O perigo da secularização do cristianismo
A palavra “secularização” vem do latimsaeculus (século), e contrasta o agora com a era vindoura. A secularização, portanto, é a filosofia de vida que prioriza o agora em detrimento do que é eterno. A secularização é o movimento crescente de anulação do que é sagrado, destinado à glória de Deus, substituindo pelo secular o que é mais interessante agora.
A secularização é um processo de mundanização, transformando aquilo que é urgente, a busca a Deus, em coisa sem importância. Importante agora é curtir a vida e se divertir. A secularização nos faz contentar com as alternativas da era presente, sem nos importar com as promessas de satisfação e gozo futuros. A secularização tem atingido o cristianismo atual, conforme a descrição que se segue.
A Bíblia, mediante a secularização, se torna um livro irrelevante, não lido, não praticado e alvo de descrédito. A secularização faz com que a Bíblia receba a mesma classificação de um outro livro qualquer, limitando a noção de sua inspiração divina, ou até mesmo suprimindo-a. Na secularização, a Bíblia recebe críticas desconstrucionistas, as quais buscam minimizar a força dos relatos das obras de Deus, pondo os milagres em descrédito. A era presente ganha força como referencial para interpretação dos relatos bíblicos. Por exemplo, se hoje não vemos pessoas andando por sobre as águas, então a narrativa de Jesus andando por sobre as águas é apenas uma estória mitológica, uma lenda imaginária. No processo de secularização, as pessoas preferem dar crédito a pressuposições naturalistas (evolucionismo) a crer na veracidade dos relatos bíblicos sobre a criação do mundo.
A ética secularista também não refletirá o padrão revelado na Escritura Sagrada. Se a Bíblia não é referencial seguro dentro do sistema secularizado, também os mandamentos bíblicos ficam completamente sem relevância. Mandamentos bíblicos que claramente tratam do mundanismo, da busca pela satisfação carnal, através de festas mundanas, do sexo livre, do consumismo, da literatura pornográfica, de programas de televisão e de filmes que não trazem edificação, através de sites da Internet impróprios, se tornam sem importância e desprezados. A ética secularista ensina a fazer o que dá vontade. Se você deseja, então é legítimo. A Bíblia não ensina assim. A Bíblia diz que “todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convém” (1Co 6.12). Também diz que a amizade do mundo é inimizade contra Deus (Tg 4.4), e que quem ama ao mundo não provou do amor do Pai Celeste (1Jo 2.15). Jesus disse: “aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14.21).
Se a secularização se recusa a ouvir os mandamentos de Deus e os julga irrelevantes, logo, o comportamento das pessoas secularizadas refletirá um padrão que não provém da Bíblia. Um indivíduo secularizado não se importa de falar palavrões e de contar piadas indecentes. Uma pessoa secularizada não se importa em usar roupas com decotes escandalosos, exibindo partes do corpo que incitam a sensualidade. Também a secularização semeia a descrença, fazendo com que as pessoas vivam como se Deus nem existisse, como se ele não estivesse ao nosso lado contemplando os maus e os bons. Por esta razão, o juízo de Deus é completamente ignorado e o temor de Deus inexistente. O secularizado dá golpes no mercado, faz negócios ilícitos, sonega impostos, deixa de devolver o dízimo porque o empregou em coisas do aqui e do agora, para satisfazer o desejo de ter. O homem secularizado olha de modo inconveniente para a mulher do seu próximo, a mulher secularizada se deixa levar pelo devaneio de um coração carregado de paixões mundanas. A secularização faz com que uma pessoa troque sem vexames o santo culto a Deus pelo estádio de futebol ou outro entretenimento qualquer, em clara violação do quarto mandamento, de guardar o dia do Senhor. Não somente isso, mas até mesmo trabalhos semanais da igreja deixam de ser motivo do interesse do secularista em troca de outros cuja relevância é duvidosa e até mesmo reprovável. Em resumo, trocar um trabalho da igreja por momentos de diversão sejam lá quais forem, é fazer uma opção clara por coisas do aqui e do agora em detrimento daquelas que são relevantes aos olhos de Deus.
