Unção com Óleo - Uma Reflexão Bíblica e
Histórica
Introdução
Este é um
assunto controverso e difícil. E, cabe aqui uma análise teológica sobre as
práticas da Igreja quanto a este assunto, levando em conta primeiro e
especialmente o que nos informam as Escrituras Sagradas, depois olhando para a
história da Igreja, de modo a que possamos ver de que forma este assunto foi
tratado no decorrer do tempo, de modo a que possamos avaliar com maior
propriedade o que hoje é praticado, e com conhecimento de causa, possamos
estabelecer o que deve ser feito quanto à esta importante questão.
A unção nas Escrituras Sagradas
Em vários
locais das Escrituras Sagradas encontramos o ato de ungir. Não há como
ignorá-lo. Mas, é importante notarmos que invariavelmente o ato de ungir,
quando se referindo à área espiritual, sempre teve o objetivo de separar e
consagrar.
Há também
outros usos para a unção, os quais iremos analisar mais à frente em nosso
estudo.
Um
importante detalhe que pode ser observado nas Escrituras Sagradas é que em
momento algum, nenhuma mulher foi ungida para uma tarefa na área espiritual.
Não há nenhuma referência a mulheres sendo ungidas seja para o serviço
sacerdotal ou para reinar.
Unção de Objetos
Muitos
objetos foram separados para serem utilizados no tabernáculo, e como o próprio
tabernáculo, eram também ungidos de modo a consagrá-los ao Senhor. A
ritualística da unção era usada para se separar e consagrar estes objetos ao
uso no culto a Deus.
"E disto farás o azeite da santa
unção, o perfume composto segundo a obra do perfumista: este será o azeite da
santa unção. (26) E com ele ungirás a tenda da congregação, e a arca do
testemunho, (27) E a mesa com todos os seus utensílios, e o candelabro com os
seus utensílios, e o altar do incenso. (28) E o altar do holocausto com todos
os seus utensílios, e a pia com a sua base. (29) Assim santificarás estas
coisas, para que sejam santíssimas; tudo o que tocar nelas será santo."
(Êxodo 30:25-29 ACF)
"Também cada dia prepararás um
novilho por sacrifício pelo pecado para as expiações, e purificarás o altar,
fazendo expiação sobre ele; e o ungirás para santificá-lo. (37) Sete dias farás
expiação pelo altar, e o santificarás; e o altar será santíssimo; tudo o que
tocar o altar será santo." (Êxodo 29:36-37 ACF)
O claro
entendimento dos textos acima é que os objetos ungidos se tornavam santos, ou
santificados, e também santificadores, pois, tudo o que neles tocasse se
tornaria também santo.
Hoje
temos vários objetos separados para uso específico, durante os cultos a Deus em
nossas Igrejas, como púlpitos, mesas, cadeiras, genuflexórios, cálices para a
ceia, etc., contudo, não os ungimos para torná-los santos, ou santificadores.
Isto se deve à teologia do Novo Testamento, que afirma categoricamente que
desde a vinda do Senhor Jesus Cristo, santos são aqueles que são salvos através
da redenção pelo Seu sangue derramado na cruz, e pela Sua ressurreição dos
mortos:
"Não sabeis vós que sois o templo
de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? (17) Se alguém destruir o
templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é
santo." (I Coríntios 3:16-17 ACF)
"Ou não sabeis que o vosso corpo é
o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não
sois de vós mesmos? (20) Porque fostes comprados por bom preço; glorificai,
pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a
Deus." (I Coríntios 6:19-20 ACF)
O Templo
de adoração passou a ser o coração do salvo, não mais um local de tijolos e
pedras. O véu do antigo Templo se rasgou no momento em que Jesus Cristo cumpriu
sua missão na cruz:
"E eis que o véu do templo se
rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras;"
(Mateus 27:51 ACF)
Neste
momento se estabeleceu uma Nova Aliança: Através de Jesus Cristo passamos a ter
acesso direto ao Pai, sem a necessidade de qualquer outra intermediação, sem a
necessidade de qualquer sacrifício físico, sem a necessidade de quaisquer obras
humanas:
"Porque por ele ambos temos acesso
ao Pai em um mesmo Espírito. (19) Assim que já não sois estrangeiros, nem
forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; (20) Edificados
sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a
principal pedra da esquina; (21) No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce
para templo santo no Senhor. (22) No qual também vós juntamente sois edificados
para morada de Deus em Espírito." (Efésios 2:18-22 ACF)
Nenhuma
carne é justificada pelas obras da lei. Não cabe, portanto, qualquer ação
humana, como a unção de objetos de modo a nos tornarmos santos ou santificados:
"Sabendo que o homem não é
justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido
em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras
da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada."
(Gálatas 2:16 ACF)
Partindo
deste princípio, claramente estabelecido pelas Escrituras Sagradas, qualquer
objeto que tenha sido feito "santo" através de um processo de unção,
ou através de qualquer outro meio ou ação humana, passa a ser objeto de
idolatria, e abominação ao Senhor, pois, vilipendia o sacrifício de Jesus
Cristo. Sacrifício este feito, de uma vez por todas, na cruz. Ato completo e
perfeito na Sua ressurreição, não restando qualquer outra obra a ser feita, não
necessitando de qualquer ação adicional.
