domingo, 1 de novembro de 2015

A SUPERSTIÇÃO RELIGIOSA

A SUPERSTIÇÃO RELIGIOSA

"Porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele Dia" (2 Tm 1.12b).

Superstição religiosa é um con­junto de crendices apoiadas na ignorância, no desconhecido e no medo. Nada tem a ver com a fé que professamos.

É provável que você conheça algumas pessoas que apregoam "certas verdades" base­adas em crenças infundadas ou que até mesmo utilizem amuletos e usem expressões com o fim de afas­tarem maus espíritos. Muitas des­tas pessoas agem assim por teme­rem aquilo que desconhecem ou ignoram, ou seja, são supersticio­sas.

Superstições são crenças alicer­çadas sobre sentimentos irracionais, que levam as pessoas, em razão de sua credulidade excessiva, a teme­rem o desconhecido, sobrenatural. Quem é supersticioso acredita em presságios, encantamentos, sinais, ritos específicos e tantos outros elementos que repousam sobre a fé em coisas irracionais. A Palavra de Deus reprova vigorosamente as supersti­ções. Atos dos Apóstolos registra um episódio em que Paulo e Barnabé, quando pelo poder de Cristo cura­ram a um coxo em Listra, quase fo­ram idolatrados como Júpiter e Mer­cúrio pelos habitantes daquele país. Os servos de Deus protestaram com veemência contra o ato supersticio­so. No Antigo Testamento, eram proi­bidas as adivinhações (Lv 19.31), a bruxaria, os augúrios a feitiçaria e magia (2 Rs 21.6). Temos de ter mui­to cuidado para que essas práticas não solapem nossa fé e assolem nos­sas igrejas; tais como amuletos, pé de coelho, galho de arruda, ferradura de cavalo, dias especiais, crendices, simpati­as e magias.

A superstição está presente em todas as religiões, novas e velhas. É nociva à fé cristã em razão de levar o indivíduo a temer coisas inócuas e depositar a fé em coisas absurdas. Quem já não viu alguém procurar se proteger com um galho de arruda, com ferradura de cavalo na porta de casa, ou usar uma figa esperando obter sucesso? Os supersticiosos estão inclinados a acreditar em tudo, menos na Palavra de Deus.

ETIMOLOGIA

1. O termo gregoO substanti­vo grego empregado no Novo Testa­mento correspondente à palavra su­perstição é deisidaimoniâ. Essa pala­vra aparece apenas em At 25.19. De modo semelhante, o adjetivo procedente do original significa "piedosos, supersticiosos ou religiosos" (At 17.22). O termo procede de duas pa­lavras gregas cujo sentido é "temor aos demônios, aos espíritos malignos ou as divindades pagãs". Portanto, o vo­cábulo "superstição" designa um sen­timento religioso fundamentado na ig­norância, no medo de coisas sobrena­turais e na confiança em coisas inefi­cazes. Trata-se, por conseguinte, de uma crendice popular baseada em crenças infundadas.

2. O termo em nossas versões. A versão Almeida Atualizada e a Tradução Brasileira traduziram os vocábulos originais por "religião" e "religioso", enquanto a Almeida Cor­rigida, por "superstição" e "supersticioso". Agripa na qualidade de judeu, embora desconhecendo a natureza da questão sobre a ressurreição de Jesus, jamais chamaria essas coisas de mera superstição (At 25.19). O após­tolo Paulo, no areópago em Atenas, como disse alguém, empregou o ter­mo com "amável ambiguidade" (At 17.22).

3. O termo latino. Jerônimo, na Vulgata Latina, traduziu os referi­dos termos por superstitio, (At 25.19) que significa "superstição, religião, culto, excessivo receio dos deuses, adivinhação, arte de predizer o futuro" e superstitiosus, "supersticioso" (At 17.22).

4. O termo no mundo ro­mano. Havia diferença entre reli­gião e superstição no mundo roma­no. O cristianismo, mais tarde, ado­tou essa distinção. Segundo Agosti­nho deHipona, o homem supersticioso distingue-se do religioso, citando Varrão (Marco Terêncio Varrão [Marcus Terentius Varro], 116 a.C. – 27 a.C., filósofo e enciclopedista romano), afirma que o supersticioso teme os deuses como inimigos, e o religioso reverencia-os como pais. A ideia dessa palavra no mundo roma­no é uma forma antiquada de culto, como deterioração ou algo ultrapas­sado, rejeitado pela religião oficial. Podemos resumir superstição como a crendice do medo (Jr 10.2).

