quinta-feira, 24 de março de 2016

A IGREJA CORRE PERIGO

A IGREJA CORRE PERIGO 


1. INTRODUÇÃO

“Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos e se apartem da simplicidade que há em Cristo” II Coríntios 11:3.

“Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina, mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas” II Timóteo 4: 3-4.

A Igreja contemporânea enfrenta uma de suas maiores crises, talvez sem precedentes na história do cristianismo pós-reforma. Além de ataques constantes da mídia (justificados ou não) e de outros fatores externos, a igreja tem produzido seus próprios fracassos: corrupção, ganância, liberalidade sexual, modismos e esoterismo evangélico. As consequências apontam para uma implosão espiritual. Cristãos sinceros estão acuados dentro dos templos, isolados das atividades principais e das deliberações da liderança.

Dentre os problemas que a igreja enfrenta, talvez três deles sejam os agentes motivadores de tamanho descrédito: o secularismo, o relativismo e o tradicionalismo.



1.1 Secularismo


“Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual {seja} a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” Romanos 12: 1-2.

O secularismo segundo Karl Barth, um dos mais importantes teólogos evangélicos de todos os tempos, é uma revolta contra a fé cristã, cujo intento é colocar o ser humano no lugar de Deus. O secularismo tenta afastar o homem do controle de Deus e colocar o homem no centro da existência.

Quando falamos de secularismo, não estamos nos referindo aos termos utilizados por cristãos ortodoxos, do tipo “roupa do mundo”, “música do mundo”, etc. estamos nos referindo ao pensamento humanista e por vezes deísta, que exclui a visão de um Deus que se relaciona com o homem. O secularismo se estende a percepção de que possuímos uma “vida cristã” e uma “vida secular” e que essas duas vidas são incomunicáveis. Essa corrente de pensamento, por exemplo, permite que um cristão sonegue imposto de renda e tome lugar de destaque no púlpito ao mesmo tempo.

Se um homem de vida “secular” se volta para a religião, é porque seu meio secular o desagrada e ele procura algo mais elevado. No entanto, no afã da “evangelização”, procuramos oferecer a ele algo que é comum em seu meio social e que não vá ferir a sua sensibilidade secular. Daí surgem igrejas específicas para determinados tipos de “tribos modernas”. A igreja de Cristo deveria ser um ponto de convergência, de comunhão entre todas as pessoas, de todas as idades, culturas e padrões sociais. É na Igreja que as diferenças são niveladas, não precisamos de igrejas que nos mantenham separados por nossas diferenças, precisamos de igrejas que integralizadoras, que harmonizem pessoas de todas as culturas e níveis sociais.

“Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens. Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente. Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo;” Tito 2: 11-13.

“Graça e paz da parte de Deus Pai e da de nosso Senhor Jesus Cristo. O qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de Deus nosso Pai” Gálatas 1: 3-4.


1.2 Relativismo


“Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal: que fazem da escuridade luz, e da luz escuridade; e fazem do amargo doce, e do doce amargo” Isaías 5: 20.

O relativismo é uma doutrina que nega qualquer forma de verdade absoluta, tudo é relativo. Essa doutrina, segundo o teólogo alemão Wolfhart Pannenberg, afirma que as verdades (morais, religiosas, políticas, científicas, etc.) variam conforme a época, o lugar, o grupo social e os indivíduos de cada lugar. Para Augustos Nicodemos a postura relativista desistiu da verdade.

Entendemos que a idéia de verdade é absolutamente vital para a fé cristã. A subjetivação da verdade de Cristo indicaria um fracasso total do cristianismo, um ruir por falta de bases. Claro que a verdade não se limita a nossa compreensão do cristianismo, já que essa compreensão se baseia em pressupostos sociais, culturais, econômicos, correntes teológicas e filosóficas, etc. a verdade absoluta é o próprio Cristo encarnado e esse Cristo é uma pessoa relacionável e redentora. O relativismo leva a pessoa a crer em tudo, portanto, em nada.

A verdade de Cristo sempre nos confronta e confronta algumas vezes, nossa cultura, como confrontou a cultura judaica da época. Claro que vários aspectos da vida cristã estão sujeitos a manifestações culturais e sociais, mas, quando a mensagem é acomodada apenas as necessidades imediatas das pessoas e o confronto da mensagem de Cristo é retirado, as próprias pessoas suspeitam que a igreja não está bem certa daquilo que prega. Como discípulos de Cristo, temos a obrigação de apresentar a Verdade encarnada, ainda que isso não seja contextual num primeiro momento, pois, temos convicção de que a Verdade de Cristo liberta.

Aquele que se auto-afirmou “caminho” “verdade” e “vida”, assim será sempre, em todas as eras, em todas as culturas e em todas as sociedades. Obviamente, compete ao cristão a compreensão de os que aspectos secundários do cristianismo podem variar de acordo com a regionalização, ex: estilos musicais, roupas, alimentação, relações sociais diversas, correntes teológicas e filosóficas, etc.



1.3 Tradicionalismo


“Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” Colossenses 2: 8.

A Igreja ao se defrontar com as pressões ideológicas, sociais e psicológicas que tentam conformá-la ao pensamento secular e ao relativismo extremo, se defende com uma resposta fundamentalista/ditatorial. É como uma má resposta a uma pergunta imbecil. Paulo em sua carta a Timóteo, afirma que a Igreja é a “coluna e firmeza da verdade” (I Timóteo 3: 15), isso significa que a Igreja “sustenta” a verdade que é Cristo e não que a Igreja “é” a verdade.

A verdade de Cristo não precisa da nossa proteção. Ela é viva e como tal produz suas próprias raízes e dá seu fruto na estação certa. Se temermos a crítica e o debate, estamos demonstrando nossa própria incredulidade em relação a essa verdade.

A posição de irracionalidade em relação a crítica e a posição de imposição de dogmas, doutrinas, comportamentos sociais, negação da cultura e práticas acéticas em busca de pureza ritual, não demonstram vida espiritual, antes ordenanças, preceitos meramente humanos.

“Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, Tais como: não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne.” Colossenses 2: 20-23.


2. CONCLUSÃO

A igreja de Cristo não pode basear sua existência apenas em valores éticos e morais cobertos por um manto de religiosidade, ma, também não pode deixar que a tocha da santidade se apague. Paulo cita várias situações extremas que não podem nos afastar de Deus, o pecado não é uma delas.

A igreja evangélica não pode perder o discurso seguido da prática, ou vice versa. Como afirmou o teólogo Hans Kung, “nós não necessitamos nem de uma ditadura do relativismo, nem de uma ditadura do absolutismo”. Jesus Cristo não estabeleceu um evangelho baseado em mandamentos e ordenanças, nem em liberalismo ou relativismo, muito menos em dogmas pré estabelecidos. Caio Fábio acertadamente escreveu que Jesus nunca “construiu” nem “desconstruiu nada”, ele criou tudo novo. Jesus estabeleceu uma nova lei, a lei do amor, ele estabeleceu uma vivência de fé em que se relaciona de modo vivo com o cristão, quer seja no contexto religioso ou não.

Devemos ter a mesma preocupação de Abraão, sermos chamados de “amigos de Deus”.

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