Deste
modo, atribuir-se poder a qualquer objeto inanimado, a qualquer produto ou
alimento, é ato de misticismo, sendo deliberado desrespeito para com a
divindade do Senhor Jesus, ao qual foi dado todo o poder no céu e na terra:
"E, chegando-se Jesus, falou-lhes,
dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra." (Mateus 28:18 ACF)
Tudo o
que desejamos ou precisamos, devemos levar diretamente a Deus, em oração:
"Não estejais inquietos por coisa
alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela
oração e súplica, com ação de graças." (Filipenses 4:6 ACF)
Pedindo
sempre em nome de Jesus Cristo, e nunca utilizando fetichismos ou superstições,
nada de águas, ou óleos "santos" ou mágicos, ou pedras, ou madeiras,
ou qualquer outra coisa criada. Nada deve ser colocado como meio de obtenção de
graça, pois o nosso único meio de graça é o Senhor Jesus Cristo:
"Não me escolhestes vós a mim, mas
eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso
fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo
conceda." (João 15:16 ACF)
Unção de Pessoas
A unção
de pessoas era feita, quando com propósitos espirituais, com o objetivo de
separar-se esta pessoa para uma tarefa específica, seja enquanto rei, sacerdote
ou profeta. É importante também notar que todas estas tarefas eram realizadas
em conjunto com o objetivo de guiar o povo de Deus tanto espiritualmente quanto
secularmente. Também é importante ver que estas tarefas foram todas
assumidas por Jesus Cristo, o ungido de Deus. Assim, Cristo é Sacerdote,
Profeta e Rei.
Já no
Novo Testamento esta ação, a unção de pessoas, foi substituída pela imposição
de mãos, a qual outorga autoridade para ministrar, educar e servir, como até
hoje é feito na ordenação de pastores e diáconos. Há que se entender,
entretanto, que este processo não tem exatamente a mesma significação da unção
com óleo de outrora, não há qualquer santificação sendo conferida através deste
ato, pois, a santificação ocorre no momento da conversão quando o salvo é
selado pelo Espírito de Deus, e não há também qualquer transferência de poder,
pois, todo o poder está nas mãos de Jesus Cristo (Mateus 28:18), mas, este ato
indica com firmeza que aquele que está sendo ordenado, é reconhecido pela
Igreja como tendo sido separado por Deus para esta obra.
Unção de Reis
Os reis
eram ungidos como libertadores para o povo de Israel e para governar sobre o
povo como seu pastor:
"Amanhã a estas horas te enviarei
um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por capitão sobre o meu povo de
Israel, e ele livrará o meu povo da mão dos filisteus; porque tenho olhado para
o meu povo; porque o seu clamor chegou a mim." (I Samuel 9:16 ACF)
Unção de Sacerdotes
Deus
instruiu Moisés a ungir sacerdotes, de modo a consagrá-los e reconhecê-los como
pessoas separadas para servir a Deus através do sacerdócio. Os sacerdotes julgavam
sobre as diferenças entre as pessoas do povo, faziam expiação, santificavam o
povo perante Deus, ouviam confissões de pecados, faziam sacrifícios de ação de
graças e supervisionava os trabalhos no tabernáculo, entre outras tarefas.
"E vestirás a Arão as vestes
santas, e o ungirás, e o santificarás, para que me administre o sacerdócio.
(14) Também farás chegar a seus filhos, e lhes vestirás as túnicas, (15) E os
ungirás como ungiste a seu pai, para que me administrem o sacerdócio, e a sua
unção lhes será por sacerdócio perpétuo nas suas gerações." (Êxodo
40:13-15 ACF)
Unção de profetas
O ofício
profético era estabelecido pelo ato da unção:
"O espírito do Senhor DEUS está
sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos mansos;
enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos
cativos, e a abertura de prisão aos presos; (2) A apregoar o ano aceitável do
SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes; (3) A
ordenar acerca dos tristes de Sião que se lhes dê glória em vez de cinza, óleo
de gozo em vez de tristeza, vestes de louvor em vez de espírito angustiado; a
fim de que se chamem árvores de justiça, plantações do SENHOR, para que ele
seja glorificado." (Isaías 61:1-3 ACF)
Não há
uma descrição clara nas Sagradas Escrituras sobre como, ou qual, seria o ritual
para a unção de profetas, mas, este fato está razoavelmente estabelecido
através do texto de Isaías acima citado.
Produtos utilizados
Azeite
O azeite
de oliva simboliza uma vida útil e vibrante, sendo símbolo de regozijo, saúde e
de qualificações de uma pessoa para o serviço do Senhor:
"Porém tu exaltarás o meu poder,
como o do boi selvagem. Serei ungido com óleo fresco." (Salmo 92:10 ACF)
Ungüento
Gordura
misturada com perfumes especiais que lhe davam características muito
desejáveis.
