sábado, 29 de agosto de 2015

O CAMINHO DE CAIM


LIÇÃO 7 - O CAMINHO DE CAIM

Judas apresenta a quinta ilustração em seu comentário sobre o perigo da rebeldia, novamente uma ilustração negativa, a saber, Caim e sua opção de uma vida alheia a Deus, cujo fim foi a destruição completa por ocasião do dilúvio.
INTRODUÇÃO 
- Caim era o filho primogênito de Adão e Eva, portanto deveria ser uma pessoa que tivesse um relacionamento especial com Deus, vez que toda a humanidade estaria sob sua influência e domínio. Contudo, a Bíblia nos mostra que Caim preferiu afastar-se de Deus e toda a civilização nascida deste homem acabou por perecer. Judas nos dá este exemplo para que evitemos nos apartar do Deus vivo, pois este caminho conduz, inevitavelmente, à destruição.
- É interessante verificar que, ao considerar os gnósticos (que, como sabemos, é o alvo imediato da epístola de Judas) como alguém que estava seguindo os passos de Caim, Judas causou até perplexidade entre os seus leitores, pois os próprios gnósticos eram os primeiros a citar Caim como um exemplo para não ser seguido, vez que era tomado, comumente, pelos mestres do gnosticismo, como um exemplo dos homens ditos "hílicos", ou seja, os homens mais inferiores, que, segundo aquele ensinamento, eram seres humanos "tão envolvidos na matéria (que) nunca poderiam deslindar-se da mesma, tendo de perecer, finalmente, juntamente com ela, quando a grande conflagração que era esperada consumisse toda a matéria, o próprio princípio do mal " ( R. N. Champlin, NTI, v.6, p.337). Os rosacruzes, também, identificam um grupo de seres humanos como : filhos de Caim", precisamente aqueles que "precisariam de luz", invocando ensinamentos maçônicos para defender tal ponto-de-vista (eis os falsos mestres gnósticos dos nossos dias...)
OBS: "...Os mestres gnósticos usavam o nome de Caim para ilustrarem os 'hílicos', isto é, aqueles que estão imersos na matéria (a qual matéria seria o princípio mesmo do mal), os quais formariam a maioria dos homens, e que, devido à sua total identificação com o que é terreno, jamais poderiam esperar ser remidos. O trecho de I Tm.2:1-6 foi escrito, pelo menos em parte, a fim de refutar essa crença. Todos os homens podem ser remidos, e Cristo é o nosso redentor..." 9R.N. Champlin, NTI, v.6, p.337).

I - O QUE É O CAMINHO DE CAIM
- A Bíblia revela que Caim foi o primeiro filho de Adão e Eva e seu nome significa "aquisição", havendo, porém, quem entenda que seu nome signifique, também, "ferreiro" ou "lança".
- Caim foi recebido em seu lar como uma bênção de Deus e assim poderia ter sido se tivesse buscado servir a Deus. Todavia, a Bíblia relata que seu modo de vida não era agradável a Deus e, por isso, Deus não aceitou a oferta apresentada por Caim.
OBS: "...Caim simboliza a traição, a concupiscência, a avareza e a auto-indulgência, conforme se vê pelo que diz dele a literatura judaica, como em Sabedoria de Salomão 10:3; Jubileus 4:1-5; Apocalipse de Moisés 3:2; Testamento dos Doze Patriarcas, Benjamim,7:3-5; Filo em 'Sobre os Querubins', XX, Sacrifício de Abel e Caim, X,xiv; e Posteridade e Exílio de Caim, xv..." ( R.N. Champlin, NTI, v.6, p.338)
- A rejeição da oferta de Caim não decorre do fato de ter sido feita de vegetais ou de ter sido uma oferta incruenta, mas a Bíblia é clara ao afirmar que Caim era do maligno(I Jo.3:12), ou seja, não tinha um coração temente e submisso a Deus e, por isso, não teve aceita a sua oferta. Menos do que a oferta, a Bíblia nos mostra que Deus observa o coração do ofertante -Is.1:2-20; Mt.5:21-26.
