CONSAGRANDO-NOS PARA SERVIR
INTRODUÇÃO
No início de Sua revelação ao povo de Israel, Deus separou algumas pessoas para serem sacerdotes. Esses filhos de Aarão eram responsáveis por oferecer sacrifícios a Deus em busca do perdão dos pecados do povo. Eram eles e só eles, então, ministros de Deus.
Com o passar do tempo, no entanto, a dinâmica do relacionamento entre Deus e seu povo foi criando outros ministros de Deus, para suprir as várias necessidades religiosas do povo.
O termo "sacerdote" ficou exclusivo para um tipo de ministério, que se tornou amplo para incluir os músicos, os porteiros, os metalúrgicos, os reis e os profetas, entre outros indivíduos que se colocavam nas mãos de Deus para ajudar o povo a crescer. O salmista chega a chamar de ministros a todos que fazem a vontade do Senhor (Salmo 103.21). O profeta Isaías espera por um tempo em que o povo de Deus (isto é, todos quanto levam Deus a sério) sejam chamados de sacerdotes e ministros do Senhor (Isaías 61.6).
Este tempo chegou com a chegada do Messias prometido. O Novo Testamento radicaliza ao colocar o sacerdócio sob a dinâmica da nova aliança. Todos os cristãos somos habilitados a ser ministros de uma nova aliança (2Coríntios 3.6). Nas palavras do apóstolo Pedro, todos os cristãos somos sacerdotes, porque podemos comparecer diante de Deus para pedir perdão pelos nossos próprios pecados, certos que o sacrifício do Sumo-Sacerdote Jesus Cristo é suficiente para nos reconciliar com o Pai. Por isto, podemos agora oferecer apenas sacrifícios espirituais, não mais corporais, como nos ensina o apóstolo Pedro: também nós mesmos, como pedras que vivem, somos edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecermos sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo (1 Pedro 2.5). Afinal, somos raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamarmos as virtudes dAquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pedro 2.9).
Impõe-se, no entanto, por vezes, que muitos cristãos não queremos ser sacerdotes. Lendo a cerimônia solene de consagração dos levitas, como descrita em Levítico 8.22-35, entendemos por que.
Há quatro etapas nesta consagração ou ordenação (como Francisco Leonardo Schalkwijk magistralmente nos ajuda a ver, em Confissao de um peregrino: para entender a eleição e o livre-arbítrio. Viçosa: Ultimato, 2002, p. 79-83. Muitas das idéias desta mensagem devo-as eu a essas belíssimas, conquanto curtas, páginas).
1. PURIFICAÇÃO
A primeira etapa é a purificação (Levítico 8.22-25).
A seguir, [Moisés] mandou trazer o outro carneiro, o carneiro para a oferta de ordenação, e Arão e seus filhos colocaram as mãos sobre a cabeça do carneiro. Moisés sacrificou o carneiro e pôs um pouco do sangue na ponta da orelha direita de Arão, no polegar da sua mão direita e no polegar do seu pé direito. Moisés também mandou que os filhos de Arão se aproximassem, e sobre cada um pôs um pouco do sangue na ponta da orelha direita, no polegar da mão direita e no polegar do pé direito; e derramou o restante do sangue nos lados do altar. Apanhou a gordura, a cauda gorda, toda a gordura que cobre as vísceras, o lóbulo do fígado, os dois rins e a gordura que os cobre e a coxa direita.
Hoje o gesto de Moisés, seguindo a instrução de Deus, pode nos parecer estranho, mas precisamos tirar dele o essencial.
O grande líder, depois de imolar o carneiro, separado para este fim, tomou o sangue que jorrou do seu corpo e o aspergiu sobre seu irmão Arão e sobre seus quatro sobrinhos. Ele derramou o sangue sobre a orelha, sobre o dedo polegar da mão direita e sobre o dedo polegar (dedão) do pé direito deles. Com isto, ele estava purificando a vida de cada um deles. Orelha, polegar e dedão indicam precisamente as três dimensões da vida cristã: estar pronto para ouvir a Palavra de Deus, pronto para servir ao Deus da Palavra e pronto para seguir o que ensina esta Palavra.
