domingo, 13 de março de 2016

PODE O CRENTE DIVORCIAR-SE E SE CASAR NOVAMENTE?

Vamos criar uma situação, não importando se a pessoa seja convertida ou não a Cristo. 
João casou-se com Maria. Mas depois de sete anos de casamento, ela o trai e diz: Vou morar com um outro homem. Fui! 
Pode o João casar-se de novo? Se se casar de novo, está numa relação adúltera? Pode ele ser pastor ou diácono se ele se casar de novo? Vejamos algumas cláusulas bíblicas:

1. Deus uniu marido e mulher numa só carne. - Gênesis 2:24.
2. Aquilo que Deus uniu, o homem não deve separar. - Mateus 19:6.
3. Apenas um motivo justifica o divórcio: a imoralidade sexual. - Mateus 5:31, 32; 19:9.
4. Enquanto um dos cônjuges viver, o outro está amarrado a ele. - 1 Coríntios 7:39.
5. Deus odeia o divórcio. - Malaquias 2:16.

Com esses textos em mente, percebemos que o casamento é uma bênção de Deus. Mas o debate surge quando por um lado estão os levianos: Aprovam o divórcio por quaisquer motivos. Trocam de cônjuge como trocam de roupa, sob as mais tolas desculpas. E do outro lado estão os radicais, que são capazes de afirmar o seguinte:
  • Mesmo que a Maria traiu o João e fugiu com outro, para Deus ela continua casada com o João, e pode haver o divórcio, se a Maria e o João não forem crentes, ou se apenas a Maria não for crente ou não. João não poderá se casar de novo se for crente. Sendo crente e ter se casado novamente, antes ou depois de sua conversão a Cristo, ele está em adultério, e não poderá nem orar na Igreja, pois os adúlteros precisam de disciplina. Não pode ser pastor, pois o pastor tem que ter sido casado apenas com uma esposa em toda a sua vida. Não é salvo pois adúltero não herda o reino de Deus, portanto, apenas afirma ser crente, mas no fundo não é. 
Comentário - Uma posição coerente, pois apregoa que o adultério da Maria não libera o João para um novo casamento, e que, se o João se casar de novo, estará em adultério até que a Maria morra. Então, se o João morrer antes da Maria, ele jamais deve sequer orar dentro da Igreja, pois está em adultério. Como é que devemos tratar um adúltero na Igreja? Excluindo-o, se ele não parar de adulterar. E o único jeito de ele parar de adulterar é deixar a sua segunda esposa, que aliás não é nem esposa, pois não pode ser esposa se está em adultério. Ela é amante, não esposa. Não se adultera com a própria esposa. Veja que em João 4:17, 18, Jesus não ensina que a Samaritana era adúltera por ter tido os quatro maridos, mas diz que com o atual ela não está casada. E também o texto não diz o motivo de ela ter tido quatro maridos. Será que eles morreram e ela foi casando? 

O interessante dessa posição é que ela é coerente até certo ponto, mas ela esbarra na graça de Deus. O João, com a sua primeira esposa viva, a Maria, e com sua segunda esposa, está em adultério, portanto não é possível ele ser um salvo, já que ele está adultério, e o crente que é crente de fato NÃO PERMANECE NO PECADO. (1 João 3:6) Se ensinar que é salvo pecando desde antes de sua conversão, então eu já sei mais o que dizer sobre a doutrina do Novo Nascimento. Nasceu de novo, foi salvo, mas em adultério? Esquisito. 
  • Mesmo que a Maria traiu o João e fugiu com outro, para Deus ela continua casada com o João, e pode haver o divórcio se apenas a Maria não for crente. João não poderá se casar de novo se for crente ou não. Sendo crente e ter se casado novamente, antes ou depois de sua conversão a Cristo, ele comete adultério apenas no primeiro ato sexual. Nos outros não está mais em adultério, mas seu casamento é irregular. Poderá orar na Igreja, ter cargos mecânicos e espirituais, com exceção a ser diácono e pastor. Não pode ser pastor, pois o pastor tem que ter sido casado apenas com uma esposa em toda a sua vida. Pode ser um salvo, pois não está em adultério, já que se arrependeu de ter divorciado e recasado, e do seu primeiro ato sexual no outro casamento.
Comentário - Eu pergunto: Que cocô de ensino é esse? O cara é salvo, vive no pecado desde antes de sua conversão, e pode ter privilégios e cargos na igreja, inclusive ser professor? Representar a Igreja em oração, etc? Ah, deixa ele ser pastor de uma vez! Que loucura é essa? Prefiro a posição acima. Sem mais comentários.