OBS: "..O Targum palestino (interpretação aramaica, usada na sinagoga) ...a propósito de Gn. 4:8: ' Caim diz a seu irmão: 'Vem, vamos ao campo'. E aconteceu que quando estavam no campo, Caim tomou a palavra e disse a Abel: 'Eu entendo que o mundo não foi criado por amor, que ele não é governado em conformidade com o fruto das boas obras e que no julgamento há consideração de pessoas. Por que a tua oferta foi aceita favoravelmente ?' Abel tomou a palavra e disse a Caim: ' Quanto a mim, entendo que o mundo foi criado por amor e que é governado segundo o fruto das boas obras. É porque as minhas obras eram melhores do que as tuas que a minha oferta foi aceita favoravelmente, enquanto que a tua oferta não foi aceita favoravelmente.' Caim tomou a palavra e disse a Abel: 'Não existe julgamento, nem juiz, nem outro mundo. Não há recompensa para os justos nem castigo para os maus.' Abel tomou a palavra e disse a Caim: 'Há julgamento, juiz e outro mundo. Existe a recompensa para os justos e o castigo para os maus, no mundo que virá.' Eles continuaram discutindo no campo e de repente Caim se atirou contra seu irmão Abel e o matou.'...I Jo.3,11-12 alude a uma frase do texto do Targum..." (Pierre GRELOT. Homem, quem és ?, p.55)
O ensinamento de que Deus rejeitou a oferta de Caim por causa da oferta em si, dado inclusive por categorizados estudiosos da Bíblia, apresenta, ainda, um aspecto que, quando desenvolvido, avança para terrenos perigosos e que acabam gerando algumas conclusões totalmente divorciadas do que nos ensina a Palavra de Deus. Assim, entre os adventistas do sétimo dia, popularizou-se a idéia de que Caim teve sua oferta rejeitada porque Deus teria determinado que se sacrificasse um cordeiro e ele não aceitou esta suposta ordem divina, ofertando o que bem quisesse e que isto é um tipo daqueles que não guardam o sábado, os que teriam "a marca da apostasia". Já entre os mórmons, é dito que Caim teve rejeitada sua oferta porque não fizera a oferta nos moldes estabelecidos por Deus, ou seja, não realizara o sacrifício segundo eventuais ditames exigidos por Deus, abrindo a porta para depois dizer que somente poderão alcançar a salvação aqueles que seguirem os ritos corretos, ou seja, aqueles que teriam sido "revelados" a Joseph Smith. Como se vê, na medida em que se coloca a ênfase na oferta e não no ofertante, há um raciocínio que dispensa o compromisso com Deus e a santidade, o que está completamente alheio ao que nos ensina a Bíblia Sagrada.
- Da Bíblia inferimos que Caim possuía um caráter insubmisso à vontade de Deus, motivo pelo qual Deus não Se agradou da Sua oferta. Senão vejamos:
a) Caim era indiferente a Deus- A Bíblia nos relata que, enquanto Abel trouxe o que tinha de melhor para ofertar ao Senhor, ou seja, os "primogênitos de suas ovelhas e suagordura"(Gn.4:4), diz que Caim trouxe "uma oferta ao Senhor"(Gn.4:3). Isto demonstra que Caim não dava valor ao relacionamento com Deus, tratava-o como algo comum e sem importância. Deus requer um comportamento contrário a este -Dt.6:4-6; Mt.22:36-38,40.
b) Caim era egoísta - A Bíblia relata que Caim, ao ver que Sua oferta não foi aceita, teve seu semblante descaído e passou a ter ódio de seu irmão, ódio que não diminuiu nem mesmo quando Deus lhe prometeu aceitar sua oferta se não deixasse ser dominado pelo pecado. A inveja que teve de seu irmão é conseqüência de um pensamento em torno de si mesmo. Em momento algum, vemos Caim se preocupando com o próximo, mas unicamente consigo(Gn.4:13,14). Muito pelo contrário, indagado sobre Abel, diz ao próprio Deus: "sou eu guardador do meu irmão ?". Deus requer um comportamento totalmente distinto -Lv.19:18; Mt.22:39,40;Rm.12:9,10.