A orelha representa a porta de entrada das informações a partir das quais orientamos nossas vidas. A fé, ensina-nos o apóstolo Paulo, vem pelo ouvir (Romanos 10.17), mas a queda também, a Queda original (de Adão e Eva) e as quedas de hoje, também vem pelos nossos sentidos. Se queremos ser puros, precisamos permitir que Deus purifique os nossos ouvidos, para que por eles não entre a tentação.
Depois, Moisés também purificou o polegar direito dos sacerdotes. Era com a mão que os sacerdotes abençoavam, realizando todos os seus ofícios sagrados. Era com o dedo direito que seguravam firmes os animais para os sacrifícios e os utensílios para os rituais.
O dedo polegar, neste caso, representa aquilo que os seres humanos fazem. Se estivermos purificados, nossas ações abençoarão pessoas. Se nossas intenções forem santas, o que fizermos será santo. O sentido da purificação era este: a partir daquele momento, tudo o que os sacerdotes fizessem seria recebido por Deus como puro.
A seguir, Moisés purificou o dedão direito dos sacerdotes. O dedão, como sabemos, é essencial para caminhar. Ao purificá-lo, Moisés quis indicar que eram sacerdotes onde quer que fossem, e não apenas no ofício, estivessem ou não paramentados. Suas vidas ruiriam sem a purificação divina. Moisés quis mostrar também que um sacerdote só permanece em pé pelo poder de Deus na sua vida. Quando o sacerdote confia na força do ritual, seu ofício fica vazio. Quando o ministro confia nas suas palavras, não profere a Palava de Deus.
Todos os cristãos são cristãos porque experimentaram este grande momento, quando foram purificados. A esta purificação o Novo Testamento chama de justificação. Pelo sacrifício do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, o Cordeiro da purificação definitiva, fomos tirados da culpa e absolvidos do nosso pecado contra Deus. O sacrifício do Cordeiro da purificação definitiva, não precisa ser mais repetido. A fé o atualiza de uma vez só em nossa vida. Graças a Deus.
No entanto, a purificação ou justificação é apenas o primeiro momento, indispensável momento, que não pode ser transformado em ponto de chegada, mas ponto de partida. Infelizmente, há muitos cristãos satisfeitos em terem sido alcançados pelo sacrifício do Cordeiro. Contentam-se em ter passado pelo ritual da purificação e não permitem que Deus lhes faça passar pelas outras etapas da vida cristã.
Quem queremos abençoar outras pessoas precisamos passar pelos outros estágios que Deus requer. Quem queremos ser realmente abençoados precisamos conhecer outros momentos que Deus tem para nós.
2. DEDICAÇÃO
O segundo estágio é o da dedicação ou apresentação (Levítico 8.26-29).
Então, do cesto de pães sem fermento que estava perante o Senhor, apanhou um pão comum, outro feito com óleo e um pão fino [ou bolo, doce], e os colocou sobre as porções de gordura e sobre a coxa direita. Pôs tudo nas mãos de Arão e de seus filhos e moveu esses alimentos perante o Senhor como gesto ritual de apresentação. Depois Moisés os pegou de volta das mãos deles e queimou tudo no altar, em cima do holocausto, como uma oferta de ordenação, preparada no fogo, de aroma agradável ao Senhor. Moisés pegou também o peito que era a sua própria porção do carneiro da ordenação, e o moveu perante o Senhor como gesto ritual de apresentação, como o Senhor lhe havia ordenado.
