeceu o mestre e já saindo com seu filho, voltou-se e perguntou: “mas, por que o senhor simplesmente não lhe disse isso há duas semanas?”. E Ghandi respondeu: “porque há duas semanas eu ainda comia açúcar” (grifo nosso).

Segundo Gilclér Regina, no artigo Minha vida é minha imagem (Revista Vencer, n.54, p.12),

“Na vida, há uma distinção entre uma resposta e uma reação. A reação é instantânea, repleta de emoção, desprovida de um pensamento direcionado e consciente e a resposta é uma conduta mais ponderada porque é dirigida mais pela razão e pela reflexão e menos pela emoção. A reação não leva em conta as conseqüências, ao passo que a resposta é determinada pela reflexão sobre as conseqüências”.

Precisamos mais de respostas e menos de reações. Para o psicanalista Jurandir Freire Costa (A Ética e o espelho da cultura, p.10),

“Os indivíduos no Brasil tornaram-se social e moralmente supérfluos. Eles nada valem como cidadãos, pessoas que têm responsabilidades. Ao contrário, são postos em situação de desqualificação e tutela. O que vigora hoje, no Brasil, é uma razão cínica. No lugar da indignação, produziu-se um discurso desmoralizante que diz que toda lei é convencionalismo, formalismo, idealismo, conservadorismo”.

Acredito que necessitamos, urgentemente, de um renascimento dos valores éticos e morais para que a sociedade retome seu eixo e creio que a Educação Cristã tem papel-chave e fundamental nessa retomada.

Necessitamos, com brevidade, de uma ética do caráter, intimamente ligada à fé na natureza humana, no potencial criativo do ser humano. Um trabalho “de dentro para fora”. Lembra-nos Fernando Guedes de Mello (op.cit.) : “uma flor nunca desabrocha de fora para dentro”.

    Faço minhas as palavras de Daniel Piza (Cultura da leviandade, in O Estado de São Paulo, 04.04.2004, p.3D):

“Não se trata apenas do desespero do desempregado, ou do sujeito que cada vez mais vê o salário ficar abaixo das contas, ou dos pais que temem pelos filhos nas cidades violentas. O pior é ver aumentar a sensação de que fazer o bem, ser correto, querer crescer como pessoa, não vale a pena. E esta sensação é o maior problema que o Brasil vive hoje, pelo que significa de ofensa à dignidade e pelo que implica perda de critério e ânimo” (grifo nosso).


EDUCAÇÃO CRISTÃ: SOLUÇÃO NA PALAVRA DE DEUS - LOGOS CRIADOR E TRANSFORMADOR - E O MODELO DO MESTRE DOS MESTRES, JESUS.

Is 48.17-18: “Assim diz o Senhor, o teu Redentor, o Santo de Israel: Eu sou o Senhor, o teu Deus, que te ensina o que é útil, e te guia pelo caminho em que deves andar. Ah! Se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos! Então seria a tua paz como um rio, e a tua justiça como as ondas do mar”.

Sempre que penso em religião e nas diversas igrejas, pergunto-me por que, muitas vezes, o crente – seja qual for a fé que professe – fala muito na palavra e nos ensinamentos de Deus, mas acaba por não colocar em prática Seus ensinamentos.

Outra questão que sempre me chamou atenção é o significado do mandamento “crescei e multiplicai-vos”. Lembro-me que, uma vez, em minha juventude, numa destas conversas, chamadas de “filosofias de mesas de bar”, expus minha teoria com medo de que me tomassem como louca. Disse o que creio até hoje: que o sentido desse mandamento não é apenas carnal. Podemos crescer e multiplicar-nos espiritual, moral e culturalmente. E mais: que é também isso que Deus espera de nós, é nosso dever.

Gn.1.28: “Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra”. Deus deu ao homem, assim, supremacia sobre as outras espécies; deu-lhe a razão, o livre-arbítrio, e, acima de tudo, a responsabilidade.

Em matéria publicada na Revista Isto É, edição nº 1889, de 28/12/2005, li: “a neurociência demonstra que a religiosidade está sediada no cérebro. Estudos feitos com monges e freiras em clausura mostram que houve mudanças na química do sangue e nas ondas cerebrais quando eles oravam ou meditavam”.

Se assim é, a religiosidade, a fé, a oração, em muito vêm ajudar a ciência e, conseqüentemente, é papel dos que militam nas esferas religiosa e educacional, transformar esse potencial em ações que visem ao aprimoramento da humanidade, especialmente no momento em que vivemos, em que assistimos à inversão (ou falta?) de valores, como abordei na introdução deste trabalho.

Rick Warren, em sua obra Você não está aqui por acaso, diz:
“Deus não nos deixou às cegas, para ficarmos nos questionando e conjecturando. Claramente revelou, ao longo da Bíblia, seus propósitos para nossa vida. É o nosso ‘manual do fabricante’: ‘ a sabedoria de Deus trata profundamente de seus propósitos, não sendo sua mensagem recente, e sim a mais antiga – que Deus determinou como a forma de aflorar o melhor de si em nós’ . Deus não é apenas o ponto de partida de nossa vida: é a fonte dela. Para descobrir o propósito de sua vida, volte-se para a Palavra de Deus, não para a sabedoria do mundo (grifos nossos)”.

