sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A prática do jejum A importância que homens de Deus deram à prática do jejum

A prática do jejum
A importância que homens de Deus deram à prática do jejum
Ao longo da história bíblica se percebe a importância que homens de Deus deram à prática do jejum. Fora das páginas sagradas a história registra que muitos cristãos demonstraram igual interesse por essa prática. A prática do jejum, portanto, é bem conhecida na história bíblica e na história da igreja. Dentro desse universo cristão o pentecostalismo se sobressai aos demais seguimentos do protestantismo como aqueles para os quais a abstinência de alimentos ganha uma significação especial.
Mas apesar da prática do jejum ter entrado na história do povo de Deus como sendo algo benéfico à vida espiritual, algumas vozes dentro do protestantismo têm se levantado condenando essa prática. A alguns dias chegou-me as mãos um livro, na verdade um manual de doutrinas, pertencente a uma igreja da tradição evangélica brasileira. Resolvi ler o livro intitulado. Dentro das doutrinas analisadas naquele manual estava a prática do jejum. Ali estava escrito: “Vamos vê como é que uma igreja em graça vê a oração e o jejum. O jejum é um rudimento da lei judaica. É um costume judaico que a igreja católica incorporou, e, mais tarde, as igrejas protestantes copiaram. Na lei de Moisés a palavra “jejum” não é mencionada, e sim aflição da alma (...) O Cristão em graça não crê no jejum da carne como fonte de poder, de aperfeiçoamento espiritual, perdão, ou comunhão com Deus.
Quando foi perguntado a Jesus porque os seus discípulos não jejuavam, ele respondeu: “ Podeis fazer jejuar os convidados para o casamento, enquanto está com eles o noivo? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; naqueles dias, sim, jejuarão” ( Lucas 5:34-35). O jejum era um costume judaico, usado para castigar a carne, em sinal de luto, de tristeza, em dias de crises e lutas, que foi passado à igreja romana, etc. Mas o próprio Jesus disse que o jejum não era para os convidados às núpcias. Ele era o noivo, e enquanto estivesse presente não haveria necessidade de jejuar. Assim, Ele estava anunciando sua morte.
No dia de Pentecostes, o Espírito Santo de Deus veio fazer morada em nós, e por isso nós estamos permanentemente com o noivo. Não há, portanto, nenhum motivo para um cristão que vive na graça de Deus, jejuar. Ele possui toda a graça e a verdade no Cristo que está dentro do seu coração fazendo-o um com Ele. Jejuar seria o mesmo que dizer que a obra de Cristo não foi completa. Muitas pessoas pensam que o apóstolo Paulo jejuou por vontade própria, em busca de consagração, mas o contexto bíblico mostra que, na verdade, Ele, por estar passando por perseguições, não tinha como se alimentar. Em nenhum momento Paulo diz que jejuou para agradar a Deus ou pedir poder” . A seguir o mesmo autor cita os textos de 2ª Coríntios 6:4-6, 9-10 e 2ª Coríntios 11; 25-27, para comentar em seguida: “De novo, o contexto é de que o Ap. Paulo, que passava tantos desafios, não se alimentava.
Ele não se retirava a um quarto para jejuar e aproximar-se de Deus como muitos ensinam. O jejum, como forma de consagração ao Senhor, não é verdade bíblica, mas conceito de homens, logo não serve para nós, que já temos o noivo na nossa vida – somos a Sua noiva. Os judeus porque não O tem como Salvador, ainda jejuam”.

Antes de darmos uma visão panorâmica acerca da prática do jejum nas histórias: bíblica, da igreja e pentecostal, convém fazer algumas ponderações sobre esta citação.
1. O autor diz que na lei de Moisés não é mencionada a palavra ‘jejum’ e sim ‘aflição da alma’. No entanto, uma linha antes ele já havia dito que ‘o jejum é um rudimento da lei judaica’. Vamos esclarecer o mal-entendido. A expressão ‘innâ naphshô (aflição da alma) é tida no texto hebraico como sinônimo de tsôn (jejum).