Agora que os cinco sacerdotes (Arão e seus quatro filhos) estavam purificados por Deus, não por eles mesmos -- é preciso que repitamos --, podiam ser apresentados ao Senhor para o serviço. Por isto, o próximo gesto de Moisés foi pegar dois pães salgados e um bolo de uma cesta e misturá-los com carne e gordura. Fez com que os elementos descansassem um pouco e os entregou nas mãos dos sacerdotes. Em seguida, tomou-os de volta e os levantou bem alto diante de Deus, em sinal de oferecimento a Ele. Pouco depois, queimou-nos no altar, como oferta pela ordenação dos sacerdotes. Por último nesta etapa, Moisés pegou a parte do carneiro reservada para si mesmo e também o ofereceu ao Senhor.
Os pães, que já estavam na cesta, porque preparados previamente, eram de diferentes tipos, como os dons que a igreja recebe do Espírito Santo. Os pães, na verdade, eram de Deus e foram devolvidos a Ele, como os dons que o Espírito Santo nos dá. Nenhum deles é para o nosso próprio consumo, mas para a edificação da igreja. Devemos nos lembrar que devemos dedicar os nossos dons Àquele que no-los dá. Se nos esquecemos disto, eles não nos abençoam e nem abençoam a igreja.
Os pães e a carne são a seguir queimados. Não eram para uso de mais ninguém. Só de Deus. Somos pães e carnes que pertencemos a Deus. Ele nos usa para alcançar outras pessoas que ainda não confessaram o Seu senhorio ou para animar pessoas que perderam a glória do Senhor sobre as suas vidas. Não podemos ser usados para qualquer outra finalidade.
Neste momento, o mais significativo é que os pães e a carne são colocados sobre o altar. Quando colocamos nossas vidas sobre o altar, dizemos que pertencemos a Deus. Se pertencemos a Deus, Ele faz de nós o que Ele quer e não o que nós queremos. É muito difícil nos colocarnos no altar. Até podemos colocar nossos bens e até nossos talentos, mas nos colocarmos como sacrifício vivo, perfeito e agradável é duro porque achamos que vamos perder a nossa vida, embora, na verdade, iremos ganhá-la.
Quero convidar você a se dedicar a Deus.
Talvez você tenha um dia feito esta dedicação, mas antes que o sangue de Jesus Cristo e o óleo do Espírito Santo colorissem suas vestes, você se cansou, desanimou e desistiu de servir.
Dedique-se ou se rededique ao Senhor.
Quando Deus veio ao seu encontro, você se encantou com Ele, você gritou "Santo! Santo! Santo!", mas você também se apresentou a Ele: "Senhor, envia-me a mim"?
Você já colocou os dons que Deus lhe deu ao serviço dEle ou tem procurado retê-los para si? Você já colocou a sua vida no altar de Deus ou ainda está com medo do que Ele possa lhe pedir. Você já se colocou no altar para ser queimado ou pulou antes que o fogo de Deus fosse aceso?
Eu dediquei minha vida ao meu Senhor. Meus pais contavam que, quando eu nasci, eles me dedicaram ao Senhor. Eu só vim a saber disto muito tempo depois. Foi muito bom saber disto, mas aquela dedicação era apenas um desejo, até que eu mesmo o fiz, tornando-a uma realidade.
DISPONIBILIDADE
Disponível para Deus eu quero ser,
operando a salvação que me alcançou
vivendo pela graça do seu poder
para que eu seja testemunha de amor.
Reaviva, oh Deus, o dom que em mim há,
para que a minha vida fique de ti cheia,
para que o mundo em Jesus creia,
para que venhas sobre nós governar.
Disponível para Deus quero viver,
pois seu Espírito guardado me tem
e em minha direção sempre vem
pois seu cuidado é sempre para valer.
Disponíveis para Deus eu quero ver
todos que viram a sua redenção
porque firmaram com Ele aliança
e dependem sempre da sua unção.
Diga como o apóstolo Paulo: Não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão-somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus (Atos 20.24)
3. UNÇÃO
O terceiro momento é o da unção (Levítico 8.30).