Era
utilizado para ungir os pés dos hóspedes, simbolizando a alegria pela chegada
daquele hóspede, e desejando-lhe boas vindas:
"E Maria era aquela que tinha
ungido o Senhor com ungüento, e lhe tinha enxugado os pés com os seus cabelos,
cujo irmão Lázaro estava enfermo." (João 11:2 ACF)
Também
como era utilizado no cuidado pessoal com o corpo, pois, é um excelente
hidratante:
"Naqueles dias eu, Daniel, estive
triste por três semanas. (3) Alimento desejável não comi, nem carne nem vinho
entraram na minha boca, nem me ungi com ungüento, até que se cumpriram as três
semanas." (Daniel 10:2-3 ACF)
"Lava-te, pois, e unge-te, e veste
os teus vestidos, e desce à eira; porém não te dês a conhecer ao homem, até que
tenha acabado de comer e beber." (Rute 3:3 ACF)
Óleos curativos
O óleo
tem poderes curativos, permitindo amolecer feridas e purificá-las. O óleo
quando misturado a certas ervas, pode proporcionar medicamentos poderosos para
vários males. Não é de surpreender que os médicos em Israel tivessem desde
tempos antigos conhecimento destas ervas e da forma de utilizá-las no processo
curativo de doentes.
"Desde a planta do pé até a cabeça
não há nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres não
espremidas, nem ligadas, nem amolecidas com óleo." (Isaías 1:6 ACF)
"E, aproximando-se, atou-lhe as
feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura,
levou-o para uma estalagem, e cuidou dele;" (Lucas 10:34 ACF)
Ungüento fúnebre
Este
ungüento era utilizado na preparação do corpo para o sepultamento, como parte
de um processo de embalsamamento:
"Ora, derramando ela este ungüento
sobre o meu corpo, fê-lo preparando-me para o meu sepultamento." (Mateus
26:12 ACF)
"E as mulheres, que tinham vindo
com ele da Galiléia, seguiram também e viram o sepulcro, e como foi posto o seu
corpo. (56) E, voltando elas, prepararam especiarias e ungüentos; e no sábado
repousaram, conforme o mandamento." (Lucas 23:55-56 ACF)
Modos de aplicação
Na cabeça
O
derramamento de óleo sobre a cabeça de um homem indicava que este homem havia
sido separado para uma determinada tarefa a serviço do Senhor.
"Então tomou Samuel um vaso de
azeite, e lho derramou sobre a cabeça, e beijou-o, e disse: Porventura não te
ungiu o SENHOR por capitão sobre a sua herança?" (I Samuel 10:1 ACF)
"Preparas uma mesa perante mim na
presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice
transborda." (Salmo 23:5 ACF)
"Em todo o tempo sejam alvas as
tuas roupas, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça." (Eclesiastes 9:8
ACF)
Também
era usado sobre a cabeça com efeitos cosméticos:
"Em todo o tempo sejam alvas as
tuas roupas, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça." (Eclesiastes 9:8
ACF)
No rosto
A unção
do óleo no rosto tinha como objetivo a hidratação, e a proteção contra as
forças da natureza:
"E o vinho que alegra o coração do
homem, e o azeite que faz reluzir o seu rosto, e o pão que fortalece o coração
do homem." (Salmo 104:15 ACF)
Nos pés
Como já
foi dito, este ato estava normalmente relacionado com uma recepção digna e
alegre de um hóspede bem-vindo:
"E, estando por detrás, aos seus
pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-lhos com os
cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés, e ungia-lhos com o ungüento."
(Lucas 7:38 ACF)
Sobre as feridas
Neste
caso o óleo é utilizado como medicamento, sendo que através de suas
propriedades curativas próprias, ou em combinação com ervas ou outros produtos
era deitado sobre as feridas. Há muitos relatos deste tipo de procedimento na
literatura talmúdica1,
e alguns na própria Bíblia Sagrada, os quais já foram anteriormente citados.
"Volta, e dize a Ezequias, capitão
do meu povo: Assim diz o SENHOR, o Deus de Davi, teu pai: Ouvi a tua oração, e
vi as tuas lágrimas; eis que eu te sararei; ao terceiro dia subirás à casa do
SENHOR. (6) E acrescentarei aos teus dias quinze anos, e das mãos do rei da
Assíria te livrarei, a ti e a esta cidade; e ampararei esta cidade por amor de
mim, e por amor de Davi, meu servo. (7) Disse mais Isaías: Tomai uma pasta de
figos. E a tomaram, e a puseram sobre a chaga; e ele sarou." (II Reis
20:5-7 ACF)
Uso atual
Como
vimos, fica, em nossos dias, descartado o uso da unção com óleo para objetos,
de modo a torná-los sagrados ou santificados, já que nada mais pode ser
considerado objeto sagrado, uma vez que o templo de Deus na Nova Aliança é o
corpo daquele que teve seu coração transformado pelo sangue do Cordeiro de
Deus.
Também
não há mais qualquer necessidade de unção para sacerdotes, reis ou profetas.