OBS: "...Então, por que Caim matou Abel ? Por que alguém mataria um inocente ? É psíquico ? É demoníaco ? Desde o princípio do mundo até o seu final o egoísmo sempre levantou e estará levantando muralhas de separação entre os irmãos. O egoísmo se esconde atrás da porta, fica de espreita como uma fera, mas o homem pode dominá-lo, porém se não resisti-lo firmemente, será dominado por ele ( Gênesis 4.7). Mas finalmente, quem tem conseguido dominar o egoísmo ? Só a virtude poderosa do amoré capaz de transformá-lo em caridade para com o próximo...."(Osmar José da SILVA, Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.2, p.142)
c) Caim era incrédulo - a Bíblia relata que Deus, ao perceber que o semblante de Caim havia caído, prometeu-lhe aceitação caso houvesse mudança de comportamento(Gn.4:7). Mas Caim preferiu matar Abel a crer nas palavras divinas. Sem fé não se pode agradar a Deus -Hb.3:18,19; 11:6.
d) Caim se achava auto-suficiente - Caim era mau (IJo.3:12) e assim prosseguiu, mesmo tendo sido alertado por Deus. Mesmo depois de ter sido sentenciado pelo Senhor, mesmo recebendo Sua proteção pelo "sinal", afastou-se de Deus(Gn.4:16), passando a viver uma vida alheia a Deus, como demonstra a sua descendência. Esta auto-suficiência do homem, esta recusa em viver na dependência de Deus é o caminho para a destruição. É a demonstração da soberba, prenúncio do fracasso e da destruição -Gn.3:6; Is.14:14; I Jo.2:16,17.
e) Caim era enganador - A Bíblia relata que Caim chamou a seu irmão Abel para que fossem ao campo, onde o matou, ou seja, Caim agiu de engano e foi traiçoeiro para com seu irmão. A mentira é algo próprio do maligno e quem a ama ou a comete, não tem parte alguma com Deus, que é a Verdade(Jo.1:6) - Jo.8:44;Ap.21:8,27.
- Apesar de não ter aceito a oferta de Caim, Deus não o rejeitou, abrindo-se uma oportunidade, na medida em que lhe alertou a respeito do pecado, dizendo que o mesmo estava à espreita, pronto a querer dominar Caim, mas que havia chance para que Caim não se deixasse dominar por ele -Gn.4:6,7.
OBS: "...Deus lhe disse que o pecado estava às portas. Caim podia ter evitado e fechado a porta de sua vida para o pecado, mas não o fez, e portanto, o pecado o venceu e ele morreu espiritualmente, afastando-se de Deus, e como vagabundo e fugitivo nunca mais buscou possuir comunhão com o Senhor...."(Osmar José da SILVA, Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.2, p.147).
- Caim, por não amar a Deus, não poderia amar o seu irmão e, por não amar o seu irmão, acabou por se irar e a projetar e executar o homicídio, o primeiro homicídio desta geração humana. Jesus alertou que, para Deus, o homicídio já se dá bem antes, com o desamor (cf.Mt.5:21,22).
OBS: "... O Targum judaico, em Gn.4:7, apresenta Caim como o primeiro cético e sofista. Não tinha ele respeito pelo mundo eterno, nem sabia exercer controle sobre si mesmo. Era um assassino, pelo que perdeu respeito pela humanidade por igual modo. Devido à raiva e ao orgulho 'caiu da sabedoria', conforme diz Sabedoria de Salomão x.3, passagem que talvez estivesse na mente do autor sagrado, ao escrever o sétimo versículo desta epístola (epístola de Judas, observação nossa). Os antigos intérpretes afirmam que Caim, por ter sido assassino do seu próprio irmão, tipificava os falsos mestres, que assassinavam as almas dos homens..." (R.N. Champlin, NTI, v.6, p.338)

II - A MARCA DE CAIM
- Caim chamou seu irmão no campo e ali0 matou,`sem testemunhas< enterrando$seu irmão. Seria o`crimå perfeito ã!so não houvesse havido o testemunho de Deus. Deus é o supremo e reto jqiz e crime algum fica impune aos Seus ol(os. Não há comn fugir dEste juízo -Sl.139:1-16.
OBS: O texto0de Gn.4:8 comeÏa, na NVI, da seguinte maneira: "Disse, porém, Caim a seu irmãoAbel: 'Vamoc para o campo'. " Esta parôe do ver3ículo não se encontra no texto massorético, de"onde se griginou o chamado "text/ recebido", sobre o qual se baseou(a versão de João Ferreira de AlmeidA. Entretanto, assim se Encontra n texto do Pentateuco Sama2itanol da Seputaginta, da Vulgata e de Versão Siríaca bee com/ assim se encontra a interqretação no Targum palestino, razão pelaqual foi adotada esta variação pela NVI.