O Novo Dicionário da Bíblia corrobora essa assertiva dizendo: “Os vocábulos hebraicos são tsûm (verbo) e tsôm ( substantivo). A expressão ‘inna naphshô (afligir a alma) também se refere ao jejum”. Para que não fique nenhuma dúvida que essas expressões são tidas como sinônimas O Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, conceituada obra sobre o hebraico bíblico, comenta: “Certos dias do calendário eram consagrados a um jejum nacional, dos quais o mais destacado era o Dia da Expiação (Lv 16.29, 31; 23.27-32; o jejum está indicado na expressão ‘nh npsh, “afligir a alma”). Esse jejum praticado por ocasião do Dia da Expiação é citado nas páginas do Novo Testamento em Atos dos Apóstolos 27:9, onde se lê: “Depois de muito tempo, tendo-se tornado a navegação perigosa, e já passado o tempo do jejum ( gr. nesteian), admoestava-os Paulo”. Não há dúvida alguma que ‘inna naphshô (afligira a alma) e tsôm (jejum) referem-se a abstenção de alimentos.
2. O autor diz tambem que uma das razões pelas quais não devemos mais jejuar é porque o noivo ( O Espirito Santo) está conosco. Mais uma vez há um mal-entendido aqui, pois as Escrituras dizem claramente que o noivo é Cristo Jesus, e somente quando ele retornar na consumação do século para a sua noiva, a igreja, aí sim não haverá mais razão para jejuar. É o que diz o expositor bíblico Gleason Archer Júnior: “No entanto, quando o Senhor trouxer derradeiramente a salvação ao seu povo, os meses de jejuem serão transformados em festas de alegria e regozijo (Zc 8:19)” (Enciclopédia de Dificuldades Bíblicas, editora Vida)
3. Foi dito que “não há, portanto, nenhum motivo para um cristão que vive na graça de Deus, jejuar”.
Pergunto: houve um apóstolo que viveu mais na graça de Deus do que Paulo? Pois a Escritura Sagrada diz que o apóstolo da graça achou motivo para jejuar: “Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simão por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaem, colaço de Herodes o tetrarca, e Saulo. E, servindo ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me agora a Barnabé e a Saulo (outro nome de Paulo) para a obra que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram” (At. 13:1-3). Novamente encontramos o apóstolo dos gentios encontrando motivos para jejuar, observe: “E, promovendo-lhes em cada igreja a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido (At. 14:23). O homem que disse: “ pela graça sois salvos” ( Ef. 2:8), tinha como hábito a prática do jejum. 4. O autor diz que Paulo não jejuou, mas passou fome devido à natureza de seu trabalho. Em palavras mais simples, para ele Paulo não praticou o jejum voluntariamente. Os textos bíblicos citados anteriormente refutam essa afirmação (At. 13:1-3; At. 14:23). Quando falamos em jejum bíblico algumas perguntas necessariamente nos vem à mente: o que é o jejum? Por que jejuar? Quando e como jejuar?.
De acordo com o Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento “jejuar é privar o corpo de ingerir alimento como sinal de que a pessoa está experimentando uma grande tristeza. O pesar é também expresso com choro e lamento e com o cobrir-se com pano de saco e cinzas (Et 4:3). Aquele que jejua diz com isso que está se afligindo a si mesmo ou à sua alma, i.e., o seu íntimo. Era possível jejuar em favor de outrem, por exemplo, o salmista pelos seus inimigos durante a enfermidade destes (Sl 35.13). Na maioria das vezes o jejum ia do nascer ao pôr do sol (cf. 2 Sm 1:12) e podia ser abstinência total ou parcial ( Sl 35.13; Dn 10:3). 8.1 O jejum no Velho Testamento O Velho Testamento revela ainda que o jejum podia expressar tristeza (1Sm 31:13; 2 Sm 1:12; 3:35; Ne 1:4; Et 4:3; Sl 35:13,14) e penitência (1 Sm 7:6; 1Rs 21:27; Ne 9:1,2; Dn 9:3-4; Jn 3:5-8); obter ajuda e orientação de Deus (Ex 34:28; Dt 9:9; 2 Sm 12:16-23; 2 Cr 20:3,4; Ed 8:21-23); o jejum podia ainda ser vicário ( Ed 10:6; Et 4:15-17). 8.2.