Ocorrendo no caso daqueles que se dispõem a servir como oficiais da Igreja, o
ato da imposição de mãos, figura substituta da unção, mas, com significação
distinta.
Resta
então apenas um tipo de unção a ser analisado em termos de uso nos dias atuais:
a unção de enfermos com fins medicamentosos. Não restou nenhum tipo de
unção, com finalidades espirituais, a ser utilizada pelos crentes em Jesus
Cristo após o estabelecimento da Nova Aliança.
1 Escritos dos rabinos,
líderes da religião judaica. Não se trata de texto inspirado, mas, pode nos dar
excelentes referências históricas sobre a tradição e os costumes dos judeus.
Unção com Óleo - Uma Reflexão Bíblica e Histórica ( Continua )
Análise Histórica
É interessante que venhamos a analisar a prática da Igreja, desde
os seus primórdios até os dias atuais, para que possamos formar também nosso
pensamento através do testemunho daqueles que no decorrer do tempo estudaram e
buscaram o conhecimento bíblico, bem como daqueles que deturpando o verdadeiro
significado dos ensinos bíblicos torcem seu entendimento de acordo com suas
conveniências momentâneas.
Os pais apostólicos
Não há praticamente nenhuma referência à unção com óleo de
enfermos, entre os escritos de Tiago (± 46-49 d.C), e de Hipólito de Roma (±
200 d.C.). Isto provavelmente se deve ao fato de estarem os Cristãos deste
período lutando com tantas e tão variadas formas de heresias, como o
gnosticismo, o arianismo, o sebastianismo, o monarquismo, os judaizantes, entre
outros tantos, que não deve ter havido tempo para dedicarem-se a este assunto
em seus escritos.
Justino de Roma (± 140 d.C.)
Há contudo a exceção de Justino de Roma, que por volta de 140
d.C. defendia a posição de que todo e qualquer tipo de unção praticada ou
ministrada no Velho Testamento aponta para Cristo. E que assim em Cristo todas
as unções cessaram, conforme podemos ver pelo trecho de seu trabalho a seguir:
"Tendo Jacó derramado óleo no mesmo lugar, o próprio Deus
que lhe aparecera dá testemunho de Ter sido para ele que ungiu ali a pedra.
Também já demonstramos, com várias passagens das Escrituras, que Cristo é
chamado simbolicamente "pedra" e que também a ele se refere toda
unção, seja de azeite, seja de mirra ou qualquer outro composto de bálsamo,
pois assim diz a palavra: "Por isso, o teu Deus te ungiu, o teu Deus, com
óleo de alegria, de preferência aos teus companheiros". É assim que dele
participaram os reis e ungidos, todos os que são chamados reis e ungidos, da
mesma maneira como ele próprio recebeu de seu Pai o fato de ser Rei, Cristo, Sacerdote."
Hipólito de Roma (± 200 d.C.)
A mais importante obra teológica de Hipólito de Roma é intitulada
a "Tradição Apostólica". É um dos mais antigos documentos com
instrução litúrgica que podemos encontrar, tendo sido usado como base, pela
igreja católica romana, para consubstanciar sua herética doutrina sacramental
da "extrema-unção" e é também a base utilizada pelos neopentecostais
para confirmar que a Igreja Cristã pós-apostólica era praticante da "unção
de enfermos". Vamos ao texto de Hipólito:
Se alguém oferecer azeite, consagre-o como se consagrou o pão e o
vinho, não com as mesmas palavras, mas com o mesmo Espírito. Dê graças,
dizendo: "Assim como por este óleo santificado ungiste reis, sacerdotes e
profetas, concede também, ó Deus, a santidade àqueles que com ele são ungidos e
aos que o recebem, proporcionando consolo aos que o experimentam e saúde aos
que dele necessitam."
Por estas palavras podemos claramente entender que este
ensinamento está muito distante da verdade bíblica. Não há nenhuma instrução na
Palavra de Deus no sentido de se consagrar pão e vinho. A Bíblia inclusive não
trata o líquido da ceia do Senhor como sendo vinho. Há uma única referência,
feita pelo Senhor Jesus registrada em Mateus, referindo-se ao conteúdo do
cálice como "fruto da vide", ou seja "uva", ou seu suco:
"E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da
vide, até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai."
(Mateus 26:29 ACF)
E em nenhum momento há qualquer ritual de consagração. Há sim
oração em ação de graças a ser proferida durante o cerimonial da ceia do
Senhor, conforme instruções encontradas em Mateus
26:26-30 e em I Coríntios 11:23-30.
Se não se consagra o pão e o vinho, também não se consagra
azeite. Se não se consagra azeite toda a teologia e toda a instrução litúrgica
derivada desta linha de raciocínio é biblicamente inválida e deve ser
considerada espúria e anátema.
Aprofundando-nos no estudo dos ensinos de Hipólito de Roma
podemos encontrar vários tipos de óleos, como o óleo consagrado, o óleo de
exorcismo, o óleo de ações de graças, o óleo santo ou santificado, entre
outros, como o queijo da caridade e a azeitona consagrada. (Será que as
semelhanças com a IURD são meras coincidências?) Assim, quaisquer ensinos
provenientes desta fonte, ou de qualquer outra que nela se baseie devem ser
considerados espúrios e anátemas.