CARACTERÍSTICAS ANIMISTAS

1. AnimismoApesar da su­perstição estar presente em todas as religiões, é no animismo que ela pra­ticamente se confunde. Animismo é a crença que atribui vida espiritual ou alma a coisas inanimadas. Os animistas acreditam que plantas e animais possuem alma, que a natureza está carregada de seres espiri­tuais e que o espírito dos mortos vagueia pelos lugares onde as pes­soas viviam ou costumavam frequentar (Is 34.14). É consequência da Queda no Éden (Rm 1.23, 25, 28).

2. FetichesOs ídolos repre­sentam divindades ao passo que o fetichismo se caracteriza por atri­buir propriedades mágicas ou di­vinas a certos objetos. Em muitos casos, os fetichistas dispensam, a tais objetos, reverência, adoração, gratidão e oferendas, esperando receber graças ou vinganças dessas divindades ou espíritos.

SUPERSTIÇÕES DO COTIDIANO

1. Amuletos e talismãsÉ a crença no afastamento dos maus espíritos apenas pelo uso de certos ob­jetos como galho de arruda, ferradu­ra de cavalo na porta de casa, pé-de-coelho etc. Muitas vezes, são usados como objetos de adornos. O profeta Isaías incluiu os amuletos na lista de adornos femininos, traduzido por "arrecadas" na Versão Almeida Corrigida (Is 3.20). A palavra hebrai­ca, aqui, é lahash, também usada para encantamento (Ec 10.11; Jr 8.17). Talismã consiste em letras, símbolos ou palavras sagradas, nomes de an­jos ou demônios com o objetivo de afastar o mal de quem os usa.

2. Rogos do espirro"Saúde!", "Deus te crie!", ou, expressão mais erudita como Dominus caetuml, "o Senhor te crie!", hayiml, "vida!", em Israel; são expressões que ouvimos no dia-a-dia quando alguém espirra. Por que não acontece o mesmo quando alguém tosse? Os antigos acreditavam que o espírito do homem residia na cabeça, e um bom espirro era o sufi­ciente para sua fuga e, ao fazer uma pequena prece, ele permanecia na pessoa que espirrou. Hoje, isso já vi­rou etiqueta social.

3. Sexta-feira 13. O número 13 é tido por alguns como bom agouro e para outros como infortúnio. Há até edifícios em que passam do 12° para o 14° andar temendo desgraças. A sexta-feira 13 é considerada um dia de azar. Uns atribuem a superstição sobre o número 13 aos vikings ou a outros normandos. Há também os que atribuem ao cristianismo, já que sexta-feira foi o dia em que Jesus mor­reu e 13 é uma referência a Judas Iscariotes que, segundo os supersticiosos, era o décimo terceiro homem da reunião da Última Ceia. Mas, não há indício algum para confirmar essa versão.

SUPERSTIÇÕES SUPOSTAMENTE BÍBLICAS

1. Segunda-feira azaradaOs judeus não consideram a segunda-fei­ra um bom dia para negócios, porque no relato da criação, em Gênesis 1, não consta o registro "e viu Deus que era bom", como aparece nos demais dias. Mas, no dia terceiro, aparece duas vezes a expressão "e viu Deus que era bom" (Gn 1.10, 12), por isso é o dia tradicional de cerimônia de casamen­tos e, também, o dia em que se cele­bram grandes negócios em Israel. O costume baseia-se na interpretação incorreta de uma passagem bíblica. A bênção divina para o sucesso, toda­via, não depende do dia em que o evento é realizado, e sim na confian­ça em Deus (Sl 37.3-5).

2. MezuzáPalavra hebraica que significa "portal, umbral, ombreira" (Êx 12.7). Esse termo é usado hoje para identificar o pequeno tubo metálico que os judeus usam no umbral direito da porta, seguindo o prescrito na Lei de Moisés (Dt 6.4-9). Isso não deve ser considerado superstição, pois tem fundamento bíblico, como não é superstição um cristão colocar em seu lar quadros com versículos bíblicos e outros motivos cristãos como identi­ficação de sua fé. Mas os judeus cabalísticos da Idade Média transfor­maram a mezuzá em amuletos e talismãs, como objetos de proteção.