O propósito do jejum
O jejum não tinha como propósito nos dias do Velho Testamento simplesmente privar o estômago de alimentos, mas demonstrar que aquele que jejuava estava humilhado e contrito diante de Deus. A Enciclopédia Judaica observa que os Profetas foram os que mais chamaram a atenção para esse fato: “Um dos significados tradicionais do jejum – como ato simbólico ou espiritual de uma pessoa devota – foi exposto, primeiramente, pelos Profetas. Como eles não eram formalistas ou tradicionalistas do ritual e sim idealistas religiosos-sociais, colocavam a maior ênfase, não no jejum como mortificação do sistema digestivo, mas no despertar, por meio dele, da consciência adormecida do indivíduo” (Enciclopédia Judaica) 8.3 O jejum no Novo Testamento No Novo Testamento as palavras mais freqüentes para jejum são as descritas pelos termos gregos nesteuo (jejuar); nesteia ( jejuar, jejum); nestis ( não comendo, jejuando). Russell Norman Champlin observa que o “Senhor Jesus jejuou em certos lances de seu ministério, como se vê em Mat. 4:1-4. Sempre o Senhor teve como implícito que seus ouvintes jejuariam, não tendo condenado a esse costume, mas ensinava aos seus seguidores que deveriam jejuar visando a glória de Deus, e não a fim de ostentarem diante dos homens (ver Mat. 6:16,18). O Senhor Jesus nunca ensinou aos seus discípulos a que não jejuassem, mas instruiu-os sobre um tempo mais apropriado para fazê-lo (quando ele se ausentasse deles, ver Mat. 9:14-17; Mar. 2:18-22 e Luc. 5:33-39)”. Ao falar dessa prática na igreja apostólica, Champlin ainda comenta: “No livro de Atos vemos os líderes cristãos a jejuarem quando da escolha de missionários, o que evidentemente era prática que aplicava o jejum como meio de buscar a orientação divina ( ver Atos 13:2,3 e 14:23).” (Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, Editora Candeia) 8.4. O jejum no período pós - apostólico No período pós – apostólico a igreja continuava com o hábito de jejuar. Champlin observa ainda que “o jejum tornou-se um costume importante e regulamentado, na igreja cristã, antes do fim do século II d.C.
Após o século III d.C., tornou-se uma prática crescentemente ligada ao ascetismo. Os cristãos, no século II d.C., adotaram a prática farisaica de jejuarem duas vezes por semana, embora não o fizessem nem na segunda e nem na quinta-feira, porque esses eram os dias escolhidos pelos judeus com esse propósito.” Ao falar das práticas ascética e farisaica dos cristãos do século II concernente ao jejum, Champlin se refere a uma citação do Didaqué- ensino dos doze apóstolos, um manuscrito não-canônico escrito antes de 150 d.C. No capítulo oito desse texto se lê: “Vossos jejuns não tenham lugar (não sejam ao mesmo tempo) com os hipócritas; com efeito, eles jejuam no segundo e no quinto dia da semana; vós, porém, jejuai na quarta-feira e na sexta, dia de preparação)”. Embora seja desprovido de valor canônico, o ponto a se destacar com esse registro histórico do Didaqué acerca do jejum, é que essa prática continuava no período pós-apostólico. 8.5. O jejum na história da igreja Os grandes pregadores e reformadores protestantes tinham como hábito jejuar. Jerry Falwell observa que “por toda a história, grandes homens de Deus buscavam seu poder e bênção através do jejum. Lutero, Calvino e João Knox foram homens que jejuaram. Jonathan Edwards jejuou vinte e duas horas antes de pregar seu famoso sermão: “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”. A influência espiritual daquela mensagem não ficou restrita apenas à chama do avivamento que se alastrou pelas colônias da Nova Inglaterra, mas ainda hoje continua a acender a centelha do avivamento na vida de muitos cristãos. O evangelista Carlos Finney muitas vezes interrompia os cultos de avivamento, quando percebia que seu ouvintes estavam com o coração frio, e imediatamente proclamava um período de