Alguns chegam a dizer: É, o pecado é perdoado, mas traz suas consequências. Se um bandido mata e se converte, ele é salvo, mas sofrerá as consequências da lei dos homens. Nós somos salvos, mas ainda colhemos das consequências do pecado: envelhecemos, adoecemos e morremos. Da mesma forma acontece com os que se casam de novo enquanto seu primeiro cônjuge está vivo. Eles podem ser salvos, mas colhem as consequências do pecado. E eu respondo: Ridículo! A primeira comparação é uma asneira. Não se deve comparar as consequências que um bandido convertido colhe de seus atos com o que lhe deve acontecer na Igreja. A consequência deste bandido é causada pela lei dos homens, que o considera culpado e o poe na prisão. Mas onde está a misericórdia e a graça de Deus que perdoa mas causa uma punição até a morte para quem, muitas vezes, pecou na ignorância? É como se Deus dissesse: 'Você pecou, te perdoo, mas vou te punir apesar do sacrifício na cruz'. (O caso de Davi foi antes da cruz, certo?) A segunda comparação é melhorzinha, mas não deixa de ter sua porção de besteirol. As consequências do pecado original são para todos, crentes e não crentes, mas a suposta consequência de um recasamento na situação acima mencionada, sob o adultério de Maria, é para crentes na Igreja. Novamente, comparação desigual. Achem outra, por favor. 

Então, qual seria, baseados na Bíblia, a solução para o caso do João? É muito simples. Mas muito mesmo! Veja:
  1. Jesus disse que aquele que se divorciar, a menos que seja por imoralidade sexual, torna a mulher adúltera. (Mateus 5:31, 32) Portanto, imoralidade sexual libera a pessoa para o divórcio, não para o desquite. Divórcio é fim do casamento; desquite é separação de corpos.
  2. Jesus disse: "Aquele que se divorciar de sua mulher, a não ser por causa de imoralidade sexual (no grego, porneia), e se casar com outra, comete adultério". (Mateus 19:9) Muito simples: Quem se divorcia por imoralidade sexual e se casa com outra, não comete adultério. Quem se divorcia sem motivo bíblico de imoralidade sexual, comete adultério se se casar com outra. Alguns inventaram a asneira de que o casamento que Jesus está falando aqui seja o noivado, tipo José e Maria, quando a Bíblia trata os noivos como marido e mulher. (Mateus 1:28-21) Mas o contexto de Mateus 19 é casamento, não noivado, e seria um absurdo a noiva do João, antes do casamento, virar assassina, ladrona, e o João ter que se casar com ela na cadeia, só porque ela não adulterou com ele. Só essa me faltava!
  3. Paulo ordena as mulheres cristãs a não se separem de seus maridos, mas se elas se separarem, que não se casem de novo. (1 Coríntios 7:11) Usar esse texto sem considerar Mateus 19:9 é um erro! Por exemplo, em 1 Coríntios 7:15, fala-se do cônjuge que abandona o outro. Com esse contexto em mente, o abandono pode ser motivo para o divórcio, mas não libera o cônjuge repudiado para um novo casamento, porque não houve, pelo menos até então, adultério da parte do que abandona. Então, o cônjuge abandonado não deveria se casar de novo.
  4. Romanos 7:2, 3 diz que 'a mulher está ligada ao marido enquanto ele viver. Se ela se unir a outro antes de ele morrer, ela será chamada adúltera'. Novamente, esse texto não pode ser lido sem a cláusula de exceção de Jesus, em Mateus 19:9. O mesmo ocorre com 1 Coríntios 7:39, onde lemos que 'a mulher está ligada ao marido enquanto ele vive'. Ambos os textos de Romanos 7:2, 3 e 1 Coríntios 7:39 não estão preocupados com exceções, mas quanto à regra geral. Todavia, quando usamos bom métodos de exegese, unimos a esses dois textos as palavras de Jesus em Mateus 19:9, que admite a possibilidade de um novo casamento quando um dos cônjuges comete pornéia, ou seja, imoralidade sexual com alguém fora do casamento. Essa interpretação é bem coerente com as Escrituras. Deus odeia o divórcio. (Malaquias 2:16) Se lermos este texto isoladamente, vamos concluir que jamais se deve divorciar. Mas será que Deus odeia mesmo todos os divórcios, se ele mesmo autoriza em caso de adultério? É claro que Deus prefere que o cônjuge traído perdoe, mas diante de muitas traições, o cônjuge inocente pode não suportar mais a situação e valer-se da concessão DIVINA para o divórcio. Então, não posso usar Malaquias 2:16 para condenar todos os divórcios.
E quanto a ser pastor - pode um recasado, por motivos bíblicos, atuar no ministério pastoral, se em 1 Timóteo 3:2, lemos que o presbýteros deve ser marido de uma só esposa? Com certeza! A Maria trai o pastor João. E o João não pode se casar de novo caso se divorcie dela? Para alguns fariseus modernos, não. Para os levianos, pode até se o pastor for o traidor. O importante é o amor. Eu, no entanto, defendo que devemos ser razoáveis, uma das qualidades do pastor irrepreensível. O texto de 1 Timóteo 3:2 fala apenas que o pastor não deve ter mais de uma esposa, e não que ele não deve ter tido mais que uma esposa. Não foi escrito para dar aval de muitos casamentos a quem planeje ter uma esposa de cada vez, muito menos para proibir que um homem cristão, que antes de sua conversão teve várias esposas, não possa ser pastor casado com uma esposa cristã devido ao seu passado que Cristo sepultou na cruz. Se formos inventar o que o texto não diz, então quando se diz que o pastor precisa ter filhos em sujeição, teremos que concluir que se ele não tiver filhos é porque Deus não o chamou ao ministério. E não é que há babacas que ensinam isso?

