A
SUPERSTIÇÃO RELIGIOSA
"Porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele Dia" (2 Tm 1.12b).
Superstição religiosa é um conjunto de
crendices apoiadas na ignorância, no desconhecido e no medo. Nada tem a ver com
a fé que professamos.
É provável que você conheça algumas
pessoas que apregoam "certas verdades" baseadas em crenças
infundadas ou que até mesmo utilizem amuletos e usem expressões com o fim de
afastarem maus espíritos. Muitas destas pessoas agem assim por temerem
aquilo que desconhecem ou ignoram, ou seja, são supersticiosas.
Superstições são crenças alicerçadas
sobre sentimentos irracionais, que levam as pessoas, em razão de sua
credulidade excessiva, a temerem o desconhecido, sobrenatural. Quem é
supersticioso acredita em presságios, encantamentos, sinais, ritos
específicos e tantos outros elementos que repousam sobre a fé em coisas
irracionais. A Palavra de Deus reprova vigorosamente as superstições. Atos dos Apóstolos registra um episódio em que Paulo
e Barnabé, quando pelo poder de Cristo curaram a um coxo em Listra, quase foram
idolatrados como Júpiter e Mercúrio pelos habitantes daquele país. Os
servos de Deus protestaram com veemência contra o ato supersticioso. No Antigo
Testamento, eram proibidas as adivinhações (Lv 19.31), a bruxaria, os augúrios
a feitiçaria e magia (2 Rs 21.6). Temos de ter muito cuidado para
que essas práticas não solapem nossa fé e assolem nossas igrejas; tais como
amuletos, pé de coelho, galho de arruda, ferradura de cavalo, dias especiais,
crendices, simpatias e magias.
A superstição está presente em
todas as religiões, novas e velhas. É nociva à fé cristã em razão de levar o
indivíduo a temer coisas inócuas e depositar a fé em coisas absurdas. Quem já
não viu alguém procurar se proteger com um galho de arruda, com ferradura de
cavalo na porta de casa, ou usar uma figa esperando obter sucesso? Os
supersticiosos estão inclinados a acreditar em tudo, menos na Palavra de Deus.
ETIMOLOGIA
1. O termo grego. O substantivo grego empregado no Novo Testamento correspondente à
palavra superstição é deisidaimoniâ. Essa palavra aparece
apenas em At 25.19. De modo semelhante, o adjetivo procedente do original
significa "piedosos, supersticiosos ou religiosos" (At 17.22). O
termo procede de duas palavras gregas cujo sentido é "temor aos demônios,
aos espíritos malignos ou as divindades pagãs". Portanto, o vocábulo
"superstição" designa um sentimento religioso fundamentado na ignorância,
no medo de coisas sobrenaturais e na confiança em coisas ineficazes.
Trata-se, por conseguinte, de uma crendice popular baseada em crenças
infundadas.
2. O termo em nossas versões. A versão Almeida Atualizada e a Tradução Brasileira traduziram os
vocábulos originais por "religião" e "religioso", enquanto
a Almeida Corrigida, por "superstição" e "supersticioso". Agripa na
qualidade de judeu, embora desconhecendo a natureza da questão sobre a
ressurreição de Jesus, jamais chamaria essas coisas de mera superstição (At
25.19). O apóstolo Paulo, no areópago em Atenas, como disse alguém, empregou o
termo com "amável ambiguidade" (At 17.22).
3. O termo latino. Jerônimo, na Vulgata Latina, traduziu os referidos termos por superstitio, (At
25.19) que significa "superstição, religião, culto, excessivo receio dos
deuses, adivinhação, arte de predizer o futuro" e superstitiosus, "supersticioso"
(At 17.22).
4. O termo no mundo romano. Havia diferença entre religião e superstição no mundo romano. O
cristianismo, mais tarde, adotou essa distinção. Segundo Agostinho deHipona,
o homem supersticioso distingue-se do religioso, citando Varrão (Marco Terêncio Varrão [Marcus Terentius Varro], 116 a.C. –
27 a.C., filósofo e enciclopedista romano), afirma
que o supersticioso teme os deuses como inimigos, e o religioso reverencia-os
como pais. A ideia dessa palavra no mundo romano é uma forma antiquada de
culto, como deterioração ou algo ultrapassado, rejeitado pela religião
oficial. Podemos resumir superstição como a crendice do medo (Jr 10.2).
