segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A consagração dos sacerdotes

A consagração dos sacerdotes


Hoje trataremos acerca do cerimonial de consagração sacerdotal para o serviço no Tabernáculo, cujos detalhes foram exarados no capítulo 29 de Êxodo. O significado sublinhar  primordial desse cerimonial era mostrar  que as pessoas que estavam ali sendo apresentadas eram chamadas, escolhidas e eleitas pelo próprio Deus para aquela tarefa. Além disso, essa cerimônia dizia a todos os israelitas que aqueles homens escolhidos para o ofício sacerdotal se dedicariam, exclusivamente, àquele serviço para o qual estavam sendo apresentados.
I. A CONSAGRAÇÃO DE ARÃO E SEUS FILHOS
A palavra consagrar vem do latim “consecrare”, formada por “com”, que significa “inteiramente” e“sacer”, que quer dizer “santo”. Portanto, consagrar significa “santificar inteiramente”.
No Antigo Testamento vemos Pessoas e objetos sendo separados para serviço divino, ou seja, eram consagradas (Êx 29.35; 28.41; Lv 7.37; 21.10; Nm 3.3; 7.11; Js 6.19).
Em uma cerimônia impressionante e muito bem preparada, Arão e seus filhos foram consagrados ao sacerdócio. Eles tinham de estar devidamente limpos e ataviados e deviam ter expiado seus pecados antes de assumir os deveres sacerdotais.
Vejamos alguns aspectos importantes dessa cerimônia de consagração:
1. A lavagem com água - “Então, farás chegar Arão e seus filhos à porta da tenda da congregação e os lavarás com água” (Ex 29:4). Esta lavagem cerimonial dos sacerdotes com água simbolizava a pureza que devia caracterizar o serviço sacerdotal, bem como a Palavra de Deus, como fonte de purificação (Sl 119.9,11; Jo 13.10; 17.17). Como Deus é santo (Lv 11.44,45; 19.2; 20.7; Is 48.17; I Pe 1.16) os sacerdotes deveriam estar limpos tanto no ato da consagração como no exercício do seu ofício (Êx 30.19-21). Caso contrário, eles estariam impuros para cumprir suas obrigações diante do Senhor. Semelhantemente, todos nós, como reino sacerdotal e nação santa (I Pe 2.9), necessitamos estar limpos, para nos achegar a Deus (Jo 15.3; II Co 7.1; Ef 5.26). O escritor aos hebreus diz:“Cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa” (Hb 10.22).
Após a lavagem, os sacerdotes estavam prontos para colocar suas novas vestimentas, próprias e específicas para o trabalho que exerceriam. A mensagem aqui é que “não era suficiente que removessem a corrupção do pecado [pela lavagem da água], mas também “deveriam vestir as graças do Espírito, vestirem-se da justiça (Sl 132:9). Eles deveriam ser cingidos, como homens preparados e fortalecidos para o seu trabalho. E deveriam ser vestidos e coroados, como homens que consideravam o seu trabalho e as suas funções uma verdadeira honra” (Henry,Matthew. Comentário Bíblico do Antigo Testamento. CPAD).
2. A unção com óleo (Êx 30:22-33). Deus mandou Moisés fazer um óleo especial de unção. Os ingredientes eram “pura mirra, canela aromática, cálamo aromático, cássia e azeite de oliveiras” (Êx 30:23,24). Estas especiarias (duas vezes mais de mirra e cássia que os outros ingredientes) seriam misturadas com um him de azeite de oliva (cerca de 6,6 litros). Estes produtos aromáticos, por terem propriedades curativas e fragrância, tornavam a substância perfumada apropriadamente típica do Espírito Santo, que santifica e unge o povo de Deus. Esta composição foi usada primeiramente para ungir a tenda da congregação (o Tabernáculo) e sua mobília (Êx 30:26-29).
Depois da consagração do Tabernáculo, Moisés ungiu os sacerdotes para a função especial que desempenhariam (Êx 29:21; Êx 30:30). O óleo da santa unção era derramado sobre a cabeça de Arão e seus filhos: “E disto farás o azeite da santa unção, o perfume composto segundo a obra do perfumista; este será o azeite da santa unção” (Êx 30:15). Este ato os consagraria ao ofício sagrado, simbolizando a unção do Espírito Santo nos servos de Deus.