jejum e oração. Quando notava que Deus estava começando a aquecer o coração deles, continuava com as reuniões.” É ainda oportuno destacar a figura de João Wesley, o pai do metodismo. Wesley não consagrava nenhum obreiro para o Ministério sem que esse jejuasse pelo menos duas vezes por semana. (O Jejum Bíblico. Editora Vida) 8.6. Na história do pentecostalismo Que os pentecostais primitivos praticavam o jejum é fartamente documentado pela literatura. A obra The New International Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements ao se referir à pratica do jejum pelos primeiros pentecostais, diz que o Jejum como uma “abstinência voluntária de nutrientes físicos para propósitos espirituais, foi praticado por pentecostais modernos no início do movimento.” Ainda de acordo com essa conceituada obra, os pentecostais clássicos ao jejuarem observavam os aspectos espiritual e prático do jejum: Ao se referir ao aspecto espiritual, a citada obra comenta: “Os pentecostais estavam dispostos a aceitar a prática de privação física com propósitos espirituais. Sendo que o jejum é perfeitamente bíblico o cristão sincero não pode negligenciá-lo”.
Essa mesma obra sublinha que dentro do aspecto espiritual do jejum se destaca o autocontrole ou domínio próprio e a fonte de poder espiritual. Ao falar dos aspectos práticos do jejum, prossegue a mesma obra afirmando que o jejum é um acompanhamento necessário no exercício dos dons espirituais, em particular o dom de cura. Observando que: “Embora cada tipo de avivamento tenha sido acompanhado por um período de jejum privado e congregacional, a ocorrência da cura e milagres tem sido especialmente acompanhado por igual devocional.” 8.7. Jejum: disciplina espiritual ou legalismo? É notório que a prática do jejum na igreja hodierna vem arrefecendo-se. A desculpa dada é que o jejum nada mais é do que uma forma de legalismo. No entanto, muitas vozes dentro do cristianismo ortodoxo vem chamando a atenção dos crentes para esse equívoco. Warren Wiersbe ao falar do valor do jejum como disciplina espiritual, comenta: “Houve um tempo na história da igreja que os cristãos se deleitavam em discutir a disciplina espiritual da vida cristã; mas, hoje em dia, qualquer coisa que cheire a disciplina é rotulada de “legalista” e estranha aos ensinos do Novo Testamento sobre a graça. Os cristãos contemporâneos não têm tempo para disciplinas espirituais como adoração, jejum, oração, meditação, auto-exame e confissão. Estamos muito ocupados, indo de uma reunião a outra, procurando atalhos seguros para a maturidade (...) Uma das razões de o jejum ser eficaz é que há uma estreita relação entre o físico e o espiritual. Quando o corpo é disciplinado, como durante o período de jejum, o Espirito Santo tem a liberdade de esclarecer a mente e purificar as intenções, tornando nossa oração e meditação muito mais poderosas.
Ele pode usar períodos de jejum para santificar nossa vida e glorificar ao Senhor”. (Vitória Sobre a Tentação, Editora Mundo Cristão) Uma palavra final de advertência acerca dos erros e perigos que acompanham a prática do jejum nos é dada por escritores pentecostais. Fique atento a estas recomendações que nos dá a obra The New International Dictionary of Pentecostal and Charismatic Moviments: 1. Não se deve jejuar como fonte de justiça própria (Lc 18:11-12), 2. Não se deve jejuar com propósitos meramente sociais. 3. O jejum não deve ser praticado para demonstrar piedade religiosa. 4. O jejum não deve ser feito com o propósito de causar impressão a Deus e ao homem. O jejum é uma prática genuinamente bíblica e foi praticada tanto por crentes da Antiga como da Nova Aliança. O jejum não muda Deus, que continua o mesmo antes, durante e depois do jejum. O jejum nos muda, já que nos deixa mais sensíveis ao Espírito Santo. O cristão que vive em graça não nega os resultados benéficos que essa prática produz.