CARACTERÍSTICAS ANIMISTAS
1. Animismo. Apesar da superstição estar presente em todas as religiões, é
no animismo que ela praticamente se confunde. Animismo é a crença que atribui
vida espiritual ou alma a coisas inanimadas. Os animistas acreditam que plantas
e animais possuem alma, que a natureza está carregada de seres espirituais e
que o espírito dos mortos vagueia pelos lugares onde as pessoas viviam ou
costumavam frequentar (Is 34.14). É consequência da Queda no Éden (Rm 1.23, 25,
28).
2. Fetiches. Os ídolos representam divindades ao passo que o fetichismo se caracteriza
por atribuir propriedades mágicas ou divinas a certos objetos. Em muitos
casos, os fetichistas dispensam, a tais objetos, reverência, adoração, gratidão
e oferendas, esperando receber graças ou vinganças dessas divindades ou
espíritos.
SUPERSTIÇÕES DO COTIDIANO
1. Amuletos e talismãs. É a crença no afastamento dos maus espíritos apenas pelo uso de certos
objetos como galho de arruda, ferradura de cavalo na porta de casa, pé-de-coelho etc. Muitas vezes, são usados como objetos de adornos. O profeta
Isaías incluiu os amuletos na lista de adornos femininos, traduzido por
"arrecadas" na Versão Almeida Corrigida (Is 3.20). A palavra hebraica,
aqui, é lahash, também usada para encantamento (Ec 10.11; Jr
8.17). Talismã consiste em letras, símbolos ou palavras sagradas, nomes de anjos
ou demônios com o objetivo de afastar o mal de quem os usa.
2. Rogos do espirro. "Saúde!", "Deus te crie!", ou, expressão mais
erudita como Dominus caetuml, "o Senhor te
crie!", hayiml, "vida!", em Israel; são
expressões que ouvimos no dia-a-dia
quando alguém espirra. Por que não acontece o mesmo quando alguém tosse? Os
antigos acreditavam que o espírito do homem residia na cabeça, e um bom espirro
era o suficiente para sua fuga e, ao fazer uma pequena prece, ele permanecia
na pessoa que espirrou. Hoje, isso já virou etiqueta social.
3. Sexta-feira 13. O número 13 é tido por alguns como bom agouro e para outros como
infortúnio. Há até edifícios em que passam do 12° para o 14° andar temendo
desgraças. A sexta-feira 13 é considerada um dia de azar. Uns atribuem a
superstição sobre o número 13 aos vikings ou a outros normandos. Há também os
que atribuem ao cristianismo, já que sexta-feira foi o dia em que Jesus morreu
e 13 é uma referência a Judas Iscariotes que, segundo os
supersticiosos, era o décimo terceiro homem da reunião da Última Ceia. Mas, não
há indício algum para confirmar essa versão.
SUPERSTIÇÕES SUPOSTAMENTE BÍBLICAS
1. Segunda-feira azarada. Os judeus não consideram a segunda-feira um bom dia para negócios,
porque no relato da criação, em Gênesis 1, não consta o registro "e viu
Deus que era bom", como aparece nos demais dias. Mas, no dia terceiro,
aparece duas vezes a expressão "e viu Deus que era bom" (Gn 1.10,
12), por isso é o dia tradicional de cerimônia de casamentos e, também, o dia
em que se celebram grandes negócios em Israel. O costume baseia-se na
interpretação incorreta de uma passagem bíblica. A bênção divina para o
sucesso, todavia, não depende do dia em que o evento é realizado, e sim na
confiança em Deus (Sl 37.3-5).
2. Mezuzá. Palavra hebraica que significa "portal, umbral, ombreira" (Êx
12.7). Esse termo é usado hoje para identificar o pequeno tubo metálico que os
judeus usam no umbral direito da porta, seguindo o prescrito na Lei de Moisés
(Dt 6.4-9). Isso não deve ser considerado superstição, pois tem fundamento
bíblico, como não é superstição um cristão colocar em seu lar quadros com
versículos bíblicos e outros motivos cristãos como identificação de sua fé.
Mas os judeus cabalísticos da Idade Média transformaram a mezuzá em
amuletos e talismãs, como objetos de proteção.
