Crentes por conveniência
Com a crescente emancipação dos evangélicos da marginalização cultural, política e econômica, declarar ser cristão ganhou importância em nossos dias. Não é mais pejorativo fazer a confissão de fé em Jesus, perante qualquer auditório. O estigma, o estereótipo, o emblema que carregávamos de fanáticos, simplórios, incultos, há muito tempo foi removido com a inserção em nosso meio de gente de todas as camadas sociais, incluindo destacadas personalidades dos arrais artísticos, esportistas e empresárias.
Há uma procura à igreja, por parte de muitos, cuja motivação não é a radical aceitação do Evangelho de Cristo com todas as suas implicações, mas outros interesses. É óbvio que falo das exceções, dos crentes de oportunidades.
Não que o poder do Evangelho não seja capaz de transformar qualquer pessoa. Com alegria recebemos, a cada semana, em nossas igrejas, pelo país afora: pessoas cultas, indoutas, nobres, ricas, pobres, jovens e idosas. Ninguém é ingênuo quanto a isso. O Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Todavia, existem “cristãos por conveniências”.
A igreja enquanto comunidade oferece um amplo espectro de vantagens, que transcende todas as outras formas de associação conhecidas nas sociedades organizadas, como por exemplo a confraternidade sincera. Na igreja, em geral, não somos preventivos em travar amizades, isto porque somos irmãos e irmãs em Cristo. Quem chega de outros ambientes, muitas vezes, hostis, encanta-se com a gentileza praticada pelos membros da igreja.
Quem sofreu ou sofre, lá fora, o impiedoso massacre das incompreensões, dos ataques sem misericórdia, das frias rejeições de seus pares, da concorrência desleal na esfera das profissões, a retaliação por qualquer falha cometida, fica aturdido ao encontrar entre nos o perdão e a aceitação.
Não há na terra nenhuma forma de associativismo tão acolhedor, como seio da comunidade evangélica. Entre nós se oferece ombro, colo, sorriso amigo, referência, e um novo significado de família, com novos valores, expectativas e papéis a serem desempenhados, o que da novo significado a vida das pessoas: É o que mais precisam os “órfãos” produzidos por uma sociedade insensível e fria.
A necessidade de pertencer precisa ser suprida na vida das pessoas ou elas são consumidas pela violenta sensação de orfandade. Esta falta de identificação é resolvida na igreja, onde se encontra uma condição para garantir a preservação da auto-estima e do sentimento de identidade, ambas permanentemente ameaçadas em virtude das demandas do mundo hostil onde as pessoas se debatem.
A aquisição de amizades, no mundo, segue os critérios da barganha, da possibilidade de promoção pessoal, da Iucratividade e outras instâncias cujos desdobramentos favoreçam aos interessados. Na igreja é diferente. Usufruímos da doce comunhão e amizade com as pessoas à custo zero. A amizade cristã, é de graça, pela graça que nos foi dada.
A igreja se apresenta como refúgio e proteção desde o tempo em que Saulo de Tarso, em Damasco, foi salvo deslizando das altas muralhas da cidade num cesto sustentado pelos irmãos. Na igreja salva-se a pele, o caráter e a moral. E para além disto é o mais propício ambiente terapêutico para a cura das dores da alma.
Com todas estas conveniências não é de estranhar que, muitos, mesmo violando os mais rudimentares preceitos da fé cristã optam por fincarem suas raízes no nosso meio. Sem deixar suas velhas vidas, profanam o santo nome de Jesus e sua Igreja, quando dele falam ou testemunham de uma fé que jamais experimentaram de verdade.
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