Pr. José Gonçalves
Ao longo da história bíblica se percebe a importância que homens de Deus deram à prática do jejum. Fora das páginas sagradas a história registra que muitos cristãos demonstraram igual interesse por essa prática. A prática do jejum, portanto, é bem conhecida na história bíblica e na história da igreja. Dentro desse universo cristão o pentecostalismo se sobressai aos demais seguimentos do protestantismo como aqueles para os quais a abstinência de alimentos ganha uma significação especial.
Mas apesar da prática do jejum ter entrado na história do povo de Deus como sendo algo benéfico à vida espiritual, algumas vozes dentro do protestantismo têm se levantado condenando essa prática. A alguns dias chegou-me as mãos um livro, na verdade um manual de doutrinas, pertencente a uma igreja da tradição evangélica brasileira. Resolvi ler o livro intitulado. Dentro das doutrinas analisadas naquele manual estava a prática do jejum. Ali estava escrito: “Vamos vê como é que uma igreja em graça vê a oração e o jejum. O jejum é um rudimento da lei judaica. É um costume judaico que a igreja católica incorporou, e, mais tarde, as igrejas protestantes copiaram. Na lei de Moisés a palavra “jejum” não é mencionada, e sim aflição da alma (...) O Cristão em graça não crê no jejum da carne como fonte de poder, de aperfeiçoamento espiritual, perdão, ou comunhão com Deus.
Quando foi perguntado a Jesus porque os seus discípulos não jejuavam, ele respondeu: “ Podeis fazer jejuar os convidados para o casamento, enquanto está com eles o noivo? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; naqueles dias, sim, jejuarão” ( Lucas 5:34-35). O jejum era um costume judaico, usado para castigar a carne, em sinal de luto, de tristeza, em dias de crises e lutas, que foi passado à igreja romana, etc. Mas o próprio Jesus disse que o jejum não era para os convidados às núpcias. Ele era o noivo, e enquanto estivesse presente não haveria necessidade de jejuar. Assim, Ele estava anunciando sua morte.
No dia de Pentecostes, o Espírito Santo de Deus veio fazer morada em nós, e por isso nós estamos permanentemente com o noivo. Não há, portanto, nenhum motivo para um cristão que vive na graça de Deus, jejuar. Ele possui toda a graça e a verdade no Cristo que está dentro do seu coração fazendo-o um com Ele. Jejuar seria o mesmo que dizer que a obra de Cristo não foi completa. Muitas pessoas pensam que o apóstolo Paulo jejuou por vontade própria, em busca de consagração, mas o contexto bíblico mostra que, na verdade, Ele, por estar passando por perseguições, não tinha como se alimentar. Em nenhum momento Paulo diz que jejuou para agradar a Deus ou pedir poder” . A seguir o mesmo autor cita os textos de 2ª Coríntios 6:4-6, 9-10 e 2ª Coríntios 11; 25-27, para comentar em seguida: “De novo, o contexto é de que o Ap. Paulo, que passava tantos desafios, não se alimentava.
Ele não se retirava a um quarto para jejuar e aproximar-se de Deus como muitos ensinam. O jejum, como forma de consagração ao Senhor, não é verdade bíblica, mas conceito de homens, logo não serve para nós, que já temos o noivo na nossa vida – somos a Sua noiva. Os judeus porque não O tem como Salvador, ainda jejuam”.

Antes de darmos uma visão panorâmica acerca da prática do jejum nas histórias: bíblica, da igreja e pentecostal, convém fazer algumas ponderações sobre esta citação.
1. O autor diz que na lei de Moisés não é mencionada a palavra ‘jejum’ e sim ‘aflição da alma’. No entanto, uma linha antes ele já havia dito que ‘o jejum é um rudimento da lei judaica’. Vamos esclarecer o mal-entendido. A expressão ‘innâ naphshô (aflição da alma) é tida no texto hebraico como sinônimo de tsôn (jejum).