A seguir, [Moisés] pegou um pouco do óleo da unção e um pouco do sangue que estava no altar e os aspergiu sobre Arão e suas vestes, bem como sobre seus filhos e suas vestes. Assim consagrou Arão e suas vestes, e seus filhos e suas vestes.
Por que o óleo?
Jacó é a primeira pessoa na Bíblia a usar o óleo para uma finalidade religiosa. Depois de ter dormido na beira da estrada, quando fugia de casa, ele tomou a pedra que havia posto por travesseiro e a erigiu em coluna, sobre cujo topo entornou azeite (Gênesis 28.18). Quando voltou ao mesmo lugar, Betel, ele repetiu o gesto e erigiu uma coluna de pedra no lugar onde Deus falara com ele; e derramou sobre ela uma libação e lhe deitou óleo (Gênesis 35.14).
Abraão, o avô de Jacó, tinha o hábito de celebrar os grandes momentos da sua vida com a edificação de altares. Seu neto também segue a sua tradição, acrescentando-lhe um elemento novo: o derramamento do óleo, preparado a partir do fruto da oliveira, a azeitona. Na experiência dos patriarcas de Israel, esta aspersão simboliza o reconhecimento da presença de Deus num determinado lugar, a separação (ou consagração) daquele lugar e também o oferecimento de um voto (compromisso) diante do Senhor.
Quando o povo de Israel deixou o Egito, Deus recomendou o ritual, agora para consagrar lugares e pessoas. Os livros de Êxodo e Levíticos trazem os procedimentos a serem usados no uso do óleo da unção (Êxodo 29.7) ou óleo santo ou sagrado (Êxodo 30.25, 37.29)
A partir daí tornou-se obrigatório, junto com o sangue, na cerimônia de consagração dos sacerdotes.
Quando Israel adotou a monarquia, um novo rei era empossado com o derramamento de óleo sobre a sua cabeça. Samuel, por exemplo, fez isso com Saul e com Davi. Os profetas e os sacerdotes ungiram outros reis.
A unção com óleo se estendeu para outras áreas da vida. Quando Rute foi se encontrar com Boaz, sua sogra lhe pediu para se ungir com óleo, isto é, perfumar-se (Rute 3.3). Quando uma pessoa querida ou ilustre visitava a outra, era ungida com óleo, como indicação de afeto ou honra (Salmo 23.5; Lucas 7.46). Quando alguém estava enfermo, a oração por ele podia incluir a unção com óleo (Tiago 5.14).
Mais tarde, o verbo "ungir" passou metaforicamente a significar separação ou consagração, mesmo que sem o uso do óleo. Quando começou o Seu ministério, Jesus foi ungido pelo Pai, sem óleo. Ele recebeu, então, o poder para ministrar. Este é, portanto, o sentido último da unção: o revestimento divino para o cumprimento de uma missão, que passa a ser desempenhada não em nome do enviado mas em nome dAquele que o envia.
Ser ungido é ser separado e capacitado para falar e fazer o que Deus inspira ou determina.
A cerimônia de consagração levítica inclui a aspersão do sangue. A roupa do sacerdote devia ficar marcada para sempre com pingos de sangue. Por que?
No Antigo Testamento, o sangue na veste indicava um memorial da separação; era uma marca para sempre. Toda vez que se vestisse, o sacerdote seria lembrado que fora separado para fazer o que estava fazendo. Seus gestos eram humanos, mas seu significado era divino.
No Novo Testamento, o sangue, não mais o sangue de um animal sacrificado sobre um altar, mas o sangue do Cristo (ungido) sacrificado na cruz para todos os que aceitam o Seu oferecimento, torna puro, dedicado e separado todo aquele que tem a sua vida lavada no sangue do Cordeiro, que é Jesus.
Alguém pode derramar óleo sobre a nossa cabeça, mas só Jesus pode nos lavar com o Seu sangue. Todo aquele que é salvo pelo derramamento do Seu sangue pode ser ungido, com ou seu óleo, para abençoar outras pessoas.