3. O perigo da inversão de valores. Não confundir o Cristo da cruz
com a cruz de Cristo. Os hebreus consideravam a simples presença da arca da
aliança na guerra como garantia de vitória (1 Sm 4.4-11). Ainda
hoje, alguns crentes creem estar protegidos de infortúnio e mau augúrio só
porque mantêm a Bíblia aberta no salmo 91. Isso significa transformar a fé viva
no Deus todo-poderoso em mera superstição ou amuleto. A proteção vem da confiança
em Deus e na obediência à Sua Palavra (Js 1.8; 1 Jo 5.4).
4. Fé cristã não é superstição. Os filhos de Ceva, tendo em vista o misticismo de Éfeso, cuidaram fosse
o apóstolo Paulo um mágico com uma nova fórmula: o nome de Jesus (At 19.13).
Mas eles se equivocaram. Ainda hoje há os que transformam elementos cristãos em
superstições. Baseados em lendas de vampiros, muitos supõem que, exibindo uma
cruz, podem expulsar os espíritos maus. Jesus disse: "em meu nome
expulsarão demônios" (Mc 16.17). Ele conferiu essa autoridade aos seus
servos (Mt10.8). Todos os que usarem o nome de Jesus como amuletos poderão ter
a mesma decepção dos filhos de Ceva (At 19.16).
C0NCLUINDO
As superstições, independentemente de
sua origem, são nocivas à fé cristã. Crer em coisas triviais, ou nas
aparentemente bíblicas, é rejeitar a fé em Deus ou acrescentar algo além dEle. Nós
cremos num Deus que pode guardar-nos de todos os males (2 Tm 1.12).
Não seria o uso de elementos como
galhinho de arruda, sal grosso e copo d'água na liturgia uma volta ao
misticismo medieval, tão condenado pelos reformadores? A teologia da maldição
hereditária não seria um vilipendio à doutrina da graça e uma
superstição religiosa em sua essência? Lamentavelmente, é nítida a existência
de casos de superstição entre evangélicos, mas isso é resultado da ausência de
orientação bíblica. Nas igrejas onde o povo recebe o ensino sistemático e
sadio da Palavra de Deus raramente existe isso.
Alguns casos de supersticiosidade entre
evangélicos são menores, outros são mais graves. Alguns exemplos do primeiro
tipo são deixar a Bíblia aberta no Salmo 91 para afastar desgraças; utilizar a
expressão Tá amarrado!' de forma séria, como uma espécie de precaução
espiritual; abrir a Bíblia aleatoriamente para 'tirar um versículo' que
funciona como a orientação de Deus para tomarmos uma decisão; trocar a leitura
sistemática e regular da Bíblia pela 'caixinha de promessas'; reputar que a
oração no monte tem mais eficácia do que a feita dentro do quarto ou na
igreja; dormir empacotado para que Deus, ao nos visitar à noite, não se
entristeça; e acreditar que objetos ou algum suvenir de Israel (pedrinhas, água
do Rio Jordão, folhas) têm algum poder especial.
O protestantismo foi um dos grandes
catalisadores do fim da superstição da Idade Média, que havia sido implementado
por um catolicismo cada vez mais decadente. É só reexaminarmos a história e
veremos que, antes da Reforma, o mundo medieval era cheio de fantasmas,
duendes, gnomos, demônios, anjos e santos. O povo era ignorante, extremamente
supersticioso e não tinha acesso à leitura. A própria Igreja Católica Romana
fomentava e explorava isso. Foram os evangélicos que combateram tudo
isso, inclusive apoiados pelos humanistas da época.
Um exemplo de caso grave de superstição
é o caso da teologia da maldição hereditária, que declara insuficiente a obra
de Cristo na vida da pessoa, pois afirma que, depois de salvo por Jesus, o
cristão deve desenterrar o seu passado e o de seus familiares para quebrar uma
a uma todas as possíveis maldições que acometeram seus antepassados e que
ainda repousariam sobre ele, se não a libertação não será completa. Além
de não ter base bíblica (2 Co 5.17), essa teologia defende um princípio quase reencarnacionista,
estabelecendo um carma na vida da pessoa a partir de seus parentes. (...)
Fujamos de toda a sorte de superstição. Que nossa fé seja absolutamente bíblica.
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