Moisés disse a Israel que este óleo tinha de ser permanente (Ex 30:31); nunca deveria ser usado na “carne do homem” (Ex 30:32), ou seja, para propósitos comuns; e sua fórmula nunca deveria ser copiada. Haveria uma maldição em quem fizesse um óleo santo como este, ou aplicasse impropriamente (Ex 30:33).
O Espírito Santo é muito semelhante a esta combinação de substâncias odoríferas e óleo! Ele perfuma e cura a alma ungida; torna santo todos que o recebem; não pode ser falsificado e quem procura substitui-lo cai na condenação de Deus; não é dado ao mundo, mas a quem é redimido pelo sangue de Cristo; e sempre é o mesmo.
3. Animais são imolados como sacrifício (Êx 29:10-18). Três animais eram sacrificados durante a cerimônia de consagração: um novilho e dois carneiros, sem mácula:
a) O novilho (A oferta pelo pecado). Antes de ministrar em favor do povo era necessário que o sacerdote oferecesse sacrifícios de holocausto por sua própria vida (vv. 10-14). Eles deveriam colocar a mão na cabeça do animal a ser sacrificado (Êx 29:10), como confissão de que eram pecadores e pelos seus pecados deveriam morrer. A morte imediata do animal mostrava a pena do pecado, mas também indicava a expiação no sacrifício de Jesus na cruz (1Pe 1:18,19). A ação de pôr o sangue do novilho (v.12) nas pontas do altar e em sua base enfatizava a necessidade de dar a vida pela salvação. Partes do corpo do animal, inclusive a gordura, eram queimadas sobre o altar e o restante era levado para fora do acampamento, a fim de ser queimado (vv. 13.14), tipificando Cristo que “padeceu fora da porta” (Hb 13:11,12). Nenhuma parte desta oferta era comida pelos sacerdotes, como geralmente não se comiam as ofertas pelo pecado (Lv 4:11,12; cf Lv 10:17-20).
Quem serve na obra de Deus deve se lembrar de que é um pecador e deve se apoiar totalmente nos méritos de Cristo para sua salvação. Como Paulo disse a Timóteo, o obreiro de Deus deve cuidar primeiro de si mesmo, da sua própria salvação, da sua vida espiritual, para depois levar a salvação e a bênção de Deus aos outros: “Tem cuidado de ti mesmo […] fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1Tm 4:16). Como alguém poderá ajudar perfeitamente aqueles que se encontram doentes enquanto ele mesmo ainda se encontra doente?
b) O primeiro carneiro (O holocausto em honra a Deus) (Ex 29:18). O carneiro era morto de modo semelhante à oferta pelo pecado e o sangue era aspergido sobre o altar. Êx 29:17  fica mais claro assim: “Corte [o carneiro] em pedaços, lave as vísceras e as pernas e coloque-as ao lado da cabeça e das outras partes”(NVI]. O carneiro inteiro era queimado no altar como cheiro suave (v.18) para o Senhor.
No holocausto, a idéia intencional era de abnegação e não de expiação. Esta abnegação é agradável a Deus, visto que a oferta pelo pecado nunca era considerado de cheiro suave. Esta oferta representava a entrega das pessoas a Deus para servi-lo em espírito de adoração.
Segundo Silas Daniel, o fato de essa oferta só poder ser apresentada após a oferta pela expiação dos pecados dos sacerdotes significa que “até que a iniquidade seja retirada, nenhum serviço aceitável pode ser realizado”, o que nos lembra da purificação de Isaias para poder servir no ministério profético como Deus queria (Is 6:7).
II. O SACRIFÍCIO DA POSSE
1. O segundo carneiro, chamado “carneiro da consagração” (Êx 29:22), era morto da mesma maneira que os outros animais. Parte do sangue era colocada primeiramente na “orelha direita“, no “dedo polegar da mão direita” e no “dedo polegar do pé direito” de cada um dos sacerdotes (Êx 29:20). Em seguida, o restante do sangue era derramado sobre o altar. Desse sangue que estava ali, junto com óleo, era aspergido sobre Arão, seus filhos e suas vestes (Êx 29:21).