O Novo Dicionário da Bíblia corrobora essa assertiva dizendo: “Os vocábulos hebraicos são tsûm (verbo) e tsôm ( substantivo). A expressão ‘inna naphshô (afligir a alma) também se refere ao jejum”. Para que não fique nenhuma dúvida que essas expressões são tidas como sinônimas O Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, conceituada obra sobre o hebraico bíblico, comenta: “Certos dias do calendário eram consagrados a um jejum nacional, dos quais o mais destacado era o Dia da Expiação (Lv 16.29, 31; 23.27-32; o jejum está indicado na expressão ‘nh npsh, “afligir a alma”). Esse jejum praticado por ocasião do Dia da Expiação é citado nas páginas do Novo Testamento em Atos dos Apóstolos 27:9, onde se lê: “Depois de muito tempo, tendo-se tornado a navegação perigosa, e já passado o tempo do jejum ( gr. nesteian), admoestava-os Paulo”. Não há dúvida alguma que ‘inna naphshô (afligira a alma) e tsôm (jejum) referem-se a abstenção de alimentos.
2. O autor diz tambem que uma das razões pelas quais não devemos mais jejuar é porque o noivo ( O Espirito Santo) está conosco. Mais uma vez há um mal-entendido aqui, pois as Escrituras dizem claramente que o noivo é Cristo Jesus, e somente quando ele retornar na consumação do século para a sua noiva, a igreja, aí sim não haverá mais razão para jejuar. É o que diz o expositor bíblico Gleason Archer Júnior: “No entanto, quando o Senhor trouxer derradeiramente a salvação ao seu povo, os meses de jejuem serão transformados em festas de alegria e regozijo (Zc 8:19)” (Enciclopédia de Dificuldades Bíblicas, editora Vida)
3. Foi dito que “não há, portanto, nenhum motivo para um cristão que vive na graça de Deus, jejuar”.
Pergunto: houve um apóstolo que viveu mais na graça de Deus do que Paulo? Pois a Escritura Sagrada diz que o apóstolo da graça achou motivo para jejuar: “Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simão por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaem, colaço de Herodes o tetrarca, e Saulo. E, servindo ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me agora a Barnabé e a Saulo (outro nome de Paulo) para a obra que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram” (At. 13:1-3). Novamente encontramos o apóstolo dos gentios encontrando motivos para jejuar, observe: “E, promovendo-lhes em cada igreja a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido (At. 14:23). O homem que disse: “ pela graça sois salvos” ( Ef. 2:8), tinha como hábito a prática do jejum. 4. O autor diz que Paulo não jejuou, mas passou fome devido à natureza de seu trabalho. Em palavras mais simples, para ele Paulo não praticou o jejum voluntariamente. Os textos bíblicos citados anteriormente refutam essa afirmação (At. 13:1-3; At. 14:23). Quando falamos em jejum bíblico algumas perguntas necessariamente nos vem à mente: o que é o jejum? Por que jejuar? Quando e como jejuar?.
De acordo com o Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento “jejuar é privar o corpo de ingerir alimento como sinal de que a pessoa está experimentando uma grande tristeza. O pesar é também expresso com choro e lamento e com o cobrir-se com pano de saco e cinzas (Et 4:3). Aquele que jejua diz com isso que está se afligindo a si mesmo ou à sua alma, i.e., o seu íntimo. Era possível jejuar em favor de outrem, por exemplo, o salmista pelos seus inimigos durante a enfermidade destes (Sl 35.13). Na maioria das vezes o jejum ia do nascer ao pôr do sol (cf. 2 Sm 1:12) e podia ser abstinência total ou parcial ( Sl 35.13; Dn 10:3). 8.1 O jejum no Velho Testamento O Velho Testamento revela ainda que o jejum podia expressar tristeza (1Sm 31:13; 2 Sm 1:12; 3:35; Ne 1:4; Et 4:3; Sl 35:13,14) e penitência (1 Sm 7:6; 1Rs 21:27; Ne 9:1,2; Dn 9:3-4; Jn 3:5-8); obter ajuda e orientação de Deus (Ex 34:28; Dt 9:9; 2 Sm 12:16-23; 2 Cr 20:3,4; Ed 8:21-23); o jejum podia ainda ser vicário ( Ed 10:6; Et 4:15-17). 8.2.