- O julgamento de Caim, o ódgundo julgamento divino relataDo pela Bíblia, mostra-nos como é o caráder de Deus e do(homem. Senão vejamos:
a) Deus, apesar de tudo saber e conhecer, não negou o direito de defesa ao homem, indagando a Caim onde estava Abel(Gn.4:9). Lamentavelmente, em muitas igrejas, não se permite ao acusado qualquer defesa...
b) Caim, a exemplo de seus pais, procura esquivar-se de suas responsabilidades, não assumindo sua culpa. O pecado faz obnubilar a responsabilidade e a autocrítica do ser humano, que está com seu entendimento cegado pelo mal (cf. II Co.4:3,4). Caim, como primogênito, tinha o dever de guardar a todos os seus irmãos, assim como todo ser humano, notadamente os servos de Deus, devem proteger e buscar o bem do seu próximo, ainda que seja seu inimigo -Rm.12:9-21; Lc.10:25-37.
OBS: "...O tema do amor fraterno ocorre muito cedo na Escritura; desde o início, fica claro que Deus coloca uma alta prioridade na maneira como irmãos se relacionam. Nesta passagem, a questão da responsabilidade de um pelo outro surge pela primeira vez. Caim pergunta: 'Sou eu guardador do meu irmão ?' O termo usado para 'guardador'(hebr. shamar) significar 'guardar, proteger, prestar atenção, ou considerar'. Somos nós responsáveis pelos outros ? 'Sem sombra de dúvida', é a resposta de Deus. Nós não somente somos guardadores do nosso irmão, como também somos responsáveis pelo nosso tratamento e pela nossa maneira de relacionar-se com os nossos irmãos (de sangue e espirituais)..."( Bíblia de Estudo Plenitude, p.10).
"...O relacionamento entre os irmãos Caim e Abel é o oposto daquilo que Javé espera do relacionamento entre os homens: a fraternidade, em que cada um é protetor do seu próximo. A auto-suficiência introduz a rivalidade e a competição nesse relacionamento: a fraternidade é destruída e, em vez de proteger, o homem fere e mata o seu próximo. A primeira vez que a palavra pecado aparece na Bíblia é num contexto social (v.7)." (Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, com. a Gn. 4:1-16, p.17).
c) Deus, apesar de aplicar uma pena a Caim, qual seja, a de não poderia mais lavrar a terra e que fugitivo e vagabundo seria na terra(Gn.4:12), ao contrário da conclusão precipitada de Caim(Gn.4:13,14), deixa-lhe aberta a possibilidade, ainda, de salvação, mantendo-o protegido pelo "sinal de Caim"(Gn.4:15), revelando Sua misericórdia. - I Tm.2:3,4; Sl.62:12;69:16; 89:14;Lm.3:22.
OBS: "...Em virtude do pecado de Caim contra o seu irmão, Deus o amaldiçoa em toda a terra, retira a sua habilidade para o cultivo da terra e o sentencia a uma vida como fugitivo e errante (v.12). Isto indica claramente que a falta de amor fraterno destina a pessoa à esterilidade e ausência de propósito na vida..."(Bíblia de Estudo Plenitude, p.10)
- O que seja o "sinal" ou a "marca" de Caim, há muita controvérsia entre os estudiosos da Bíblia, que não o descreve. Se o que tenha sido, foi algo que permitiu que Caim não fosse morto em virtude do assassinato que cometeu, uma oportunidade que Deus lhe deu para que se arrependesse de seus pecados. É uma demonstração da própria misericórdia divina em relação ao homem.
OBS: "...O sinal de Caim não é identificável, mesmo porque os seus descendentes pereceram no dilúvio. O sinal não era um estigma; antes, tratava-se duma proteção para Caim e mostrava o incrível amor de Deus até mesmo pelos pecadores impenitentes..." ( Bíblia de Estudo Plenitude, com.Gn.4:11-15, p.10)
"...Talvez este sinal deva ser entendido como posto em Caim para assegurá-lo da promessa de Deus. Caim não sofreu pena de morte nesse tempo. Posteriormente, quando a iniqüidade e a violência da raça humana tornou-se extrema na terra, a pena de morte foi instituída.(Gn.9:5,6)." (Bíblia de Estudo Pentecostal, com. aGn.4:15, p.39)
" ...Caim temeu e invocou ao Senhor algum tipo de proteção; do contrário, logo ele também seria um morto. O Senhor colocou nele um sinal, como que avisando: 'Não mate este homem, pois quem o matar vai sofrer sete vezes mais do que ele.'...Acreditam alguns que o sinal que Deus colocou em Caim seja o que resultou na raça negra, mas isso é mera especulação. Não há como determinar ao certo que sinal seria esse, por ausência de mais informes bíblicos...."(Osmar José da SILVA, Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.2, p.144).
"...Este sinal quase levou o homicida à própria morte por desnutrição, pois Deus fez cair sobre ele uma força destrutiva, uma energia negativa com um poder devastador, capaz de queimar qualquer vegetal. O sinal seria por lembrança eterna; enquanto vivesse estaria sujeito a maldição, e assim foi...A viagem de Caim durou muitos meses, e por onde quer que passasse o poder do seu sinal ia deixando sua marca e destruindo tudo...Essa adversidade foi com o passar dos tempos alterando radicalmente seus três grupos celulares...Caim ficou negro sim, porém não se trata de maldição...suas células estavam totalmente alteradas pelo rude processo ao que estava exposto. Essa exposição fez com que estes três grupos celulares fossem totalmente alterados...O efeito foi o aparecimento do primeiro homem negro..." (Ailton Muniz de CARVALHO, Deus e a história bíblica dos seis períodos da criação, 4. ed., p.186-9).

III - A CIVILIZAÇÃO DE CAIM
- Caim, apesar do sinal que Deus lhe deu, construiu toda uma civilização alheia a Deus, um protótipo do sistema de vida que a humanidade construiria durante a sua história, sistema de vida que a Bíblia denomina de "mundo" e até de "Babilônia".
OBS: "..Foi nessa presença (presença de Deus, observação nossa) que o pecado foi cometido. Desprezou o convite ao arrependimento e perdão. Depois disso, Caim se empenha em criar uma civilização (17-24), independente de Deus, auto-suficiente, aquilo que no N.T. é chamado 'o mundo'."( Bíblia Vida Nova, com. aGn.4:16, p.10).
- A civilização caimita se inicia com a saída da presença de Deus (Gn.4:16). O mundo se caracteriza por nele não estar Deus, pela ausência do Senhor no seu seio. -Jo.17:14-16; IJo.2:15-17; 5:18,19.
OBS: "...Caim e seus descendentes foram os cabeças da civilização humana até hoje desviada de Deus. A motivação básica de todas as sociedades humanistas está em superar a maldição, buscar o prazer e reconquistar o 'paraíso' sem submissão a Deus. Noutras palavras, o sistema mundial fundamenta-se no princípio da auto-redenção da raça humana, na sua rebelião contra Deus..." (Bíblia de Estudo Pentecostal, com. a Gn. 4:16, p.39).
- A civilização caimita foi próspera, do ponto-de-vista material, tendo alcançado o desenvolvimento econômico (Caim construiu uma cidade, a que pôs o nome de Enoque, nome de seu filho, ou seja, superando o nomadismo a que fora condenado enquanto indivíduo, bem como um pecuarista, como Jabal-Gn.4:20), cultural (não tardou a surgir a música, com Jubal -Gn.4:21) e tecnológico (Tubalcaim desenvolveu a metalurgia).
OBS: "...O texto apresenta o desenvolvimento da civilização, com suas bases culturas e tecnológicas. Surge o homem político (da pólis=cidade, v.17), o homem artista (v.21) e o homem artesão (v.22). A civilização, porém, nasce de Caim: auto-suficiência e violência se multiplicam cada vez mais, gerando uma sociedade fundada na hostilidade e na competição. Tudo perdido ? Não. Surge também o homem religioso (v.26), que busca reunir novamente aquilo que o homem auto-suficiente divide e separa. EmMt.18:21,22, o Novo Testamento apresenta a antítese da violência." (Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, com.Gn.4:17-26, p.18)
- Se, do ponto de vista material, os caimitas eram prósperos, moral e espiritualmente, eram um rotundo fracasso. A Bíblia relata que, nesta civilização, iniciou-se a poligamia (Lameque, o primeiro polígamo,Gn.4:19), abandonando-se o modelo divino de família; houve aumento da violência, com novo homicídio, que gerou a vingança humana como modelo de justiça como demonstra o "cântico da espada" de Lameque(Gn.4:23,24); o desvalor do ser humano se patenteia, pois uma vida ceifada apenas por causa de um pisão(Gn.4:23); inicia-se a prostituição, pois a irmã de Tubalcaim, Naamá, é tida como a primeira prostituta da história (seu nome quer dizer "agradável", "desejável").
OBS: Um aspecto interessante da civilização caimita é que é a civilização da violência, algo que tem sido assunto do cotidiano em nosso país. A propósito, reproduzimos aqui um estudo sobre violência que toma como fonte de inspiração precisamente o episódio bíblico de Caim e de Abel: "...Na Bíblia, a violência aparece não como realidade que determina o agir humano, porque a grande realidade fundante e criadora é Deus, que cria as pessoas à "sua imagem". A violência aparece como conseqüência do pecado humano... É a criação do homem e da mulher "à imagem e semelhança" de Deus(Gn 1, 26-27) que possibilita que, em cada homem e em cada mulher, aconteça o desejo do Reino de Deus, que é um desejo de paz... Toda a história da salvação pode ser vista ou lida na perspectiva da busca da paz constantemente perdida e superação da violência instaurada pelo pecado humano. Por isso, as promessas messiânicas são de paz, harmonia e reconciliação universal, que inclui todo o cosmo e toda a criação... A ruptura desse desejo primordial de paz, ou a impossibilidade de realizá-lo vem do pecado humano. O "desejo mimético" (René Girard) mais violento, o desejo de morte e vingança, o desejo de desforra, de estar "quites", de que o outro "pague" ou de que o outro sofra, o desejo de domínio e destruição ou o desejo egoísta e egocêntrico que impede de perceber o desejo de paz das outras pessoas não estão, segundo as Sagradas Escrituras, "no início". No início é o desejo de paz - a violência é desejo pervertido, alienado, enlouquecido. O pecado do homem e da mulher, que recusando serem criaturas, querem igualar-se a Deus, é a primeira violência, geradora de todas as outras(Gn 3).... O livro de Gênesis nos traz o relato paradigmático da violência de irmão contra irmão(Gn 4). Paradigmático porque Caim representa a humanidade fratricida. Abel não é um estranho, é um irmão que se transforma em rival e Caim o assassino. À pergunta de Deus por seu irmão Caim responde: "Não sei. Sou eu o guarda do meu irmão?" No entanto, a "voz do sangue" de Abel clama do solo a Deus, que condena totalmente a ação de Caim ao amaldiçoá-lo e bani-lo do solo que "abriu a boca para recolher da tua mão o sangue do teu irmão". A maldição do solo, acontecida com o pecado de Adão e Eva (em Gn 3,17), recai agora sobre Caim. A condenação total de Deus, no entanto, é seguida por um ato inusitado: ele pôs sobre Caim um sinal de proteção, "para que ninguém, ao encontrá-lo, o ferisse". Com isso. Deus rompe o prosseguimento da espiral da violência, para que violência não seja vingada com violência. Caim se torna então construtor de cidades. Cidades fortificadas, de defesa e proteção contra os outros. A defesa contra o irmão tem sua origem no pecado, na violência primeira de matar o irmão, que por sua vez tem sua origem na primeira violência, a do homem e mulher contra Deus(Gn 3), Como romper este círculo de violência e defesa? Deus pôs sobre Caim um sinal de proteção, "para que ninguém, ao encontrá-lo, o ferisse". Com isso, Deus rompe o prosseguimento da espiral da violência, para que violência não seja vingada com violência. O relato do dilúvio nos conta que a terra ficou "cheia de violência"(Gn 6,11) e que "o dia todo, o coração do homem não fazia outra coisa senão conceber o mal"(Gn 6,5), mostrando assim a continuidade da espiral da violência, trazendo de volta o caos. Ninguém é inocente, isento da violência do pecado. A reconstrução da terra virá então da família de Noé, o pequeno "resto", por meio da qual se renovará a promessa de Deus(Gn 9,9). (Lúcia Pedrosa de PÁDUA. Violência, pecado amizade e paz.http://www.fej.udesc.br/forumviolencia/pesquisa/paz_01.html)


- A civilização caimita não tinha lugar algum para Deus, tanto que nada a respeito de um relacionamento com Deus ou de busca de Deus entre seus integrantes é revelada na Bíblia Sagrada. Teve grande desenvolvimento e acabou por assimilar até a geração piedosa advinda de Sete (onde, sim, se começou a invocar o nome do Senhor -Gn.4:26), na primeira globalização da história humana (cf.Gn.6:1,2), de tal modo que não sobrou senão uma única família na face da Terra, dentre os setistas(Gn.6:6-12), tendo este caminho de Caim terminado com a destruição de toda esta civilização com o dilúvio (cf.Gn.7:23). O salário do pecado é um só: a morte (cf.Rm.6:23).