Segundo Leo G. Cox, esse ritual tem o seguinte significado: “O sangue na ponta da orelha direita significava santificação de sua atenção; no dedo polegar da mão direita, o sangue consagrava simbolicamente os serviços feitos pelas mãos; o sangue no dedo polegar do pé direito devotava a Deus o andar nesta vida. A mistura de sangue com óleo ‘simbolizava a união íntima que existe entre a justificação e a santificação – o sangue expiatório e a graça santificadora do Espírito Santo’. A pessoa e as vestes dos sacerdotes eram santificadas (Êx 29:21), quer dizer, tornadas santas por serem dedicadas ao serviço santo”.
O restante do ritual, conforme descrito no texto sagrado, é muito bem sintetizado por Leo G. Cox:
Moisés poria nas mãos dos sacerdotes partes deste carneiro das consagrações, junto com porções do pão, bolos e coscorões que estavam na cesta (Êx 29:22,23; ver Êx 29:2). Por um movimento horizontal em direção ao altar, os sacerdotes tinham de apresentá-los como oferta ritualmente movida, simbolizando entrega a Deus (Ê 29:24). Depois, Moisés queimava a porção de Deus no altar (Êx 29:25) por cheiro agradável ao Senhor. Retinha o peito do carneiro das consagrações para si (Êx 29:26), a parte que normalmente ia para o sacerdote que oficiava a oferta do peito do movimento. O peito e o ombro dos sacrifícios pacíficos – como pode ser chamado este tipo de oferta (Êx 29:28) – eram porções habituais para o sacerdote (Êx 29:27). O peito era movido em movimento horizontal e o ombro era alçado (ou erguido) em movimento vertical em atos simbólicos de dá-los a Deus.
2. Sacrifícios diários. A impressionante cerimônia de consagração dos sacerdotes durou sete dias (Êx 29:35). Durante esse período observaram-se cada dia os mesmos ritos observados no primeiro dia. Dessa forma, toda a congregação podia compreender o quanto Deus é santo e que foi ele próprio quem instituiu a ordem sacerdotal.
Segundo Silas Daniel, as vestes do sumo sacerdote eram passadas para o seu filho por ocasião da consagração deste como novo sumo sacerdote (Êx 29:29,30). O novo sumo sacerdote deveria passar pelo mesmo cerimonial de consagração de seu pai, com o azeite sendo derramado sobre aquelas vestes mais uma vez – e sobre ele,  pela primeira vez. A indumentária não seria nova – seria a mesma usada por seu pai -, mas a experiência seria nova para o novo sumo sacerdote. Isso fala que as responsabilidades, representadas aqui pela indumentária, se transferem, mas a consagração e a unção, não. O novo ministro tem que ter a sua própria experiência de confirmação e capacitação para o oficio dadas por Deus.
O sacrifício diário. O texto de Êx 29:38-46 mostra os requisitos para os sacrifícios diários sobre o altar. A oferta diária era dois cordeiros novos, simbolizando entrega imediata a Deus: um pela manhã e outro à noite (Ex 29:39). A obediência de Israel a Deus nestas cerimônias era a garantia do poder santificador divino. Deus santificaria o Tabernáculo e o altar para uso especial, e a casa de Arão para sua obra peculiar (Ex 29:44). Por causa desta santificação, os israelitas seriam filhos de Deus e Deus habitaria entre eles (Ex 29:45). Assim, eles saberiam “que eu sou o Senhor seu Deus” (Ex 29:46).
Que este sacrifício diário possa nos fazer lembrar de nunca deixar passar uma manhã ou uma noite sem tirarmos tempo para confessarmos nossos pecados, orarmos e adorarmos Cristo, nosso Salvador.
III. CRISTO, PERPÉTUO SUMO SACERDOTE
Existe notável diferença entre o sacerdócio da Antiga Aliança e o sacerdócio de Cristo. Isto por que, no Antigo Pacto, o sumo sacerdote era imperfeito e oferecia sacrifício pelos seus próprios pecados. Mas, quanto ao sacerdócio de Cristo, o escritor aos Hebreus diz: “Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus; Que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo” (Hb 7.26,27).
Para que se tivesse o ministério sacerdotal de Cristo, forçoso era que o ministério sacerdotal levítico se interrompesse. E foi, precisamente, o que ocorreu, quando do próprio julgamento de Jesus. Quando Jesus foi levado ao sumo sacerdote, que era Caifás (João 18:13), este, após a declaração de Jesus de que o Filho do homem viria sobre as nuvens do céu, assentado à direita do Poder, rasgou as suas vestes (Mt 27:65), o que era vedado ao sumo sacerdote fazer (Lv 21:10). Tal gesto representou o término do sacerdócio levítico como tal, que, a partir de então, não teve mais qualquer valor diante de Deus, tendo sido encerrado com a destruição do Templo de Jerusalém no ano 70 d.C.
1. Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque. Jesus é descrito de vários modos nas Escrituras: Ele é o bom Pastor, o Pastor Supremo (João 10:11; 1Pe 5:4), Rei (Ap 19:16; Atos 2:29-36), Profeta (Dt 18:17-19; Atos 3:22-23; Lc 13:33), Mediador (Hb 8:6; 1Tm 2:5) e Salvador (Ef 5:23). Cada uma destas descrições salienta alguma função que Jesus desempenha no plano da salvação. Contudo, a mais completa descrição de Jesus com respeito a sua obra redentora seja a de Sumo Sacerdote – “Sendo por Deus chamado sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque” ((Hb 5:10).
Se Jesus é o Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, que é a ordem superior de sacerdócio, e se é sacerdote eterno, não há como pensarmos em outro ser que possa mediar entre Deus e os homens. Só há um mediador entre Deus e os homens e este é Jesus Cristo homem (1Tm 2:5). Isto é importantíssimo, pois, todos quantos se apresentarem (e são muitos os que assim o fazem na atualidade), como mediadores entre Deus e os homens, como pessoas que se interpõem entre Deus e o pecador, são “falsos cristos”, devendo, portanto, ser refutados e rejeitados pelos servos do Senhor.
2. O sacrifício perfeito de Cristo. O sacerdócio de Jesus é superior ao sacerdócio levítico, porque Jesus jamais pecou e, por isso, pôde oferecer um sacrifício perfeito e único (Hb 9:25-28), de forma que, ao contrário dos outros sacerdotes, não houve apenas cobertura dos pecados, mas, sim, a sua remoção, o seu completo perdão, com o pagamento do preço da redenção, que custou o sangue de Jesus. Por isso, Jesus nos purifica de todo pecado (1João 1:7), sendo Ele a propiciação pelos pecados de todo o mundo (1João 2:2). Por isso, é Ele, ainda hoje, o único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2:5).
Em virtude deste sacrifício suficiente e que se fez propiciação pelos pecados de todo o mundo (1João 2:2), Jesus assumiu o papel de mediador entre Deus e os homens (1Tm 2:5; Hb 8:6; 9:15; 12:24), intercedendo atualmente, à direita do Pai, pelos transgressores (Is 53:12; Rm 8:34). Jesus é o Sumo Sacerdote, pois é a Cabeça da Igreja (Ef 1:22; 5:23), que é composta de sacerdotes (1Pe 2:5,9; Ap 1:6; 20:6).
Portanto, o sacerdócio de Jesus é o sacerdócio estabelecido na dispensação da graça, que substitui o sacerdócio levítico, que, imperfeito e desvirtuado, não mais podia cumprir o seu desiderato. Com efeito, Deus já estava a abominar os sacrifícios, vistos que totalmente desacompanhados de uma verdadeira conversão (Is 1:11-15; Ez 22:26; Ml 1:7-10).
3. O sacrifício eterno de Cristo (Hb 7:24). “Mas este, porque permanece eternamente, tem um sacerdócio perpétuo“. O historiador Flavio Josefo estimava que oitenta e três sumos sacerdotes serviram a Israel, desde o primeiro sumo sacerdote, Arão, até a queda do segundo Templo, em 70 d.C. Cada um serviu em seu ofício, e por fim morreu. Mas Jesus permanece eternamente. Todo sumo sacerdote passaria o seu oficio para o seu sucessor; Cristo não; o Seu sacerdócio é perpétuo, e não há interrupção em sua eficácia. Ele é imutável e intransferível. Só Jesus é qualificado para se tornar um sacerdote perpétuo para toda a raça humana.
CONCLUSÃO
As cerimônias de purificação e consagração dos sacerdotes, bem como os sacrifícios diários apontavam para o sacrifício perfeito e o sacerdócio eterno de Cristo; lembravam a Israel da sua imperiosa necessidade de um Salvador. Temos livre acesso à presença de Deus por meio do ministério perfeito e definitivo de Jesus Cristo, um ministério perpétuo em nossa favor, no qual Ele está “sempre vivendo para interceder por todos nós” ( Hb 7:25b). Glórias sejam dadas a Ele para sempre, Amém!

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