A esta experiência de ser ungido o Novo Testamento chama de derramamento (o mesmo que unção) do Espírito Santo. Assim, a unção do Espírito Santo é um "derramar" da graça de Deus sobre a vida do crente, como se fosse um óleo descendo sobre o seu corpo. O resultado é uma sensibilidade maior para ouvir a voz do Senhor, um desejo imenso em servir e uma capacitação especial para cumprir a tarefa que lhe foi delegada.
Esta unção acontece geralmente após a conversão e pode e deve se repetir ao longo da experiência cristã. Ela vem em seguimento a uma intensa busca por Deus.
Um dos textos mais ricos para entendermos o que acontece quando Deus nos unge é o de Êxodo 31.1-6:
Disse mais o Senhor a Moisés: "Eis que chamei pelo nome a Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, de habilidade, de inteligência e de conhecimento, em todo artifício. (...) Eis que lhe dei por companheiro Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã; e dei habilidade a todos os homens hábeis, para que me façam tudo o que tenho ordenado".
Jesus disse que seus discípulos não deveriam começar seus ministérios antes que recebessem a unção, isto é, o revestimento do poder do Alto (Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder. -- Lucas 24.49; cf. Atos 1.8) A partir do Pentecoste (Atos 2), a experiência do revestimento do poder do Espírito Santo (que nada tem a ver com poder humano) tornou-se uma possibilidade concreta para todos os seguidores de Jesus, a exemplo do que aconteceu no Novo Testamento: Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça ( Atos 4.33). Esta realidade é uma promessa viva para cada um de nós.
Quem é ungido não é melhor ou superior, mas alguém que recebeu uma capacitação especial para o serviço. Esta unção se manifesta em termos de confiança no poder de Deus, certeza da Sua presença, coragem para fazer o que Ele pede e capacitação para testemunhar do Seu amor e graça.
Depois que somos purificados por Deus e depois que nos apresentamos a Ele, colocando-nos Seu altar, Deus nos unge para o seu trabalho. É só a partir deste momento que somos habilitados para fazer o que Ele nos pede.
Alguns podemos ficar apenas na purificação, satisfeitos com a salvação. No entanto, uma vez que nos dedicamos a Ele, a unção vem. Só então passamos a espalhar seu óleo e seu sangue por onde quer que passemos.
Carrego na minha vida o sangue de Cristo e o óleo do Espírito Santo?
Eu preciso responder a esta pergunta para mim mesmo.
Você precisa responder a esta pergunta para você mesmo.
Com certeza, os que cremos tivemos nossas vestes lavadas pelo sangue do Cordeiro. Certamente, se temos desenvolvido os ministérios que Deus nos confiou, o Seu Espírito nos tem ungido.
Tenho eu me lembrado disto?
Tenho eu achado que fui salvo pelos meus próprios méritos. Possivelmente há cristãos que olhem para si mesmos e passem a achar que mereceram a salvação que receberam. Se você pensa assim, saiba que você pode estar próximo de cair. Para se manter em pé, saiba que foi lavado pelo sangue de Jesus. Você não se purificou a si mesmo; foi o Filho de Deus Quem o purificou, justificando-o, salvando-o.
Tenho eu falado de mim mesmo? Há tantas verdades na Bíblia, que tendemos a repeti-las, sem as consideram como devem ser consideradas. Sabemos tantas verdades, que tendemos a usá-las, em lugar de buscar a verdade vinda do Espírito Santo.
Minha oração a Deus é que eu nunca fale de mim mesmo, mas que eu exponha a Bíblia, da maneira mais fiel que eu consiga. Por isto, eu peço a Ele que me ilumine, para encontrar os textos mais adequados, para perceber os temas neles apresentados, mesmo aqueles escondidos como pérolas profundas em ostras submersas, fazer as aplicações mais próprias para a mente e para o coração dos que me ouvem ou lêem.
A felicidade de um proclamador é ser ungido, para não ter que falar de si mesmo. A palavra própria agrada pelo brilho de quem fala, mas a palavra ungida muda mentes e corações.