Orígenes (± 210 d.C.)
Orígenes, apesar de todas as suas tendências alegoristas e
metafóricas, de suas heresias e descalabros, ao tratar da questão da unção com
óleo, afirma, corretamente, que alguns Cristãos (neste caso Celso) teriam
querido curar suas feridas através da ação divina, mas manter sua alma
inflamada em seus vícios e pecados, rejeitando os remédios espirituais dessa
mesma palavra, a confissão de pecados e o perdão. Querendo usar o azeite, o
vinho e outros emolientes, e demais ajudas médicas que aliviam a enfermidade,
como alívio para sua alma corrompida, ou ainda usar de supostos poderes mágico-espirituais
conferidos aos medicamentos na cura das feridas, sem se apresentarem diante de
Deus, para a cura da alma.
Hoje em dia a medicina nos apresenta vários novos recursos
curativos, além do azeite e do vinho, aos quais podemos recorrer, contudo não
podemos em momento algum, nos esquecer da dependência de Deus, através de uma
vida de oração.
Este é o ensinamento de Orígenes: que muitos querem ser curados,
querem ser aliviados, mas não querem deixar seus pecados. Portanto, na teologia
de Orígenes não existe espaço para uma unção de enfermos com fins
curativos mágicos. O azeite e outros emolientes são importantes do ponto de
vista medicamentoso, mas sempre associados à dependência de Deus pela oração, e
se for para a Sua glória, Deus restabelecerá o enfermo.
Idade Média
Durante a Idade Média houve grande luta entre o poder secular e o
poder da Igreja, trazendo como conseqüência direta uma deturpação ainda mais
exacerbada da já caquética e corrompida teologia da igreja de Roma. As
interpretações das Escrituras visavam apenas dar respaldo a um misticismo
mágico-religioso que dominava as ações da igreja de Roma, e lhe conferia poder
sobre as massas ignorantes e crédulas, além de controle sobre seus governantes,
rendendo à igreja de Roma grandes frutos financeiros e políticos. Neste período
há muito pouca discussão sobre a unção com óleo, pois esta já se havia
instituído em sacramento, o sacramento da extrema-unção, para limpar de pecado
aquele que estava à beira da morte.
Cesário de Arles (± 503~504)
Ele faz várias referências à unção de enfermos nos seus sermões.
No sermão 13 ele escreve:
"Toda vez que sobrevier uma doença, o que a sofre receba o
corpo e o sangue de Cristo; peça humildemente e com fé ao sacerdote a unção com
o óleo bento a fim de que se cumpra nele o que está escrito".
No Sermão 184, suplica às mães que não levem seus filhos aos
"medicamentos diabólicos", argumentando:
"Quanto mais justo e razoável seria recorrer à igreja,
receber o corpo e o sangue de Cristo, ungir com fé, seja o próprio corpo ou o
dos seus, com o óleo bento."
Aqui vemos já uma completa deturpação do significado da ceia do
Senhor, pois é esta um memorial, não conferindo qualquer tipo de bênção, graça
ou cura. Pois, não há qualquer suporte nas Sagradas Escrituras para que assim
pensemos.
E assim da mesma forma também não há um "óleo bento pelos
sacerdotes". Pois, primeiramente, não há na Nova Aliança a figura do
sacerdote, não há mais a necessidade de intermediação entre o povo e seu Deus.
Cada um que tenha em si o selo da salvação, tem acesso direto ao Pai através de
Jesus Cristo, nosso Mediador e Advogado para com o Deus.
Não há também, como já vimos, sob a Nova Aliança, nenhum objeto
ou material consagrado ou santificado, tornando, deste modo, a existência de um
"óleo bento" simplesmente impossível.
E se não há bênção nem na ceia, nem no óleo, não há razão para
uma unção de enfermos, exceto quando ocorrer com caráter puramente
medicamentoso, sem qualquer conotação mística ou espiritual.
Quanto à afirmação no sermão 184, não há qualquer fundamento ou
razão para afirmar que medicamentos sejam "diabólicos", ou de
qualquer outra forma "impuros" ou "malévolos". Há contudo,
clara proibição bíblica, quanto a se buscar o auxílio de curandeiros e feiticeiros,
mas, em nenhum ponto encontramos recomendação contra a busca por médicos ou por
medicamentos em caso de doenças. Ao contrário, quando a mulher que sofria com
fluxo de sangue procurou por Jesus, é-nos informado que ela já havia procurado
por médicos, pratica esta que não foi recriminada por Jesus, apesar de no caso
desta mulher não ter sido de eficácia. (Marcos
5:25-34)
Beda (± 720 d.C.)