O propósito do jejum
O jejum não tinha como propósito nos dias do Velho Testamento simplesmente privar o estômago de alimentos, mas demonstrar que aquele que jejuava estava humilhado e contrito diante de Deus. A Enciclopédia Judaica observa que os Profetas foram os que mais chamaram a atenção para esse fato: “Um dos significados tradicionais do jejum – como ato simbólico ou espiritual de uma pessoa devota – foi exposto, primeiramente, pelos Profetas. Como eles não eram formalistas ou tradicionalistas do ritual e sim idealistas religiosos-sociais, colocavam a maior ênfase, não no jejum como mortificação do sistema digestivo, mas no despertar, por meio dele, da consciência adormecida do indivíduo” (Enciclopédia Judaica) 8.3 O jejum no Novo Testamento No Novo Testamento as palavras mais freqüentes para jejum são as descritas pelos termos gregos nesteuo (jejuar); nesteia ( jejuar, jejum); nestis ( não comendo, jejuando). Russell Norman Champlin observa que o “Senhor Jesus jejuou em certos lances de seu ministério, como se vê em Mat. 4:1-4. Sempre o Senhor teve como implícito que seus ouvintes jejuariam, não tendo condenado a esse costume, mas ensinava aos seus seguidores que deveriam jejuar visando a glória de Deus, e não a fim de ostentarem diante dos homens (ver Mat. 6:16,18). O Senhor Jesus nunca ensinou aos seus discípulos a que não jejuassem, mas instruiu-os sobre um tempo mais apropriado para fazê-lo (quando ele se ausentasse deles, ver Mat. 9:14-17; Mar. 2:18-22 e Luc. 5:33-39)”. Ao falar dessa prática na igreja apostólica, Champlin ainda comenta: “No livro de Atos vemos os líderes cristãos a jejuarem quando da escolha de missionários, o que evidentemente era prática que aplicava o jejum como meio de buscar a orientação divina ( ver Atos 13:2,3 e 14:23).” (Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, Editora Candeia) 8.4. O jejum no período pós - apostólico No período pós – apostólico a igreja continuava com o hábito de jejuar. Champlin observa ainda que “o jejum tornou-se um costume importante e regulamentado, na igreja cristã, antes do fim do século II d.C.
Após o século III d.C., tornou-se uma prática crescentemente ligada ao ascetismo. Os cristãos, no século II d.C., adotaram a prática farisaica de jejuarem duas vezes por semana, embora não o fizessem nem na segunda e nem na quinta-feira, porque esses eram os dias escolhidos pelos judeus com esse propósito.” Ao falar das práticas ascética e farisaica dos cristãos do século II concernente ao jejum, Champlin se refere a uma citação do Didaqué- ensino dos doze apóstolos, um manuscrito não-canônico escrito antes de 150 d.C. No capítulo oito desse texto se lê: “Vossos jejuns não tenham lugar (não sejam ao mesmo tempo) com os hipócritas; com efeito, eles jejuam no segundo e no quinto dia da semana; vós, porém, jejuai na quarta-feira e na sexta, dia de preparação)”. Embora seja desprovido de valor canônico, o ponto a se destacar com esse registro histórico do Didaqué acerca do jejum, é que essa prática continuava no período pós-apostólico. 8.5. O jejum na história da igreja Os grandes pregadores e reformadores protestantes tinham como hábito jejuar. Jerry Falwell observa que “por toda a história, grandes homens de Deus buscavam seu poder e bênção através do jejum. Lutero, Calvino e João Knox foram homens que jejuaram. Jonathan Edwards jejuou vinte e duas horas antes de pregar seu famoso sermão: “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”. A influência espiritual daquela mensagem não ficou restrita apenas à chama do avivamento que se alastrou pelas colônias da Nova Inglaterra, mas ainda hoje continua a acender a centelha do avivamento na vida de muitos cristãos. O evangelista Carlos Finney muitas vezes interrompia os cultos de avivamento, quando percebia que seu ouvintes estavam com o coração frio, e imediatamente proclamava um período de jejum e oração. Quando notava que Deus estava começando a aquecer o coração deles, continuava com as reuniões.” É ainda oportuno destacar a figura de João Wesley, o pai do metodismo. Wesley não consagrava nenhum obreiro para o Ministério sem que esse jejuasse pelo menos duas vezes por semana. (O Jejum Bíblico. Editora Vida) 8.6. Na história do pentecostalismo Que os pentecostais primitivos praticavam o jejum é fartamente documentado pela literatura. A obra The New International Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements ao se referir à pratica do jejum pelos primeiros pentecostais, diz que o Jejum como uma “abstinência voluntária de nutrientes físicos para propósitos espirituais, foi praticado por pentecostais modernos no início do movimento.” Ainda de acordo com essa conceituada obra, os pentecostais clássicos ao jejuarem observavam os aspectos espiritual e prático do jejum: Ao se referir ao aspecto espiritual, a citada obra comenta: “Os pentecostais estavam dispostos a aceitar a prática de privação física com propósitos espirituais. Sendo que o jejum é perfeitamente bíblico o cristão sincero não pode negligenciá-lo”.