4. MEDITAÇÃO
O requisito final da cerimônia de consagração é a meditação (Levítico 8.31-35).
Arão e seus filhos fizeram tudo o que o Senhor tinha ordenado por meio de Moisés.
Moisés recorda aos sacerdotes o que deviam fazer. Eis o que ele, então, disse a Arão e a seus filhos: "Cozinhem a carne na entrada da Tenda do Encontro, onde a deverão comer com o pão do cesto das ofertas de ordenação, conforme me foi ordenado: 'Arão e seus filhos deverão comê-la'. Depois, queimem o restante da carne e do pão''... (Levítico 8.31-32).
Em seguida, o dirigente oferece-lhes uma instrução aparentemente estranha: "Não saiam da entrada da Tenda do Encontro por sete dias, até que se completem os dias da ordenação de vocês, pois essa cerimônia de ordenação durará sete dias. O que se fez hoje foi ordenado pelo Senhor para fazer propiciação por vocês. Vocês terão que permanecer dia e noite à entrada da Tenda do Encontro por sete dias e obedecer às exigências do Senhor, para que não morram; pois isso me foi ordenado" (Levítico 8.33-35).
Após aquelas experiências tremendas, os sacerdotes deviam ficar sete dias à entrada da Tenda do Encontro (ou tenda da congregação ou tenda sagrada) "ruminando" aquelas lembranças e recebendo as instruções de Deus, isto é, observando as prescrições (exigências) do Senhor (verso 35), para o ministério que iriam desenvolver. Depois da purificação, da dedicação e da unção, chegara a etapa da meditação.
Aqueles eram dias para tomarem ciência da sua responsabilidade e da ação de Deus nas suas vidas. O Senhor os separara, e eles não podiam banalizar aquelas experiências. Aquele era um compromisso sério, como o é todo compromisso diante de Deus. Não era para ser deixado de lado à menor dificuldade. Não podiam mais ir atrás de qualquer outro canto de sereia. A única Voz a ser ouvida era dAquele que os purificara, recebera sua dedicação e os ungira. Era nisto que era preciso meditar, para nunca mais ser esquecido. Naqueles tempos eles poderiamorar como o salmista: As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, Senhor, rocha minha e redentor meu! (Salmo 19.14)
Nesses dias, eles seriam alimentados pela Palavra de Deus, de modo a torná-la suas próprias palavras. Eles iriam "comer" a Palavra de Deus, de modo que todos os sons que saíssem da sua boca teriam o perfume da Palavra de Deus. Em termos cristãos, seus valores seriam os de Cristo, sua mente seria a de Cristo.
É impensável para nós, ditos modernos, ficar sete dias em meditação, como requeridos dos sacerdotes. Já temos dificuldade demais para ficar bem menos tempo...
A salvação solicita de nós apenas que aceitamos ser purificados pelo sangue de Jesus.
A dedicação demanda de nós uma decisão.
A unção exige de nós uma busca.
No entanto, a meditação espera de nós esforço, formada em termos de disposição, disciplina e obediência, disposição para fazer da Palavra de Deus a nossa palavra, disciplina para nos assentarmos para ouvir a voz de Deus e obediência ao Que esta Palavra nos diz.
Sem meditação na Palavra de Deus, seguiremos outras vozes, nossas ou do mundo em que vivemos. Meditando nela, ficaremos no caminho que conduz a uma vida de serviço.
A mente de Cristo se contrapõe à mente do mundo em que vivemos. Às vezes nos cansamos de crer na contra-corrente que passamos a viver segundo a corrente (a tendência) do mundo, embora sabendo que a contra-corrente é a nossa direção e a via da nossa vida.