Segundo o disposto através da teologia de Beda, podemos ver o
andamento da deturpação do significado da unção de enfermos, conforme segue:
- Naquela época se pensava que a virtude da Unção estava no óleo consagrado pelo bispo, o óleo bento;
- A Unção de Enfermos pertencia à categoria dos sacramentos permanentes, assim como a ceia do Senhor e o batismo;
- A igreja de Roma cria que assim como na ceia do Senhor é o próprio ministro, o sacerdote, quem consagra o pão, e como também é o sacerdote quem batiza, é este mesmo quem também consagra o óleo para a unção de enfermos, e estes elementos depois de consagrados pelo ministro são repassados aos presbíteros para ministrá-los. Assim, toda a força da bênção do óleo está no pastor, isto é, no sacerdote;
- Assim como o pão consagrado para a ceia do Senhor já tem em si a força do sacramento, também o óleo bento consagrado pelo bispo tem a mesma força e o mesmo poder.
Bonifácio (± 900 d.C.)
A partir da reforma carolíngia, a administração do óleo
consagrado, ou bento, ficou reservada exclusivamente aos sacerdotes (bispos e
presbíteros). Segundo os Statuta Bonifacii, do começo do século IX, os
sacerdotes devem, em suas viagens, levar sempre consigo a eucaristia e o
"santo óleo"; e lhes é proibido sob pena de deposição confiar aos
leigos o "santo óleo".
Neste ponto muda a igreja de Roma sua concepção do sacramento:
- De unção de enfermos passou a ser unção de moribundos (extrema-unção);
- Da consagração do óleo passou a ser a administração da unção;
- De sacramento com efeitos corporais passou a ser sacramento com efeitos espirituais;
- De sacramento autônomo passou a estar unido à penitência;
- A teologia escolástica do século XIII já herdara uma situação de fato: o ministro da unção é o sacerdote, o mesmo da penitência.
Deste panorama, tem-se o que hoje é entendido por unção dos
enfermos. Uma ação de transferência de poder do sacerdote para o óleo e deste
para o enfermo, "trazendo a cura".
Nada mais que uma ação de misticismo e feitiçaria, completamente
destacada do contexto e do entendimento bíblicos, ação esta criada por séries
de heresias e deturpações históricas, tanto no que se refere ao papel da
igreja, quando no que se refere ao papel do ministro da igreja, o seu pastor.
Os reformadores protestantes
No decorrer da Idade Média, a igreja católica separou esse rito
da unção de enfermos e o elevou à categoria de sacramento da extrema-unção,
mediante o qual, segundo ensinavam seus teólogos, deveria ser ministrado aos
fiéis da igreja que estavam moribundos, ou seja, à espera da morte.
Houve consenso entre os reformadores protestantes que assim
apresentada, a unção com óleo, era uma falsa interpretação de Tiago 5:14 e de
Marcos 6:13.
Segundo Lutero, em sua exposição do texto de Tiago 5:14, o uso da unção com óleo, já cessou:
"Por isso sou de opinião que essa unção é a mesma da qual se
escreve, em Mc 6:13, a respeito dos apóstolos:
'E ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam.' Trata-se, pois, de um certo
rito da Igreja primitiva, pelo qual faziam milagres entre os enfermos. Já
desapareceu há muito."
Calvino de igual modo não aceita a contemporaneidade da prática
da unção de enfermos, assegurando que esta prática já cessou na igreja, como
também, todas as virtudes e os demais milagres que foram operados pelas mãos
dos apóstolos, a razão é que este dom (unção de enfermos) era temporal.
Calvino e Lutero são unânimes em afirmar que o azeite era um
ungüento utilizado na Igreja Primitiva com fins medicamentosos que associados à
oração dos presbíteros, teria muito efeito.
Porque os reformadores não faziam unção de enfermos?
- Por que o princípio gerador da cura em Tg 5:14 é a fé do doente e as orações dos líderes da igreja;
- Por que longe de sustentar a extrema-unção ou o crisma (confirmação), a passagem de Tiago 5:14 trata de presbíteros (e não de sacerdotes) orando pela cura do enfermo; O azeite é então um óleo medicinal, e não um preparado mágico para a morte.
- Por que a unção Veterotestamentária apontava para o Messias, o Ungido de Deus, cumprindo em Cristo a unção final de sacerdote, profeta e rei;
- Por que no processo evolutivo da revelação de Deus, o óleo da unção aponta para o ministério do Espírito Santo, Aquele que unge, isto é, separa, capacita, credencia o cristão a fazer a obra de Deus. Os que são ungidos com o Espírito Santo não necessitam de nenhum outro tipo de unção;
Analisando o pensamento de Calvino sobre a unção dos enfermos,
especialmente em sua exposição do verso em Tiago
5:14, podemos entender o seguinte:
- Para Calvino esta prática já cessou na Igreja;
- A unção aponta para a obra e os dons do Espírito Santo; e se nós vivemos hoje no desenvolvimento ministerial do Espírito Santo, com certeza, não há qualquer sentido na prática da unção de Enfermos ou qualquer outro tipo de unção;
- A unção não tem o efeito das virtudes espirituais apostólicas;
- A unção não é canal de bênçãos para o crente; canal de bênção é a doutrina Bíblica, as orações (intercessão dos Santos) e a comunhão;
- A unção não é privativa do pastor da igreja;
- A unção não tem qualquer efeito de sacramento;
- A unção não perdoa pecados;
- A unção não é sinal de cura;
- A unção não tem poderes mágico-religiosos;
Considerações atuais sobre a unção com óleo
Como conseqüência da situação pela qual vem passando o povo
brasileiro, devido às conjunturas políticas, sociais e econômicas, muitos têm
encontrado grande dificuldade de acesso à medicina pública, ou nela não têm
confiança, recorrendo a uma medicina popular, principalmente através de
curandeiros, benzedeiras, e/ou concepções mágico-religiosas. Alguns líderes carismáticos
são muitas vezes solicitados a realizar curas divinas através de rituais, e
afirmam estar em contato com o Espírito Santo, com anjos, demônios e com o
espírito da própria enfermidade. E através de seus "poderes", tentam
realizar a "cura", e quando esta não vem, alistam variadas razões,
entre elas, e principalmente, o fato de o enfermo, ou seus familiares, terem
falta de fé.
Assim, todo o procedimento de unção assumiu um papel fundamental
dentro do simbolismo religioso que se formou nestes dias, sendo este
procedimento utilizado para combater doenças tanto do corpo quanto da alma. E
só obtêm a "graça" aqueles que são ungidos com óleo consagrado; para
estes haverá saúde, emprego, riqueza, e a cura de diversas moléstias e males
demoníacos.
Logo tudo passa a ser ungido, a rosa, o barbante, o sal, as
fotos, as roupas, a água, o manto, a madeira, e finalmente a própria pessoa é
ungida, e caso esteja possuída por demônios estes se manifestam e podem então
ser expulsos, através do óleo do exorcismo e da "oração forte".
Saindo da confusão
Como pudemos perceber perfeitamente através da exposição da
história deste procedimento vale aqui de modo especial o que nos é dito pelo
texto do salmo 42: "Um abismo chama outro abismo...".
E é desta confusão teológica que precisamos sair. E a única forma
de fazê-lo é através de uma análise exegética da palavra de Deus, à luz de todo
o ensino apresentado pela própria palavra de Deus, conforme já vimos
anteriormente neste estudo. Vamos seguir então analisando o verso que é usado
por base de toda esta "teologia".
Mas, tenhamos em mente tudo o que já estudamos, e em especial a
conclusão a que chegamos através da análise sincera e dedicada da palavra de
Deus:
"Resta então apenas um tipo de unção a ser analisado em
termos de uso nos dias atuais: a unção de enfermos com fins medicamentosos.
Não restou nenhum tipo de unção, com finalidades espirituais, a ser utilizada
pelos crentes em Jesus Cristo após o estabelecimento da Nova Aliança."
Exposição de Tiago 5:14
Analisemos o texto em si, dentro do seu contexto:
"Está alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém
contente? Cante louvores. (14) Está alguém entre vós doente? Chame os
presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do
Senhor; (15) E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará;
e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. (16) Confessai as
vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A
oração feita por um justo pode muito em seus efeitos." (Tiago 5:13-16
ACF - destaque acrescentado)
É fundamental entendermos que o texto nos fala de oração. Tiago
está tratando, por praticamente toda a sua carta, deste tema. Não podemos
entender que ele tenha criado um novo ritual místico-mágico, ou que tenha sido
criada uma nova teologia, o que invalidaria esta carta como texto bíblico.
Como exemplo, analisemos o que houve recentemente em uma pequena
cidade americana próxima de Los Angeles: - Lá ocorreu uma enorme tragédia,
quando um pai, jogou fora a insulina que seu pequeno filho diabético
necessitava tomar, após pedir ao pastor que realizasse em seu filho a
"unção com óleo" e a "oração forte de poder". Como
resultado desta ação irresponsável, seu filhinho morreu.
Devemos entender que nem todos os crentes que ficam doentes, recebem
cura! Muitas vezes Deus os quer assim, doentes mesmo, de modo que testemunhem
de Sua graça mesmo em meio ao sofrimento, ou então para que seja aprendida
alguma lição que Deus queira ensinar. O fato é que se todos os crentes
recebessem cura, nenhum morreria, pois, a cada doença se seguiria a cura
divina! E a história testemunha que não é assim.
Bom, com isto em mente sigamos analisando o texto. A palavra
"ungir" em português significa:
- untar(-se) ou friccionar(-se) com óleo, ungüento ou qualquer substância gorda; fomentar
- untar ou friccionar com perfumes ou substâncias aromáticas
- investir de autoridade por meio de unção ou sagração; sagrar
Em grego os dois primeiros sentidos apresentados da palavra
"ungir" são entendidos da palavra "aleifw" (aleipho). Já o terceiro
sentido, é entendido pela palavra "xriw" (chrio) da qual se deriva a
palavra "xristov"
(christos), cristo, de onde temos a designação de Jesus como "O Ungido de
Deus", "O Cristo".
Neste sentido, a primeira (aleipho) é uma palavra que denota uma ação
corriqueira e desprovida de qualquer conotação religiosa ou espiritual.
Enquanto a segunda (chrio) indica uma ação espiritual, uma consagração divina.