3. O perigo da inversão de valores. Não confundir o Cristo da cruz com a cruz de Cristo. Os hebreus consideravam a simples presença da arca da aliança na guerra como ga­rantia de vitória (1 Sm 4.4-11). Ain­da hoje, alguns crentes creem estar protegidos de infortúnio e mau augúrio só porque mantêm a Bíblia aberta no salmo 91. Isso significa transformar a fé viva no Deus todo-poderoso em mera superstição ou amuleto. A proteção vem da confian­ça em Deus e na obediência à Sua Pa­lavra (Js 1.8; 1 Jo 5.4).

4. Fé cristã não é supersti­çãoOs filhos de Ceva, tendo em vista o misticismo de Éfeso, cuida­ram fosse o apóstolo Paulo um má­gico com uma nova fórmula: o nome de Jesus (At 19.13). Mas eles se equivocaram. Ainda hoje há os que transformam elementos cristãos em superstições. Baseados em lendas de vampiros, muitos supõem que, exi­bindo uma cruz, podem expulsar os espíritos maus. Jesus disse: "em meu nome expulsarão demônios" (Mc 16.17). Ele conferiu essa autorida­de aos seus servos (Mt10.8). Todos os que usarem o nome de Jesus como amuletos poderão ter a mes­ma decepção dos filhos de Ceva (At 19.16).

C0NCLUINDO

As superstições, independente­mente de sua origem, são nocivas à fé cristã. Crer em coisas triviais, ou nas aparentemente bíblicas, é rejeitar a fé em Deus ou acrescen­tar algo além dEle. Nós cremos num Deus que pode guardar-nos de to­dos os males (2 Tm 1.12).

Não seria o uso de elementos como galhinho de arruda, sal gros­so e copo d'água na liturgia uma volta ao misticismo medieval, tão condenado pelos reformadores? A teologia da maldição hereditária não seria um vilipendio à doutrina da graça e uma superstição religiosa em sua essência? Lamentavelmente, é nítida a existência de casos de superstição entre evangélicos, mas isso é resultado da ausência de orienta­ção bíblica. Nas igrejas onde o povo recebe o ensino sistemático e sadio da Palavra de Deus raramente exis­te isso.

Alguns casos de supersticiosidade entre evangélicos são menores, outros são mais graves. Alguns exem­plos do primeiro tipo são deixar a Bíblia aberta no Salmo 91 para afas­tar desgraças; utilizar a expressão Tá amarrado!' de forma séria, como uma espécie de precaução espiritual; abrir a Bíblia aleatoriamente para 'tirar um versículo' que funciona como a orientação de Deus para to­marmos uma decisão; trocar a leitu­ra sistemática e regular da Bíblia pela 'caixinha de promessas'; reputar que a oração no monte tem mais eficá­cia do que a feita dentro do quarto ou na igreja; dormir empacotado para que Deus, ao nos visitar à noi­te, não se entristeça; e acreditar que objetos ou algum suvenir de Israel (pedrinhas, água do Rio Jordão, fo­lhas) têm algum poder especial.

O protestantismo foi um dos gran­des catalisadores do fim da superstição da Idade Média, que havia sido implementado por um catolicismo cada vez mais decadente. É só reexaminarmos a história e veremos que, antes da Reforma, o mundo me­dieval era cheio de fantasmas, duendes, gnomos, demônios, anjos e santos. O povo era ignorante, extre­mamente supersticioso e não tinha acesso à leitura. A própria Igreja Ca­tólica Romana fomentava e explora­va isso. Foram os evangélicos que combateram tudo isso, inclusive apoi­ados pelos humanistas da época.

Um exemplo de caso grave de superstição é o caso da teologia da maldição hereditária, que declara insuficiente a obra de Cristo na vida da pessoa, pois afirma que, depois de salvo por Jesus, o cristão deve desenterrar o seu passado e o de seus familiares para quebrar uma a uma todas as possíveis mal­dições que acometeram seus ante­passados e que ainda repousariam sobre ele, se não a libertação não será completa. Além de não ter base bíblica (2 Co 5.17), essa teologia defende um princípio quase reencarnacionista, estabelecendo um carma na vida da pessoa a partir de seus parentes. (...) Fujamos de toda a sorte de superstição. Que nossa fé seja absolutamente bíbli­ca.


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