Essa mesma obra sublinha que dentro do aspecto espiritual do jejum se destaca o autocontrole ou domínio próprio e a fonte de poder espiritual. Ao falar dos aspectos práticos do jejum, prossegue a mesma obra afirmando que o jejum é um acompanhamento necessário no exercício dos dons espirituais, em particular o dom de cura. Observando que: “Embora cada tipo de avivamento tenha sido acompanhado por um período de jejum privado e congregacional, a ocorrência da cura e milagres tem sido especialmente acompanhado por igual devocional.” 8.7. Jejum: disciplina espiritual ou legalismo? É notório que a prática do jejum na igreja hodierna vem arrefecendo-se. A desculpa dada é que o jejum nada mais é do que uma forma de legalismo. No entanto, muitas vozes dentro do cristianismo ortodoxo vem chamando a atenção dos crentes para esse equívoco. Warren Wiersbe ao falar do valor do jejum como disciplina espiritual, comenta: “Houve um tempo na história da igreja que os cristãos se deleitavam em discutir a disciplina espiritual da vida cristã; mas, hoje em dia, qualquer coisa que cheire a disciplina é rotulada de “legalista” e estranha aos ensinos do Novo Testamento sobre a graça. Os cristãos contemporâneos não têm tempo para disciplinas espirituais como adoração, jejum, oração, meditação, auto-exame e confissão. Estamos muito ocupados, indo de uma reunião a outra, procurando atalhos seguros para a maturidade (...) Uma das razões de o jejum ser eficaz é que há uma estreita relação entre o físico e o espiritual. Quando o corpo é disciplinado, como durante o período de jejum, o Espirito Santo tem a liberdade de esclarecer a mente e purificar as intenções, tornando nossa oração e meditação muito mais poderosas.
Ele pode usar períodos de jejum para santificar nossa vida e glorificar ao Senhor”. (Vitória Sobre a Tentação, Editora Mundo Cristão) Uma palavra final de advertência acerca dos erros e perigos que acompanham a prática do jejum nos é dada por escritores pentecostais. Fique atento a estas recomendações que nos dá a obra The New International Dictionary of Pentecostal and Charismatic Moviments: 1. Não se deve jejuar como fonte de justiça própria (Lc 18:11-12), 2. Não se deve jejuar com propósitos meramente sociais. 3. O jejum não deve ser praticado para demonstrar piedade religiosa. 4. O jejum não deve ser feito com o propósito de causar impressão a Deus e ao homem. O jejum é uma prática genuinamente bíblica e foi praticada tanto por crentes da Antiga como da Nova Aliança. O jejum não muda Deus, que continua o mesmo antes, durante e depois do jejum. O jejum nos muda, já que nos deixa mais sensíveis ao Espírito Santo. O cristão que vive em graça não nega os resultados benéficos que essa prática produz.

Pr. José Gonçalves

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