Acontece que “o resultado da obra criativa de Deus não subsiste em um vácuo moral”. Assim, cabe a teólogos e educadores refletirem sobre a questão do ensino pela fé reformadora – teologia reformada na (e para a) educação - (grifo nosso). A Educação cristã coloca Deus no centro de uma cosmovisão, visão unificada do conhecimento para a vida.

Pergunto: viveríamos hoje uma ‘nova queda’? É possível cair mais fundo? Salmo 19.12-13: “Quem pode discernir os próprios erros? Purifica-me tu dos que me são ocultos. Também de pecados de presunção guarda o teu servo, para que não se assenhoreiem de mim; então serei perfeito, e ficarei limpo de grande transgressão”.

Eis a solução. O caminho é de pedras e longo, mas não impossível. As leis naturais de Deus, em sua perfeita ordem, levam à sabedoria, que é ‘um passo à frente da aquisição de conhecimento, é a aplicação correta do conhecimento adquirido’.

Cristo é sabedoria personificada

A Biblia diz:

“É em Cristo que descobrimos quem somos e o propósito de nossa vida. Muito antes de termos ouvido falar de Cristo e de termos erguido nossas esperanças [...] Ele já tinha Seus olhos sobre nós; já havia planejado para nós uma vida gloriosa, parte do projeto global que Ele está elaborando para tudo e para todos” .

Os educadores, especialmente os teólogos, devem sempre ter em mente que Jesus, através do discipulado, deixou Seu legado, e que são os principais responsáveis por sua continuidade. Is 48.3-11:

“Desde a Antigüidade anunciei as coisas que haviam de ser; da minha boca é que saíram, e eu as fiz ouvir; de repente as pus por obra, e elas aconteceram. [...] Porque eu sabia que és obstinado, que a tua cerviz é um nervo de ferro, e a tua testa de bronze. [...] olha bem para tudo isto; porventura não o anunciarás? Desde agora te mostro coisas novas e ocultas, que não sabias. [...] São criadas agora, e não de há muito, e antes deste dia não as ouviste, para que não digas: Eis que já eu as sabia. [...] Tu nem as ouviste, nem as conheceste, nem tampouco há muito foi aberto o teu ouvido; porque eu sabia que procedeste muito perfidamente, e que eras chamado transgressor desde o ventre. [...] Eis que te purifiquei, mas não como a prata; provei-te na fornalha da aflição, [...] Por amor de mim, por amor de mim o faço; porque como seria profanado o meu nome? A minha glória não a darei a outrem”.

Jesus é, portanto, nosso mestre supremo. Deus é o principal educador, modelo a ser seguido pelos pedagogos contemporâneos.

Através do AMOR, Jesus tornou-se um líder natural, cuja autoridade provinha de seu modo de pregar e ensinar: em qualquer lugar, a quem quer que precisasse (há alguém que não precise?) de seus ensinamentos - tocou o leproso, que era discriminado em seu tempo; não fazia distinção de pessoas, tratava homens e mulheres, ricos e pobres, em pé de igualdade (aparece, após sua ressurreição, primeiramente à Maria Madalena, uma mulher).

Rm 2.11: “Pois para com Deus não há acepção de pessoas”.

Devemos lembrar que grupos dominantes sempre usaram a educação como um meio para moldar as camadas da população, visando seus próprios interesses, muitas vezes, escusos. Jesus visava moldar as camadas da população para um interesse bem diverso: o interesse da própria população, a salvação do próprio homem. Que ideal mais nobre pode nortear a vida de um verdadeiro educador e seguidor da palavra de Deus?

Rm 1.16: “Porque não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê”.

Jesus possuía perspicácia e empatia com seus “pupilos”, compreendendo sua essência e natureza. Usando de parábolas, falou a linguagem de seus “alunos”. Saiu do mundo do mito – alegorias, representações, simbologias - para fazer comparações com as experiências, empiricamente.


CONCLUSÃO

I Coríntios 13. 1-2: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria”.

Todo conhecimento adquirido pelo homem só tem valor se o levar a realizar seu maior intento: ser feliz, pleno e realizado. Felicidade, paz e harmonia são os maiores objetivos da humanidade. Amor está intimamente ligado a valores morais, espirituais e religiosos.

“Religião” vem de “religare”, ligar-se novamente a Deus – o homem (re) encontrando sua essência perdida, decaída, só achada novamente pelo conhecimento e pelo amor.

O verdadeiro conhecimento leva ao amor e o amor verdadeiro leva ao conhecimento.

I Corintios 13. 9-10: “porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado”.

Is 48.22: “Não há paz para os ímpios, diz o Senhor”.

Como nos ensina Rick Warren (op.cit.): “Damos glória a Deus ao nos tornar como Cristo. Damos glória a Deus servindo a outras pessoas com nossos dons. Damos glória a Deus falando dele a outras pessoas”.

I Pedro 4.10,11:
“Servindo uns aos outros conforme o dom que cada um recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale como entregando oráculos de Deus; se alguém ministra, ministre segundo a força que Deus concede; para que em tudo Deus seja glorificado por meio de Jesus Cristo, a quem pertencem a glória e o domínio para todo o sempre. Amém”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário