Toda doença é fruto de pecado cometido?
Inúmeras vezes, dentro da vida cristã, os professos e seguidores do verdadeiro e único Deus, sofrem dificuldades financeiras e doenças físicas, bem como emocionais e espirituais - muitíssimos homens e mulheres passam por isso. Para ser ainda mais exato, todos já passaram, passam e irão passar por tais situações.
A Bíblia nos diz que a queda dos primeiros pais foi a razão pela qual o mundo sofre o que vemos e experimentamos em nossas vidas. Não tivesse havido, estaríamos naquele mesmo belo, formoso e agradável jardim, desfrutando constantemente da presença magistral do Senhor, tal qual Adão e Eva usufruíam (Gn 3.8).
O Senhor nos ensina, através do apóstolo, que "todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Rm 3.23). Em Adão, todos os homens e mulheres estavam inclusos, de maneira que ninguém pode se escusar do pecado, exceto pelo novo Adão, Cristo Jesus: "O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante" (1Co 15.45).
Isso significa dizer que, embora os cristãos tenham sido regenerados pelo sangue de Cristo (Ef 1.7), ainda carregam os efeitos do pecado. Paulo expressou esta angústia: "Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?" (Rm 7.24). Ele reconhecia, por meio do Espírito Santo, que era um santo, isto é, separado para o Senhor; no entanto, era cônscio das mazelas ainda atuantes em sua vida: "Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor. Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado" (Rm 7.25). O apóstolo tinha ciência de ter sido salvo e que seria sustentado até o fim de sua vida, pois "aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo" (Fp 1.6), entretanto, jamais afirmou que os santos deixam de pecar enquanto nesta vida estão.
Noutras palavras, o cristão não mais peca (1Jo 3.6), porque o pecado lhe foi extirpado e a morte já não tem mais poder sobre os Seus (1Co 15.55), assim com não é mais escravo dele, mas ainda comete pecados, conforme lemos: "nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo" (Rm 8.23).
Sintetizando, na teologia se diz que os cristãos vivem entre o já e o ainda não. Quer dizer, os cristãos já foram libertos da escravidão do pecado, mas ainda não foram libertos completamente, pois passam por dificuldades sem par; já estão com Cristo nos céus (Cl 3.1; Rm 8.30), mas ainda não experimentam essa plenitude, devendo completar a carreira da fé (2Tm 4.7).
O que isso tem a ver com o propósito deste artigo? A verdade é que para entendermos a Escritura, precisamos dos pressupostos corretos. Uma vez estabelecido que o cristão ainda comete pecados (tal qual os não cristãos, diferindo que entre os crentes os pecados estão perdoados, ao passo que os ímpios estão sob a ira de Deus - Sl 7.11-3; Ef 5.6), podemos analisar que relação há entre doença e pecado. Por doença, entenda o leitor toda dificuldade passada pelos cristãos, incluindo as finanças, o corpo físico, as emoções...
Muitos versículos poderiam ser postados para serem analisados, todavia, nos limitaremos a três exemplos de cada Testamento.
Antigo Testamento
Todo cristãoGENUÍNO reconhece o Antigo Testamento como vera palavra de Deus (2Tm 3.16-17). Existem, então, alguns versículos que demonstram a relação entre doença e pecado.
- Jó
"Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal" (Jó 1.1). O exemplo do nobre Jó é por demais valioso, pois nos ensina que nem sempre as doenças e dificuldades são uma retribuição da parte de Deus, devido a algum pecado cometido (embora todos sejam pecadores). Lemos que Jó sequer pecou depois de perder todos os seus bens, bem como seus filhos. Em verdade, a atitude de Jó foi ímpar: "Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor" (Jó 1.21) e "Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma" (Jó 1.22). Jó reconheceu que todas as coisas que havia recebido foram vindas do Senhor. Nada que ele possuía havia sido adquirido por mérito próprio. Tudo fora graciosamente dado pelo Senhor.
Neste primeiro exemplo, aprendemos que as doenças não possuem, necessariamente, condenação por causa de algum pecado cometido.
- Coré e os seus
"E a terra abriu a sua boca, e os tragou com Coré, quando morreu aquele grupo; quando o fogo consumiu duzentos e cinqüenta homens, os quais serviram de advertência. Mas os filhos de Coré não morreram" (Nm 26.10-11).
O Senhor demonstra o que ocorreu a Coré e todo o seu grupo devido à desobediência ao Senhor. No capítulo 16 é narrado que Coré e mais "duzentos e cinqüenta homens dos filhos de Israel, príncipes da congregação" (Nm 16.2), se indignaram com o fato de somente alguns homens escolhidos poderem oferecer incenso ao Senhor (v.3). A penalidade para tal atitude foi a morte para todos eles. Todos aqueles homens morreram devido ao seu pecado. A morte dos tais, nos diz a palavra, serviu "de advertência".
Mas há um fato diverso, neste ponto: "Mas os filhos de Coré não morreram". Por algum motivo soberano e imperscrutável, o Senhor não se agradou de matar os filhos daquele rebelde.
Neste segundo exemplo, aprendemos que a desobediência ao Senhor tem graves consequências para os que a cometem e não se arrependem, não havendo, porém, necessária condenação sobre sua descendência.
- Jeorão e o povo
"E, subindo Jeorão ao reino de seu pai, e havendo-se fortificado, matou a todos os seus irmãos à espada, como também a alguns dos príncipes de Israel [...] E andou no caminho dos reis de Israel, como fazia a casa de Acabe; porque tinha a filha de Acabe por mulher; e fazia o que era mau aos olhos do Senhor [...] Então lhe veio um escrito da parte de Elias, o profeta, que dizia: [...] Eis que o Senhor ferirá com um grande flagelo ao teu povo, aos teus filhos, às tuas mulheres e a todas as tuas fazendas. Tu também terás grande enfermidade por causa de uma doença em tuas entranhas, até que elas saiam, de dia em dia, por causa do mal [...] E depois de tudo isto o Senhor o feriu nas suas entranhas com uma enfermidade incurável. E sucedeu que, depois de muito tempo, ao fim de dois anos, saíram-lhe as entranhas por causa da doença; e morreu daquela grave enfermidade" (2Cr 21.4, 6, 12, 14-15, 18-19).
Jeorão foi um rei terrível e maligno. Ele "fazia o que era mau aos olhos do Senhor". Aquele homem, em vez de andar nos caminhos do Senhor, preferiu andar no "no caminho dos reis de Israel". Ele, sendo rei de Judá, a tribo na qual nasceria o Salvador (Mt 2.6), não viveu de acordo com a sã doutrina. Pecou gravemente contra o Senhor e teve sua sentença: doenças e morte.
Vemos, também, que não somente Jeorão foi afligido com a doença, mas, sim, conforme diz o Senhor, "ferirá com um grande flagelo ao teu povo, aos teus filhos, às tuas mulheres e a todas as tuas fazendas". Toda a comunidade de Judá foi prejudicada pelo terrível seguimento de Jeorão - até suas fazendas (animais, agricultura) sofreram perdas incontáveis.
Aprendemos, então, que a doença pode também ser fruto da desobediência, alcançando, inclusive, aqueles que estão sob domínio daquele que pecou e instigou ao pecado, pois os tais não se desviaram do mal.
Novo Testamento
- O homem cego
"E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus" (Jo 9.1-3).
Aquele homem jazia às margens da sociedade, sendo por ela desprezado. A Bíblia nos diz que era cego de nascença. Ao olharem para ele, conhecendo o Antigo Testamento, os apóstolos inquirem o Mestre sobre quem havia pecado, pois pensavam que toda doença tinha relação com algum pecado específico. Cristo, porém, lhes afirma que a doença não era vinda de algum pecado (embora todos pequem) e, por isso, resultado do mesmo, senão "para que se manifestem nele as obras de Deus".
Aprendemos que nem toda doença é para morte. Assim como Jó, que após sofrer nas mãos de Deus, disse, "Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos" (Jó 42.5), também este homem havia sido criado cego por Deus, a fim de Seu nome ser glorificado.
- Ananias e Safira
"Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade? [...] E Ananias, ouvindo estas palavras, caiu e expirou. E um grande temor veio sobre todos os que isto ouviram [...] E, passando um espaço quase de três horas, entrou também sua mulher, não sabendo o que havia acontecido [...] Então Pedro lhe disse: Por que é que entre vós vos concertastes para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e também te levarão a ti. E logo caiu aos seus pés, e expirou. E, entrando os moços, acharam-na morta, e a sepultaram junto de seu marido. E houve um grande temor em toda a igreja, e em todos os que ouviram estas coisas" (At 5.3, 5, 7, 9-11).
O caso de Ananias e Safira é um dos mais conhecidos e assustadores exemplos de morte que temos sob o Novo Testamento. Este casal, no intento de reter para si uma parte do dinheiro que obtiveram com a venda de uma propriedade, mentiu ao Espírito Santo, tentando enganar os apóstolos do Senhor. Tentaram ao Senhor com mentiras diabólicas e ouviram o decreto: morte instantânea.
Aprendemos que o Senhor pode e tem poder para tanto, porque é Deus e soberano, retirar a vida de qualquer homem ou mulher. O Eterno e Onipotente já havia declarado: "Há tempo de nascer, e tempo de morrer" (Ec 3.2). Por causa de desobediência, Ananias e Safira viram a morte.
- A ceia do Senhor
"Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem" (1Co 11.28-30).
Esta passagem deveria aterrorizar todos os profanos e falsos seguidores do evangelho. A Escritura deixa evidente que se pode ser participante de uma igreja, ser membro da mesma, frequentar as atividades e ir assiduamente ao culto, participando, inclusive, da ceia do Senhor - entretanto, recebendo a condenação de morte, por blasfemar sobre o sacrifício vicário de Cristo, fazendo ignomínia de Sua morte.
Aprendemos o fato do Senhor punir até mesmo pessoas dentro da igreja, por não O tratarem com a devida seriedade, santidade, justiça e verdade que são devidas.
Resumindo
Para que o leitor possa ser devidamente edificado, eis o resumo, lembrando, sempre, que nada acontece alheia à vontade do Senhor (Lc 21.18).
1. Há doenças que não são vindas por causa do pecado. Para estas, o Senhor fornece Sua promessa: "O Senhor o sustentará no leito da enfermidade; tu o restaurarás da sua cama de doença" (Sl 41.3).
2. Há doenças que são vindas por causa do pecado e devem ser recebidas graciosamente por nós: "Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho" (Hb 12.6). A razão para ele corrigir Seus filhos é porque os ama - "O que não faz uso da vara odeia seu filho, mas o que o ama, desde cedo o castiga" (Pv 13.24).
3. Há doenças que são vindas por causa do pecado, mas que não são acompanhadas de arrependimento. Tais doenças são para extirpar o pecado do meio de Sua Igreja e sociedade: "Quando no meio de ti, em alguma das tuas portas que te dá o Senhor teu Deus, se achar algum homem ou mulher que fizer mal aos olhos do Senhor teu Deus, transgredindo a sua aliança. Que se for, e servir a outros deuses, e se encurvar a eles ou ao sol, ou à lua, ou a todo o exército do céu, o que eu não ordenei [...] As mãos das testemunhas serão primeiro contra ele, para matá-lo; e depois as mãos de todo o povo; assim tirarás o mal do meio de ti" (Dt 17.2-3, 7).
Cristo vos abençoe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário