No
Brasil, como em muitos outros países, a palavra "aborto" provoca fortes
reações e gera discussão acalorada. Legisladores e juízes convocam
testemunhas "peritas" (médicos, psicólogos, teólogos, etc.) para
influenciar a política pública. Casos extremos, tais como a gravidez de
jovens vítimas de estupro, são usados para injetar um alto nível de
simpatia emocional nas discussões.
Mas
esta não é uma mera questão emocional ou legal. Não podemos confiar nas
autoridades do governo para decidir o que é certo e o que é errado em
questões que envolvem a vontade de Deus. Governos humanos estão longe de
serem perfeitos, e freqüentemente permitem coisas que Deus proíbe.
Precisamos seguir o exemplo de Pedro e dos outros apóstolos: "Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens" (Atos 5:29).
Como
deve ver o aborto uma pessoa que respeita a Deus e quer obedecê-lo?
Será o aborto uma opção aceitável para resolver os problemas de gravidez
indesejada? Será que os princípios bíblicos defendem o direito de uma
mulher escolher o aborto?
Deus faz uma distinção
Desde
a Criação, Deus fez uma distinção entre as diferentes formas de vida.
Ele criou as plantas e os animais, e depois criou o homem. Este era
claramente distinto das outras formas de vida pelo menos de duas
maneiras: 1. o homem foi feito à imagem de Deus (Gênesis 1:26-27), e 2. o
homem foi colocado acima de todas as outras formas de vida que Deus
tinha criado na terra (Gênesis 1:28-30). Isso incluiu o direito do homem
matar e comer plantas e animais (Gênesis 1:29-30; 9:2-3). Observe que o
homem mata com permissão. Podemos matar uma bananeira, um frango ou uma
vaca porque Deus nos deu permissão para matá-los.
Deus
não nos deu permissão para matar seres humanos. Enquanto ele usa
governos humanos para punir os malfeitores, especialmente os assassinos
(Romanos 13:1-7; Gênesis 9:6), ele nunca deu para nós o direito de matar
seres humanos inocentes.
Para
defender biblicamente o ato de uma mulher e seu médico de tirar a vida
de uma criança ainda não nascida, a pessoa teria que provar que ela é
uma planta ou um animal, e não uma vida humana. Todas as espécies
criadas se reproduzem segundo sua espécie (Gênesis 1:11-12,21,25,28).
Sementes de maçã produzem macieiras. Cães produzem cães. Humanos
produzem humanos. É impossível colocar um humano não nascido em alguma
das categorias de vida que Deus nos permitiu matar. É nos permitido
matar porcos inocentes, porém não humanos inocentes.
Debates
sobre o aborto freqüentemente agitam esta questão, e as águas estão
turvas pelos argumentos filosóficos e médicos. Alguns sugerem que a vida
começa quando o feto é "viável" ou capaz de sobreviver fora do útero.
Mas uma tal definição é artificial e está constantemente se alterando.
Mesmo depois do nascimento, um recém-nascido é totalmente dependente da
proteção e do cuidado de outros. Outras pessoas sugerem que a vida
começa com a primeira respiração. É verdade que a vida de Adão começou
deste modo (Gênesis 2:7) e que os corpos ressuscitados foram
considerados vivos quando o espírito respirou sobre eles e eles se
levantaram (Ezequiel 37:8-10; Apocalipse 11:11). Mas esses fatos não
provam que uma criança ainda não nascida (Adão nunca foi um feto) não
esteja viva, ou que Deus não reconhece o seu valor.1 Não podemos usar o caso excepcional da criação de Adão para justificar a matança de seus inocentes descendentes!
Aqueles
que buscam indicações bíblicas para o começo da vida deverão considerar
também o princípio em Gênesis 9:4 de que a vida está no sangue. Ao
tempo em que a maioria das mulheres conseguem confirmar que estão
grávidas, o sangue já está circulando no corpo do filho ainda não
nascido. Deus não autoriza a mãe nem a ninguém a derramar o sangue dessa
criança inocente.
É interessante observar o modo como são descritas na Bíblia as crianças em gestação. Dois fatos notáveis se tornam evidentes: 1. A
linguagem usada para descrever a criança não nascida é a mesma usada
para descrever a criança humana já nascida (veja Gênesis 25:21-22; Jó
3:3; Lucas 1:36 ,41,44,57; 2:7,12; Atos 7:29; etc.). Tentativas modernas
de desumanizar as crianças em gestação referindo-se a elas como meras
massas de tecidos ou fetos impessoais não são baseadas em princípios
bíblicos. 2. Deus reconheceu a importância das crianças desde
antes de nascer. Ele freqüentemente falou sobre pessoas que foram
escolhidas, mesmo antes do nascimento, para papéis especiais no serviços
dele (Salmo 139:13-16; Isaías 49:1, 5; Jeremias 1:5; Gálatas 1:15).
Não
há apoio bíblico para a idéia de que a vida de uma criança no útero
possa ser destruída como se fosse nada mais do que um animal ou planta.
A
vasta maioria dos abortos é feita por motivos inegavelmente egoístas. O
grito de guerra dos que são favoráveis ao aborto reflete claramente uma
devoção idólatra ao suposto direito da mulher de "livre escolha". É o
corpo dela, eles insistem, assim ela teria direito de decidir abortar ou
não. Este não é o lema de preocupação amorosa e desprendida pelos
outros (a criança não tem escolha!). É a divisa das pessoas egoístas que
colocam sua liberdade sexual, progresso na carreira, segurança
financeira ou sua própria saúde acima do bem-estar da criança que está
no útero. Uma vez que ela concebeu, seus interesses egoístas devem dar
lugar ao amor materno. Ela deve buscar o que é melhor para seu filho, e
não para si. A mulher que mata seu filho demonstra egoísmo e uma falta
de afeição natural, sinais claros de inimizade com Deus (2 Timóteo
3:2-5). A mulher que ama a Deus também amará seus filhos (Tito 2:4).
Durante
décadas, os defensores do aborto têm usado casos emocionais para abrir
as comportas e permitir o aborto ilimitado. O caso jurídico mais famoso
até hoje2
foi baseado no testemunho de uma mulher que mais tarde admitiu que
tinha mentido sob juramento, dizendo que tinha concebido como resultado
de estupro. O fato foi que ela havia cometido fornicação e então queria
matar o filho que tinha concebido.
Mas,
ocasionalmente, há um caso real de uma vítima de estupro ou incesto que
procura abortar. A pesquisa tem documentado que todos esses casos
extremos (estupro, incesto, risco à vida da mãe, defeitos natos sérios)
respondem por uma pequena porcentagem (provavelmente menos de 2%) de
todos os abortos.3
Estupro e incesto são errados e os criminosos deverão ser punidos. Mas
antes de nos atirarmos a uma conclusão emocional que justifique a
matança de crianças antes do nascimento, considere como tais
justificações são ilógicas e contra a ética. Suponhamos que alguém que
você nem conhece invada sua casa e roube seu aparelho de televisão. Você
teria, então, o direito de invadir a propriedade de seu vizinho e
roubar o carro dele? Claro que não! A pessoa que roubou seu televisor
cometeu crime contra você. Isto não lhe dá o direito de prejudicar seu
vizinho inocente. Estupradores cometem um crime terrível contra mulheres
e meninas inocentes. Isto, contudo, não justifica a matança de crianças
inocentes.
Crianças
mortas não são as únicas vítimas de aborto. Aqueles que tomam e
executam a decisão de tirar vida inocente (mães, amigos e membros da
família, namorados, médicos, etc.) sofrem muito tempo depois que o ato é
praticado. Primeiro, têm que enfrentar o sofrimento espiritual de
saber, apesar de todas as racionalizações e justificações, que o que
fizeram era errado. Somente o arrependimento genuíno e submissão a Deus
pode curar o dano espiritual feito em um aborto. Segundo, o aborto quase
sempre causa problemas emocionais duradouros na vida daqueles que se
envolveram, especialmente a mãe que nunca esquece da criança que ela
resolveu matar. A pesquisa tem mostrado que os abortos freqüentemente
causam problemas psicológicos severos, tanto imediatos como duradouros.4
O perdão é possível?
O
trauma após o aborto é freqüentemente tão severo que a mulher ou seus
cúmplices sentem-se imperdoáveis. É óbvio que não podemos desfazer os
erros do passado. Mas o remorso que sentimos pelos pecados passados não
precisa destruir o futuro. Não podemos ignorar o que fizemos ou
simplesmente esquecê-lo. Precisamos voltar-nos para Deus e resolver o
problema com seu auxílio: "Porque a tristeza segundo Deus produz
arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza
do mundo produz morte" (2 Coríntios 7:10). Deus quer
perdoar. Precisamos querer voltar humildemente para ele para receber
perdão de acordo com os termos que ele determinou. Nosso alívio pode ser
encontrado no mesmo lugar em que Paulo encontrou perdão depois de levar
inocentes cristãos à morte: "Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor" (Romanos 7:24-25).
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