OBS: É interessante notar que, por incrível que possa parecer, o Alcorão afirma que Caim se arrependeu e que, antes até deste arrependimento, Deus chegara até a ajudá-lo a sepultar o cadáver através de um corvo, como se Deus colaborasse com homicidas (o que talvez se explique porque os versos seguintes à passagem defendem a morte dos "infiéis" por parte dos muçulmanos, seguindo, assim, o caminho de Caim...) . A Bíblia, porém, diz algo bem diferente, o que demonstra que a própria civilização islâmica, conquanto religiosa, insere-se no contexto do "mundo", tanto que faz questão de elencar Caim como um arrependido. Eis a passagem corânica: "E conta-lhes (ó Mensageiro) a história dos dois filhos de Adão, quando apresentaram duas oferendas; foi aceita a de um e recusada a do outro. Disse aqueles cuja oferenda foi recusada: Juro que te matarei. Disse-lhe (o outro): Deus só aceita (a oferenda) dos justos. Ainda que levantasses a mão para assassinar-me, jamais levantaria a minha para matar-te, porque temo a Deus, Senhor do Universo. Quero que arques com a minha e com a tua culpa, para que sejas um dos condenados ao inferno, que é o castigo dos iníquos. E o egoísmo (do outro) induziu-o a assassinar o irmão; assassinou-o e contou-se entre os desventurados. E Deus enviou um corvo, que se pôs a escavar a terra para ensinar-lhe a ocultar o cadáver do irmão. Disse: Ai de mim! Não é verdade que não fui capaz de ocultar o cadáver do meu irmão, se até este corvo é capaz de fazê-lo? Contou-se, depois, entre os arrependidos." (5:27-31)
Outra versão a respeito de Caim é dada pelos mórmons, para quem Caim teria sido a primeira pessoa que teria efetuado um pacto com Satanás, pelo qual teria passado a se denominar "Mestre Mahan", o "mestre do grande segredo", conforme se registra fantasiosamente em um dos livros sagrados desta seita, denominado "Pérola de Grande Valor", onde se nota uma certa influência rosacrucionista e maçônica. Nesta obra, aliás, no chamado "livro de Moisés", é dito que a "semente de Caim era negra e não tinha lugar entre eles (os outros filhos de Adão, observação nossa).(7:22), de onde veio o racismo que caracterizou os mórmons até a década de 1970. Os mórmons afirmam, ainda, em seu dicionário bíblico oficial, que Caim matou seu irmão mais novo, Abel, em virtude de inveja e ganância. Negam que Caim tenha sido o primogênito de Adão e Eva e que "revelação" dada a Jospeh Smith explica que Caim não foi o filho mais velho e que teria casado com uma sobrinha, conforme texto do mencionado "livro de Moisés da Pérola de Grande Valor". Os mórmons, por fim, afirmam que Caim foi colocado fora da presença de Deus, em total contraposição ao que a Bíblia nos afirma, ou seja, de que foi Caim quem, voluntariamente, saiu da presença do Senhor.

ESCLARECIMENTOS COMPLEMENTARES DO TEXTO DO COMENTÁRIO DA LIÇÃO OU DESTE ESBOÇO 
Fiodor Dostoievsky (1821-1881) - Escritor russo, autor de narrativas bem acolhidas, lançou-se na política liberal, mas foi condenado à morte, depois agraciado e deportado na Sibéria. Ao regressar, doente e cheio de dívidas, encontrou em seus sofrimentos o material para uma obra a um tempo realista e mística, caracterizada pela acuidade das análises psicológicas. (Pequeno Dicionário Enciclopédico Koogan Larousse, p.1137)
Targum - Chamam-se targuns as traduções aramaicas dos textos da Bíblia, feita pelos judeus da Palestina, e também da Babilônia, durante séculos, para o serviço na sinagoga... O termo "targum" significa "tradução"...O targum nasceu das necessidades da sinagoga, numa época em que quase não se conhecia mais o hebraico, pelo menos o hebraico bíblico. No primeiro século da era cristã, falava-se, na Palestina, sobretudo o aramaico; em alguns lugares, também o grego..." (André PAUL, O que é o intertestamento, p.33-4). 

Colaboração de Caramuru Afonso Francisco.

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