A adoração no ambiente secularizado se torna pretexto para entretenimento e promoção pessoal. A secularização admite coisas no culto que a Bíblia não recomenda e muitas vezes até condena claramente. Um culto secularizado admite a dança sensual, a performance artística, as palmas para Jesus, a falta de ordem e decência, a irreverência, as mensagens que não brotam de interpretação fiel das Escrituras, o som ensurdecedor, músicas com letras em desacordo com o ensino da Palavra de Deus, o ecumenismo e o sensacionalismo mediante promoção de fenômenos espetaculares.
A secularização elimina por completo qualquer envolvimento com a evangelização, visto que as pessoas secularizadas só pensam no agora e não em ser instrumentos de Deus para a salvação dos perdidos. A secularização faz com que as pessoas não tenham tempo para evangelização. Elas só pensam nelas. Não se preocupam em compartilhar a mensagem do evangelho, porque, afinal, “para quê falar de vida eterna se o que me importa é o agora?” Um dia no shopping se torna muito mais atraente do que uma tarde na rua evangelizando as pessoas ou distribuindo folhetos. As programações de socialização acabam ganhando preferência em relação a eventos evangelísticos. Os secularistas nunca contribuem com missões, mas sempre investem muito dinheiro em coisas supérfluas e sem urgência (carro, casa, jóias, roupas, etc.). Conseqüentemente, as igrejas secularizadas mínguam a cada ano e acabam fechando as portas, se não passarem o resto da história engatinhando espiritualmente.
A secularização, por fim, sepulta a comunhão da igreja no cemitério da indiferença e da insensibilidade. As pessoas secularizadas não ligam mais umas para as outras. Aliás, demonstram alguma preocupação na hora de falar mal. Então elas não se preocupam umas com as outras no bom sentido da expressão, mas se ocupam em maldizer e a tecer comentários maldosos. A comunhão morre dentro da secularização porque as pessoas perdem a visão do significado da igreja como corpo de Cristo. Se esquecem que possuem a vida eterna em comum, como o sangue que irriga todo o corpo. O sacrifício de Jesus une as partes individuais tornando-as uma só alma, indivisível. Mas o secularista insiste em semear divisão e facção dentro da igreja, porque não se lembra mais que a herança celestial e a eternidade serão dados ao povo de Deus, que será um só rebanho de um só pastor.
Talvez você esteja lendo isto preocupado por ter se enquadrado nas descrições daqueles que são afetados pela secularização. Isto não deve desanimá-lo. Lembre-se que todos nós estamos inseridos numa sociedade altamente secularizada. É normal que a secularização nos atinja de alguma forma. Agora, o que não pode acontecer é uma acomodação ao sistema. “Não vos conformeis com este século”, disse Paulo em Romanos 12.2. Não devemos tomar a forma do mundo, vivendo só para o agora, deixando de lado a visão da eternidade, que é o que realmente importa. Temos é que renovar a nossa mente com as coisas de Deus, manifestadas na sua Palavra. Temos que revigorar nossa fé a cada dia com o alimento da esperança: a Bíblia. Não podemos abrir espaço para que nossa visão contemple somente as coisas ilusórias do presente século. Do contrário, seremos como Demas, o qual, “tendo amado o presente século” (2Tm 4.10), abandonou a Cristo, e a Paulo, e foi cuidar dos seus próprios interesses na cidade de Tessalônica.
Querido leitor, esta é a razão porque muitos têm abandonado a igreja hoje e corrido atrás de satisfação nas coisas do mundo: não conseguem mais crer e olhar para a eternidade que nos aguarda. Só têm diante de si a ilusão do presente. Esqueceram-se de que fomos criados neste mundo para glorificar a Deus e gozá-lo para sempre. Em contrapartida, tentam em vão satisfazer sua alma com as coisas do aqui e do agora. Que Deus tenha misericórdia de nós e nos dê visão nítida e constante da eternidade. Que ele nos livre dos perigos da secularização, a fim de que não sejamos como o cavalo ou a mula, sem entendimento, mas que tenhamos nossa mente constantemente esclarecida pela palavra do Senhor, a qual vive e é permanente. Amém
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