E neste verso encontramos a palavra [aleipho] e não a palavra [chrio]!
Considerando, portanto, o significado da palavra e do texto em
seu contexto, entendemos que somente o que pode operar qualquer cura é o poder
do Senhor, muitas vezes em resposta à oração de um justo. O uso do azeite neste
texto se refere então à sua aplicação com vistas a uma ação medicamentosa.
Dando-nos instrução que não devemos, como fez aquele infeliz pai americano,
deixar de aplicar o medicamento pelo fato de estarmos em oração pela cura, mas,
inversamente, devemos aplicar o medicamento e orar confiantemente ao Senhor,
clamando pela cura, tanto física, quanto espiritual, em caso de haver pecado
envolvido. E o Senhor dentro dos Seus propósitos, irá agir. O poder é do
Senhor, e não de uma mandinga qualquer ou de qualquer objeto que supostamente
tenha quaisquer poderes curativos.
Conclusão
Diante de tudo o que foi exposto, podemos então afirmar:
- A unção de enfermos não é um sacramento, já que não há nenhum sacramento, pois para tal exigir-se-ia um sacerdote para intermediar sua aplicação. E na Nova Aliança, cada crente em Jesus Cristo tem acesso direto ao Pai através Dele, sendo portanto, seu próprio sacerdote, dispensando qualquer tipo de intermediação humana. Além deste fato, não há como se complementar a obra do Senhor Jesus Cristo, ou tomar-se qualquer ação que resulte em graça. A obra de Cristo é completa e perfeita, e a obtenção de graça se dá através do poder do Senhor mediante oração e fé.
- Os pais da Igreja não praticaram a unção com fins espirituais na Igreja, entendendo que esta ação não deveria ocorrer no cerne da Nova Aliança.
- A instituição da unção dos enfermos durante a Idade Média, (que veio posteriormente a se tornar a extrema-unção católica, e que após o concílio Vaticano II voltou a ser, para os católicos romanos, a unção de enfermos) foi obra de "cristãos" que não tinham uma teologia séria, embasada na Palavra de Deus, mas, ao contrário, desejavam apenas mais um meio de controle sobre as massas.
- Conforme pudemos ver da exposição de Tiago 5:14, o óleo não tem em si nenhum poder curativo sobrenatural, além de seu próprio poder como medicamento. O verdadeiro poder está no Senhor, e pode vir a ser derramado sobre o enfermo, em atendimento às orações de verdadeiros crentes no Senhor Jesus Cristo, aqueles que foram justificados pelo Seu sangue.
- O azeite em Tiago 5:14, não é expressão do Espírito Santo, nem de Sua ação, pois, este fato viria de encontro a todas as doutrinas apostólicas. A unção que se relaciona com o Espírito Santo é obtida na conversão, quando o crente é Nele batizado e selado para o dia da redenção.
- Qualquer pensamento quanto a um valor semimágico da unção com óleo, fere os princípios do Novo Testamento, especialmente no que diz respeito ao objeto da fé, que não pode em nenhuma hipótese ser algo material sob pena de idolatria e paganismo:
"E, chegando-se Jesus,
falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra." (Mateus
28:18)
Em nada devemos por a nossa fé, a não
ser naquele que verdadeiramente nos pode salvar!
- No processo evolutivo da revelação de Deus, o óleo da unção apontava para o vindouro ministério do Espírito Santo, que é Aquele que unge, ou seja, Aquele que separa, capacita, credencia o Cristão a fazer a obra de Deus. Os que são ungidos com o Espírito Santo não necessitam de nenhum outro tipo de unção espiritual, em nenhum outro momento de suas vidas!
E que Deus nos abençoe e nos permita permanecer sendo fiéis à Sua
palavra e à Sua vontade em cada momento de nossas vidas, deixando e abandonando
tudo quanto não provém de Deus! Amém!
Bibliografia consultada
A BÍBLIA SAGRADA, Versão Revista e Corrigida Fiel ao Texto
Original, Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, São Paulo, 1995.
ARLES, Cesário de - Sermones Sancti Caesarii Arelatensis -
Pars Prima, studio D. Germani Morin O.S.B., ed. altera, Turnholti, Brepols,
1953.
CNBB, Observações sobre o Ministro da Unção dos Enfermos.
35ª Assembléia Geral da CNBB.
COELHO FILHO, Isaltino Gomes - Tiago Nosso Contemporâneo: Um
Estudo Contextualizado da Epístola de Tiago, 2ª edição, Rio de Janeiro,
JUERP, 1990.
ECCLESIA, Patrística e Fontes Cristãs Primitivas: Tradição
Apostólica de Hipólito de Roma.
FALCÃO Sobrinho, João - A Túnica Inconsútil: Um estudo sobre a
doutrina da igreja, 2a edição revisada, Rio de Janeiro, JUERP, 2002.
HOUAISS, Antonio - Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa,
versão eletrônica.
LAUAND, Jean - Um Sermão de S. Cesário de Arles.
RÉDUA, Ashbell Simonton - Unção com óleo
Nenhum comentário:
Postar um comentário