Outros dizem que em 1 Timóteo 3:2 está se referindo a pastores que tiveram em toda a sua vida apenas uma esposa. Concluem isso comparando a expressão de 1 Timóteo 3:2 marido de uma só esposa, com a expressão de 1 Timóteo 5:9:Viúvas de um só marido. Então, raciocinam: Assim como viúva de um só marido é aquela que em toda a sua vida teve um só marido, assim também marido de uma só esposa é aquele que em toda a sua vida teve apenas uma só esposa. Mas eu acho um mal gosto exegético uma pessoa fazer esta comparação sem levar em conta que é errado comparar a viuvez, situação esta que Paulo aconselha a se casar, e se casando se deixa de ser viúva, com o estado de casado, que apenas em dois casos (e que fosse apenas um) se permite o recasamento. E olhando bem para o texto de 1 Timóteo 5:9, Paulo está pedindo para se incluir na lista de viúvas a receberem ajudas aquelas que tiverem acima de sessenta anos e que sejam esposas de um só marido. Ou seja, se ela se casar de novo, ela deixa de ser viúva. Mas e se seu novo marido morrer, ela volta a ser viúva. Seria ela mulher de um só marido ou de dois maridos? Se você disser que ela é agora viúva de dois maridos, coitadinha dela. Você vai excluir uma viúva de receber ajuda da Igreja! Ela continua sendo viúva de um só marido, pois foi biblicamente casada com um marido de cada vez. Da mesma forma, se o pastor se divorciou biblicamente, ele pode casar-se de novo biblicamente, e continuar sendo marido de uma só esposa. 

Conclusão? Se você pertence a uma Igreja que ensina que você está em adultério, mas não está, a base do que a Bíblia ensina, por favor, FUJA DESSES CARAS! Eles gostam de um Jesus que não tem solução para o seu caso. Pois ou é um Jesus que perdoa você, mas você está casado(a) de forma irregular, portanto, você está em adultério sempre, e Jesus está sempre te perdoando, apenas porque você pediu perdão de ter se casado novamente, mas continua supostamente metendo o chifre no seu cônjuge anterior quando você faz amor com o seu cônjuge atual. Ou seja, o Jesus desses caras é um banana, porque não deve nem conhecer o texto que diz que Deus terá misericórdia não apenas com os que confessam o pecado, mas com os que o abandonam. (Provérbios 28:13) Esses caras deveriam ser coerentes. Se acham que você está numa relação adúltera, então deveriam propor a você a separação com quem você não está casado(a) de fato, pois você está em adultério. E que não me venham usar João 4:17, 18, para tentar me ensinar que Jesus reconheceu como marido os quatro homens da Samaritana, pressupondo que cada um deles era uma relação adúltera. O texto nada diz sobre isso. Pode ser muito possível que seus maridos tivessem morrido, sendo que ela não tinha marido porque fosse viúva deles e o atual dela fosse apenas um amante.

Meu lamento vai tanto para os que se casam e divorciam à vontade, como para aqueles que apreciam atrapalhar, por obstáculos, na vida cristã de muitos divorciados que casaram-se de novo, muitas vezes até mesmo antes de sua conversão a Cristo. Que Deus os ensine a ser coerentes com a toda a Bíblia, melhores exegetas, mais amorosos, e que os preserve de uma sequência boa de pares de chifres da parte de seus cônjuges e, venham buscar depois o consolo do Espírito Santo que os conduzirá a toda a verdade. Na pessoa do Deus-Pai, Deus se divorcia de Israel por adultério espiritual. E na pessoa do Deus-Filho, casa-se com a Igreja. Coerência! Figuras e simbolismos do que é justo são sempre baseados em situações reais e justas. - Fernando Galli.

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