A corrente do mundo, por exemplo, destila que o prazer deve ser buscado como alvo supremo, pouco importando o seu preço e muito menos as suas conseqüências. Nesse caso, a máxima é clara: faça o que quiser com o seu corpo. Se a Palavra de Deus não estiver em nós, isto é, se não estivermos com ela dentro de nós, ouviremos as vozes do mundo. Assim, se de um relacionamento sexual fora do casamento (logo pecaminoso) acontecer o "acidente" da gravidez, não há problema: "mate o bebê; faça um aborto". A vida deixa de ser um dom de Deus, para ser uma decisão de um casal irresponsável, que decide quem vive e quem morre.
A corrente do mundo valoriza os vitoriosos, sem que ponha à frente os critérios para a vitória. Predomina a política do "vale-tudo": "o importante é eu me dar bem". Se a Palavra de Deus não se tornar a nossa, adotaremos as palavras do mundo e nos comportaremos com a ansiedade típica daqueles que não crêem que Deus não cuida de nós e que não "honra" a nossa fidelidade a Ele.
A corrente do mundo impõe que sejamos aceitos por ele. É impressionante a nossa capacidade de "agradar" ao meio em que vivemos. Basta darmos uma circulada pelos shoppings para vermos garotinhas fumando... numa espécie de ritual de passagem para a aceitação. É claro que é bom sermos amados, mas a palavra que nos deve encantar é aquela do Pai a Jesus: "Eis o meu filho, em quem tenho muito prazer" (Mateus 3.17). Como saberemos que é assim que Deus nos considera (como filhos amados), se não lemos a Sua Palavra?
Sabemos que pensamos com o que o que colocamos em nossa mente. É por isto que Moisés recomendou que os novos sacerdotes gastassem tanto tempo diante de Deus. Esta é uma instrução para todos, como nos recorda Josué: Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido (Josué 1.8).
Quando nós meditamos na Palavra de Deus, nós vemos a Sua ação em nosso favor. Isaque, por exemplo, estava diante de um problema de difícil solução (encontrar uma namorada para casar... até hoje algo complexo...). Em meio à dificuldade, ele saiu para meditar no campo, ao cair da tarde; erguendo os olhos, viu, e eis que vinham camelos (Gênesis 24.63), camelos que transportavam a sua futura amada...
O apóstolo Pedro era um judeu que acreditava na Messias e que acreditava que, no final dos tempos, Deus salvaria a todos, mas a prioridade era de Israel. Sua visão mudou depois de uma visão e de sua meditação acerca desta visão. Diz o texto bíblico: Enquanto meditava Pedro acerca da visão, disse-lhe o Espírito: Estão aí dois homens que te procuram (Atos 10.19).
Voltando ao texto de Levítico, não temos como nos perguntar por que os sacerdotes deviam meditar sete dias à porta da tenda da congregação para que não morressem?
A instrução tem uma aplicação clara: se não meditamos na Palavra de Deus, nós morremos. Se não levamos Deus a sério, não levamos mais nada a sério. Estamos espiritualmente mortos, se não somos leitores e meditadores na Palavra de Deus.
A meditação é o resultado de um chamado. Quando meditamos na Palavra de Deus, nós nos alimentamos, nós pensamos e nos inspiramos na força dAquele que se sacrificou por nós. Quando somos recordados desta verdade, somos animados a esperar Deus realizar o Seu propósito para conosco. É assim que somos fortalecidos no Senhor e na força do seu poder (Efésios 6.10).
4. CONCLUSÃO
Todos queremos receber as bênçãos de Deus, mas a mais sublime que Ele nos dá é sermos bênçãos para os outros. Ter e usar a oportunidade de servir é uma bênção ao alcance de cada um de nós. Esta é uma providência da sabedoria divina para os seus filhos.
Temos sido purificados pelo sangue salvador de Jesus?
Temos nos apresentado a Deus? Temos dedicado as nossas vidas a Deus. Temos colocado nossas vidas no Seu altar?
Temos sido ungidos por Ele para fazer a Sua obra de redenção?
Temos transpirado a Sua palavra do nosso corpo?
Temos tomado como providência dEle para conosco todas as oportunidades que temos para servir?
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